BR-010, um sonho que precisa ser realizado

Hoje a obra, na nova rota, encontra-se paralisada nos Estados do Tocantins, Goiás e Maranhão...

Trecho da BR 010
Descrição: Trecho da BR 010 Crédito: Foto: Da Web

Venho aqui para expressar o desejo, meu e de milhares de pessoas, pela conclusão da importante rodovia BR-010. Estrada que pode ser considerada a verdadeira Belém-Brasília, pois começa no Distrito Federal e finaliza na capital paraense, passando por Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará. Uma rodovia federal radial do Brasil e, conforme a Wikipédia tem uma extensão de 1.959 km. A BR-010 fez parte do plano de Juscelino Kubitschek que pretendia desenvolver o Brasil realizando 50 anos de progresso em 5 anos de governo, mas com a BR-010 a meta de JK não foi cumprida, ou melhor, foi mais “comprida” que 50 anos. Apesar do novo traçado, dados mostram que no início de sua construção a rodovia partia de Anápolis (GO) para Belém, e algumas informações constam que a mesma era chamada de BR-014...!

 

Hoje a obra, na nova rota, encontra-se paralisada nos Estados do Tocantins, Goiás e Maranhão. No Estado do Tocantins, o município de Paranã é a porta de entrada e Goiatins, a de saída, da rodovia. No Tocantins a BR-010, dá acesso às rotas que levam ao Jalapão. No percurso entre Brasília e Palmas, a BR-010 é complementada pelas rodovias GO - 118 e TO - 050, já que a federal entre Teresina de Goiás e Paranã (TO) ainda não chegou a ser construído. O trecho que liga Silvanópolis (TO) à Capital do Tocantins ainda não foi completamente pavimentado, com a exceção dos trechos concomitantes com a TO -050.  A BR-010 possui diversos outros pontos sem pavimentação e até sem nenhuma abertura, principalmente no Tocantins. Nesse Estado, os únicos pontos que possuem um trânsito relativo de veículos são os trechos entre o povoado do Príncipe (em Natividade) e Silvanópolis, e o trecho entre o km 402 ao entroncamento da TO-020, em Palmas, via TO-050. Os demais trechos são muito pouco utilizados, mesmo os que possuem asfalto por não ter uma continuidade dos segmentos.

 

O trecho compreendido entre Aparecida do Rio Negro e Goiatins, numa extensão de mais ou menos 310 km, tinha suas obras de pavimentação executadas por um convênio entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes DNIT e o governo tocantinense. Após indícios de irregularidades encontrados por órgãos fiscalizadores como TCU e Ministério Público Federal (MPF), foram paralisadas em 2007. Após a paralisação, em abril de 2012, idealizamos um abaixo-assinado na cidade de Rio Sono, apoiado por autoridades, professores, alunos e a população local. Com isso, visávamos cobrar o reinício da obra. O documento foi entregue ao  então superintendente do DNIT-TO, sendo que a partir daí foi aberto diálogo com o devido órgão que resultou em melhorias nos trechos da rodovia dentro do Estado do Tocantins, além de iniciativas para viabilizar o reinício da obra. Em janeiro de 2013, o movimento foi fortalecido e denominado de “Movimento Pró-BR-010”. Depois dessa reorganização, foram dezenas de reuniões e outras iniciativas, como: adesivos para veículos, banners, faixas, requerimentos e visitas à bancada federal do Tocantins em Brasília, sempre com o objetivo de convencer autoridades pelo reinício da construção da BR.

 

Nessa luta, tivemos a sensação de que as promessas do executivo estadual e federal e do legislativo referente à construção da estrada fossem resultar no retorno dos trabalhos de pavimentação. Mas após esse longo período, no final de 2016, nada do prometido foi concretizado. Tínhamos a promessa da maioria da bancada federal do Tocantins de que seria colocada no Orçamento Geral da União de 2017, emenda de bancada para custear ao menos o reinício da obra entre Aparecida e Goiatins, promessa não concretizada. Outra garantia, desta vez do Dnit local, que a estrada estava incluída no PAC III; o que seria uma segurança para a realização do empreendimento, mas isso se tornou mais um pesadelo. Pois no momento, nem mais sabemos o que virou o PAC, e se alguém souber, pedimos que nos contem. Projetos de engenharia e de autorização da obra, segundo o mesmo Dnit, estariam sendo trabalhados, mas são coisas de que também nos faltam novas informações.

