Bebês aguardam cirurgia no Dona Regina por falta de material: Sesau justifica

Cirurgiões pediatras que foram determinados a realizar as cirurgias solicitaram materiais necessários para os procedimentos, mas produtos ainda não foram concedidos pela Sesau.

Médicos estão na unidade, mas falta material
Descrição: Médicos estão na unidade, mas falta material Crédito: Bonifácio/T1Noticias

Dois dos seis bebês que deveriam ser operados no Hospital Maternidade Dona Regina, após determinação judicial e Portaria da Secretaria da Saúde (Sesau), ainda não passaram pelos procedimentos devido à falta de fios cirúrgicos e grampeadores.

 

No total, são três recém-nascidos de responsabilidade dos cirurgiões pediatras, sendo que um não pode ser operado ainda por causa do estado clínico e precisa de uma transferência para um centro, com uma equipe multidisciplinar. Segundo a Secretaria da Saúde (Sesau), dois dos seis bebês já passaram por procedimento neurológicos, três não receberam autorização para a realização das cirurgias por causa do estado clínico e um precisa passar por cirurgia que só é feita fora do Estado.

 

Os dois bebês que aguardam cirurgia pediátrica tem um quadro de obstrução intestinal, ou seja, nasceram sem um pedaço do intestino e necessitam de cirurgia para correção. De acordo com o médico cirurgião pediatra Renato Pereira, os exames pré-operatórios já foram feitos. “Para termos certeza de qual pedaço mesmo está faltando, só mesmo na cirurgia. E, por isso, temos que ter todo o material à mão, porque tanto pode ser um pedaço menor ou maior”, explicou o médico.

 

Conforme explicado pelo dr. Renato, os materiais que faltam são “vários tipos de fios com as agulhas com tamanho pequeno, uma estrutura que é um colchão de ar que aquece a criança e a escala de instrumentação, que segundo nos foi informado, será providenciado de imediato com a chegada do material”.

 

De acordo com a cirurgiã pediatra Lúcia Caetano, um dos bebês apresenta 1,3 Kg. “Nesses casos mantemos a nutrição parenteral até que eles cheguem ao peso mínimo adequado de segurança. Ontem o bebê chegou próximo ao peso ideal. A partir desse tempo, você não pode prolongar essa nutrição, então temos que fazer o procedimento cirúrgico e iniciar a tentativa de alimentação via oral, o que nem sempre conseguimos imediatamente”, explicou.

 

Falta de materiais e solicitação à Sesau

Renato Pereira explicou a confusão gerada em torno de duas listas que teriam sido entregues à Sesau solicitando material. Segundo os médicos, a lista não foi modificada. De acordo com ele, a lista de materiais que faltavam para a realização dos procedimentos de dois bebês foi entregue na ultima segunda-feira, 23.

 

O que ocorreu foi que na madrugada desta quarta-feira, 25, a drª. Lúcia solicitou outro material, acrescentando o pedido, mas foi para a realização de um procedimento na UTI, já que os médicos continuam dando assistência aos bebês que já foram operados.

 

“E essa lista não é uma lista que foi criada agora, nós criamos uma padronização, que desde então anualmente é entregue e eles. O Dr. Renato já comunicou que esse material não é de compra imediata, como é um material especializado. Fio em crianças tem tamanhos diferentes, e agulhas, e isso não é adquirido da noite para o dia. Teria que ter no Hospital porque não tem hora nem dia para nascer uma criança com anomalia congênita”, explicou Lúcia Caetano.

 

O pai de um dos bebês, Murilo Mascarenhas, disse que passa por dificuldades e espera que o Estado resolva a situação. “Eles disseram que era falta de médicos, sendo que era falta de material cirúrgico que não estava tendo. Que isso seja resolvido, que o Estado olhe para a saúde, porque isso é um descaso”, disse o pai da criança que teve filhas gêmeas e as duas estão internadas.

 

Sesau responde

Acionada pelo T1 Notícias ainda na noite de ontem, terça-feira, 25, a Secretaria da Saúde, por meio da Secretaria de Comunicação Social (Secom), disse que o material solicitado por Renato Pereira foi providenciado, mas que a pasta foi surpreendida com a segunda lista demandada por Lúcia Caetano.

 

Confira a nota na íntegra:

A Secretaria Estadual de Saúde informa que disponibilizou profissionais e material necessário para atender decisão da justiça e realizar os procedimentos cirúrgicos nas crianças recém nascidas. Porém, a secretaria foi surpreendida com nova demanda dos médicos para realizar a cirurgia. Todos os esforços estão sendo feitos para adquirir o material solicitado e dar a devida assistência aos bebês.

 

O problema

O cirurgião pediatra Renato Pereira explicou ao T1 que foi feita uma escala para o mês de março conforme a carga-horária, de acordo com a Secretaria e em dias alternados, sem repetição de plantões pela mesma pessoa, e a distribuição terminou às 7h do ultimo dia 17.

 

Nesses 17 dias, segundo o médico, houve dias que não teve cirurgião, mas por falta de pessoal. “Todas as crianças que tinham condições de serem operadas e que havia material e condições do centro cirúrgico para fazê-las, elas foram operadas. As filhas dos pais que estão aqui não tiveram condições de ser operadas ou não teve o material para operar, além da estrutura, o que foi relatado às diretorias”, afirmou.

 

Os médicos estão trabalhando como voluntários no Hospital e Maternidade Dona Regina e fazem uma escala interna para dar assistência aos bebês que aguardam as cirurgias. “Como demandado pela Portaria, nós viemos e constatamos que falta o material para fazer”, disse o médico que explicou ainda que não se sabe qual médico vai realizar o procedimento porque vai depender do dia e do horário, “mas sempre vai ter um ou dois de nós para fazer a cirurgia”.

 

Demissão

“Por dez anos a doutora Lúcia e o doutor Renato carregaram as cirurgias pediátricas nas costas. E agora que nós somos quatro, que conseguiram que viéssemos pra cá, o Estado nos trata como criminosos? Infelizmente se continuar assim vamos ter que ir embora”, informou o cirurgião Osvaldo Rebelo Neto, que disse já ter informado sua demissão caso o tratamento da Sesau com os médicos continue do mesmo jeito.

 

Apenas quatro médicos cirurgiões pediatras trabalham no Tocantins para atender toda a demanda da rede estadual atualmente: Lúcia Caetano Pereira, Renato Pereira da Rocha, Maria Fernanda Coelho de Melo e Osvaldo Rebelo Neto, sendo que os dois últimos chegaram ao Estado há cerca de dois anos.

 

Todos eles tiveram os nomes citados na Portaria emitida pela Sesau no ultimo domingo, que determinava que os médicos deveriam operar os bebês, sob pena de serem responsabilizados civil e criminalmente. Os médicos não estão mais realizando os plantões extras, por causa da incorporação do pagamento dos plantões aos salários, o que impede que esses plantões sejam recebidos em sua totalidade por causa do teto salarial.

 

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