Promotor confirma atuação de facções criminosas no TO e diz que MPE investiga

Além de ataques a ônibus, fim de semana também foi marcado por princípio de tumulto em presídios da capital.

Ataques em Palmas
Descrição: Ataques em Palmas Crédito: Reprodução

Os ataques aos ônibus de transporte coletivo no fim de semana em Palmas renderam boatos pelas redes sociais. Chegou-se a falar que uma delegacia de Palmas havia sido incendiada, que um terceiro ônibus teria sido incendiado neste domingo e que havia rebelião em presídios.

 

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) disse que não há registro de delegacia incendiada, assim como a Polícia Militar não confirmou a informação de um terceiro ônibus queimado. A informação de rebelião também foi negada, sendo confirmado apenas um princípio de tumulto entre os presos, em Araguaína.

 

Comando Vermelho

Após a reprodução de uma carta assinada pelo Comando Vermelho, assumindo a autoria dos ataques em Palmas, os boatos aumentaram e causou preocupação. A facção criminosa atua em presídios de vários estados brasileiros.

 

Procurado pelo T1 Notícias, o Ministério Público do Estado (MPE) disse que não iria se pronunciar sobre o assunto. Mas em 2013, o promotor de justiça Benedito Guedes, do MPE de Araguaína, confirmou ao T1 que a facção estava atuando no Tocantins.

 

Em entrevista ao Portal nesta segunda-feira, 2, o promotor que responde atualmente pela 3ª Promotoria de Araguaína, Paulo Alexandre Rodrigues, disse que a investigação tem corrido, mas que não poderia dar detalhes por questão de segurança dos membros investigadores.

 

De acordo com ele, existem quatro ou cinco facções criminosas atuando no presídio Barra da Grota, em Araguaína, e várias pessoas já foram denunciadas e estão sendo investigadas. “Dentre elas o Comando Vermelho, PCC, Bonde dos 12, amplamente funcionando, infelizmente. Tentamos coibir, mas existem muitos agentes penitenciários da Unidade que se deixam corromper”, afirmou.

 

De acordo com o promotor, já foram solicitados aparelhos de identificação de metais ao Estado. “O Estado empurra os presídios com a barriga e isso não é só dessa gestão, mas de todas as anteriores. Para que isso mude, é preciso construir novos presídios. Essas facções existem, nós sabemos quem são os líderes, estamos investigando”, disse. Segundo ele, no caso de Araguaína, muitos ataques dessas facções são frustrados porque existe um serviço de inteligência atuando.

 

Muitos presos julgados do Estado vão para o Barra da Grota, de acordo com Alexandre. “Aqui há presos perigosos, que atuaram em outros estados. Enquanto isso, pessoas de bem estão morrendo”, lamentou.

 

O promotor disse acreditar que há a atuação de facções também na CPP de Palmas.

 

Princípio de tumulto em presídio

Não houve nenhuma rebelião nos presídios do Estado no fim de semana, mas de acordo com a Secretaria de Defesa Social (Seds), no presídio Barra da Grota, em Araguaína, houve uma tentativa de fuga de cinco reeducandos na madrugada de sábado para domingo. Os reeducandos serraram a grade da cela e fizeram uma “teresa” (corda feita com lençóis), mas foram frustrados pelos agentes antes de chegaram à cerca do presídio.

 

Em Porto Nacional houve um principio de tumulto no domingo, 1º, entre os reeducandos, com tentativa de assassinato de um deles. A ação também foi prontamente contida pelos agentes penitenciários.

 

Houve ainda uma tentativa de lançamento de drogas e celulares para dentro da Casa de Prisão Provisória (CPP) de Palmas, neste fim de semana. Policiais civis flagraram a ação e impediram que os objetos entrassem no presídio.  

 

Amastha oferece salário como recompensa

O prefeito de Palmas, Carlos Amastha, comentou os atentados aos ônibus por meio de rede social e decidiu oferecer seu salário como recompensa para quem tiver informações que levem aos autores dos ataques. “Os 15.000 reais líquidos do meu salário de fevereiro, estão de recompensa para quem nos leve ao responsável dos atentados. Ligue 190. Colabore”, escreveu o prefeito em seu perfil no Twitter.