 

Na parte tocantinense, a BR-010 passa pela margem direita do rio Tocantins, região ainda de poucas vias pavimentadas, mesmo sendo por onde se iniciou a povoação do norte goiano, hoje Tocantins. Justamente onde está o berço da cultura e tradições tocantinenses como as cidades de Arraias, Natividade e Porto Nacional, entre outras. A 010 pode oferecer a todas as regiões dessa margem, o mesmo que a BR-153 ofereceu aos municípios e população do lado esquerdo do mesmo rio Tocantins, desenvolvimento e dignidade, também problemas, é claro, mas entendemos que estes são menores que os benefícios. Por falta de uma estrada de qualidade a direita do importante rio tocantinense, são inúmeros os óbitos e até nascimentos de crianças enquanto se transporta pacientes rumo ao socorro e tratamentos.

 

Além da BR-153 a margem esquerda do rio Tocantins conta com a ferrovia Norte-Sul e tem todas as cidades da região ligadas por estradas pavimentadas, o que falta ao outro lado. Numa recente tragédia em Santa Maria do Tocantins no dia 1º de novembro de 2016, com morte de 10 pessoas e alguns feridos por soterramento em uma gruta, durante celebração do dia Todos os Santos, populares garantiram que o socorro teria sido mais rápido, caso a BR-010 que passa nas imediações fosse asfaltado. Para nós, da margem desprestigiada do Estado, temos por enquanto o sonho de um melhor acesso para salvar vidas, escoar produção, chegar aos locais turísticos como o Jalapão, ir às cidades históricas e ter o desenvolvimento das localidades da região.

 

Mediante análise do Movimento Pró-BR-010, a estrada permitirá o barateamento da produção agrícola local, e das mercadorias industrializadas, vindas das diversas partes do País para as regiões sudeste, leste e nordeste do Tocantins. Sua construção deverá desafogar o trânsito da BR-153 em até 30% e ajudará no abastecimento dos modais da futura Hidrovia do Rio Tocantins e da já existente Ferrovia Norte-Sul. Dará melhor acesso e oportunidades a outras cidades da sua margem, como Aparecida do Rio Negro, Barra do Ouro, Chapada da Natividade, Goiatins, Itacajá, Paranã, Pedro Afonso, Rio Sono, Santa Maria, Santa Rosa, Silvanópolis e a própria Capital Palmas, que juntas têm uma população de mais ou menos 396.184 habitantes e um PIB superior a R$ 5 milhões. Diante de tudo isso, questionamos o pouco interesse das autoridades políticas pela construção da importante e urgente BR-010.

 

Palmas quando foi proposta para a margem esquerda do rio Tocantins, segundo seus criadores, tinha o objetivo de desenvolver o lado esquecido do Estado. Mesmo tendo colaborado com essa meta, muito ainda tem que melhorar, e isso pode ser infinitamente resolvido com a implantação definitiva da BR-010. Ao saber da falta de emenda no orçamento de 2017, o movimento planeja para o início deste ano realizar outro abaixo-assinado, envolver prefeitos, vereadores e populares e fechar por um dia algum trechos da BR-010 onde existe trânsito, além de retornar à Brasília para novamente tentar recursos para a estrada.

 

Nessa história da BR-010, falta um esclarecimento: por que na época do seu início durante o Governo de JK, segundo alguns textos, ela se tratava do trecho da hoje BR-153 que compreende de Anápolis (GO) a Belém? Hoje a BR-010 de Brasília à capital paranse tem uma rota totalmente diferente da sua origem, bem como contado no início deste artigo. Sabe-se que rodovias federais com início zero começam no Distrito Federal, e estaduais, nas capitais dos estados, chamadas de estradas radiais. É curioso que, em uma segunda explicação, o Wikipédia afirma que a denominação Belém-Brasília pertence também a vários trechos de outras estradas federais. Tem alguma coisa a ser elucidada nessa história. - Ironia à parte, deve ser por essa razão que nunca terminam de construir a BR-010, talvez por não saber onde realizar a obra...!

 

 

Elpídio Ferreira Lopes é filho de Rio Sono – TO, jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás, repórter do site da Assembleia Legislativa do Estado do Tocantins, e um dos fundadores e coordenadores do Movimento Pró-BR-010.

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