Do sentido humano

Nesse ano de 2015 tive muitas oportunidades de perceber como no final das contas a única que fica é a nossa imensa necessidade da presença humana. Precisamos nos sentir humanos. Mesmo que sejamos cercados de soluções tecnológicas e digitais avançadíssimas, ainda assim, é de um abraço que mais temos necessidade. Talvez seja, sobretudo, por causa de nossas parafernálias tecnológicas que mais nos sentimos sozinhos e sozinhas.

 

Além disso, quando chega o final do ano, a gente tem aquela sensação de que precisamos fazer um balanço de nossa vida. Nesse balancete poderíamos ver, por exemplo, as vezes que deixamos de abraçar uma pessoa que amamos tanto. Poderíamos pensar nas oportunidades que tivemos de dizer EU TE AMO e não dissemos. Dizendo assim, parece até clichê, mas o fato é que a nossa carência afetiva é do tamanho de nossa dimensão humana.

 

Nos tempos de pessoas cibernéticas, de sentimentos instantâneos de redes sociais, merecemos as palavras faladas ao ouvido. Merecemos um cheiro demorado. Merecemos as palavras de gentileza. Não acredito que a suavidade de um toque carinhoso no rosto de quem amamos tanto seja algo que possa ser feito por mensagens de celular. Temos sede de humanidade.

 

Nosso ano não termina bem, é fato. Aqui em terras tocantinas nem os proventos dos trabalhadores foi pago, como de direito. Ainda temos as chagas de nossa política nacional dizimando nossas esperanças. Ainda assim, talvez fosse o tempo de aceitar que somos humanos, e de coisas humanas somos necessitados e necessitadas. Não defendo crenças religiosas, defendo um aperto de mão, um beijo, um abraço. Não defendo natais nem consumos, defendo a presença como presente. Almoçar juntos, relevar as arestas dos parentes, sorrir e chorar, e ir de tudo. Defendo que temos defeitos e precisamos tanto ser aceitos, precisamos tanto que alguém nos abrace, que alguém nos olhe dentro dos olhos.

 

Se a gente puder, por um momento que seja, desligar os aparelhos que nos faz tão pilhados, desligar as lâmpadas, acender uma lamparina, uma vela, e contar histórias talvez a gente sinta vontade de voltar a ser mais humano. Um jantar à meia luz, um namoro com luz de velas, histórias dos mais velhos. Ainda dá tempo de a gente ser mais humano. Ainda dá tempo de a gente prestar mais atenção no rosto de quem amamos ao invés de forçar um sorriso falso numa foto de rede social.

 

Precisamos ter nosso coração acelerado pelo abraço dado. As intrigas sempre se desfazem quando aceitamos que os defeitos que temos nunca são maiores que nossa necessidade de carinho. Ficar um tempo em silêncio, aconchegado no abraço da mamãe, do papai, dos filhos, dos avós, dos amigos, do namorado, da namorada, da esposa e do esposo. Um abraço longo, silencioso, apertado, imenso. Isso pode ser pouca coisa, é fato, mas pode nos fazer mais humanos. O abraço nos humaniza, o abraço nos eterniza.

 

Há em nós um sentido humano que temos de nutrir. Um sentido humano que não pode ser substituído por nada. Nada que possamos ter, nada que possamos crer, nada que possamos ser pode substituir nosso sentido humano. O nosso sentido humano se mostra mais evidente quando recebemos carinho, quando aquele beijo da pessoa amada nos eleva a alma. É no abraço que aprendemos que somos humanos. Os abraços, ah, os abraços!

 

Adriano Castorino é professor da Universidade Federal do Tocantins, doutor em Ciências Sociais/Antropologia.

 

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