 

Amastha convidou os policiais civis para ajudar na segurança, conforme postado por ele: “Estamos pedindo para que todos os policiais civis nos acompanhem na segurança ao patrimônio e a vida dos palmenses. Obrigado @SinpolTO”.

 

Segundo o prefeito, o presidente do Sinpol-TO, Moisemar Marinho, aceitou convite para andar de ônibus nesta segunda-feira, 2.

 

Efetivo da PM em operação

O Comando Geral da Polícia Militar informou que haverá policiais acompanhando os ônibus na capital, colocando os policiais do administrativo à disposição. De acordo com a PM, policiais caracterizados e descaracterizados irão acompanhar os ônibus, sendo que o policiamento será reforçado em pontos estratégicos.

 

Bloqueios nas principais entradas da cidade também serão feitos e os comandos do interior do Estado estão em alerta.

 

Sinpol aciona justiça por acusações e mantém greve

Em entrevista ao T1 Notícias neste domingo, o presidente do Sindicato dos Policias Civis do Tocantins (Sinpol), Moisemar Marinho, confirmou que a greve será mantida. O Comando de Greve afirmou que aguarda um posicionamento do Governo para as negociações e que nenhum serviço suspenso será retomado sem que haja um acordo.

 

Apontando acusações de terceiros de que a Polícia Civil teria envolvimento com os atentados, o sindicato disse por meio de nota que “repudia qualquer ligação com os atentados a ônibus urbanos que ocorreram em Palmas e garante que vai interpelar judicialmente quem fizer falsas acusações ou insinuações aos policiais civis”.

 

Procurado pelo T1 Notícias, o procurador-geral do Estado, Sérgio do Vale, disse que a Procuradoria, por enquanto, não irá se manifestar em torno da legalidade da greve.

Série de ataques em Palmas

O primeiro ataque a ônibus ocorreu na madrugada de sexta para sábado, 28, na região das Arnos, quando um homem armado pediu para que o motorista e a passageira descessem e, em seguida, ateou fogo depois de jogar gasolina no veículo. Durante a ação, outros homens apareceram para ajudar o comparsa, mas todos fugiram e não foram identificados.

 

O segundo atentado foi na noite de sábado, por volta das 22h30, no Jardim Aureny IV, quando os bandidos dispararam contra o ônibus, supostamente na tentativa de forçar a parada do veículo, mas o motorista prosseguiu viagem. Com a frustração do crime, os autores abordaram outro ônibus, também na região do Aureny IV, ordenaram que o motorista e os passageiros desembarcassem, jogaram gasolina e atearam fogo.

 

Há informações não confirmadas de que o motorista do ônibus queimado no Aureny IV recebeu uma carta assinada pela facção “Comando Vermelho”. A carta diz que os ataques são decorrentes da insatisfação de detentos dos presídios do Tocantins com a suspensão de direitos, como visitas de familiares, que não estão ocorrendo devido à greve da Polícia Civil, deflagrada na última quarta-feira, 25. Outra reclamação é quanto à superlotação dos presídios.

 

A carta do Comando Vermelho traz ameaças de novos ataques caso o direito de visita não seja restabelecido nos presídios.

 

Nota à imprensa - SSP

Com relação aos episódios de violência, que ocorreram no último final de semana, em Palmas, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) acredita que tais atos tenham partido de pessoas ligadas a facções criminosas, que se aproveitaram do momento para disseminar um clima de medo e terror na população. Todavia, equipes da Diretoria de Inteligência, tanto da Secretaria da Segurança Pública, quanto do Sistema Carcerário já estão mobilizadas a fim de avaliar os episódios, identificar a origem do comando e localizar os responsáveis.

 

No âmbito da Polícia Civil, a SSP está buscando manter o funcionamento de todas as unidades policiais nos períodos de expediente e plantões, de modo a assegurar a manutenção dos serviços essenciais à população, levando em conta as dificuldades geradas pela greve dos policiais civis.

 

(Atualizada às 16h12 com inserção de nota da SSP)

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