Após diagnósticos errados e espera por UTI, menino com meningite morre no HRA

O adolescente de 13 anos foi diagnosticado com virose e depois com suspeita de apendicite. No HRA descobriram a meningite. No HDT o adolescente piorou e foi levado para a UTI do HRA, onde faleceu...

Asafe recebeu dois diagnósticos errados
Descrição: Asafe recebeu dois diagnósticos errados Crédito: Arquivo de família

Um menino de 13 anos, Micael Asafe Pinto dos Santos, faleceu após receber dois diagnósticos errados na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Setor Araguaína Sul. Primeiro ele foi diagnosticado com uma virose, depois com apendicite e só no Hospital Regional de Araguaína (HRA), já sem os movimentos das pernas, foi descoberto que o menino estava com meningite bacteriana, conforme afirma o pai, o empreiteiro Sidney Barbosa dos Santos.

Num relato detalhado e comovente, o pai contou ao Portal T1 Notícias os últimos dias de vida do filho e disse que vai correr atrás de descobrir “os vazios nessa história, como o porquê dos diagnósticos errados e a demora pelo leito na UTI”, disse.

Segundo o pai, Asafe estava há quatro dias em casa sentindo febre, mal estar e muita dor de cabeça. “Achávamos que era uma virose, como não passava levamos para a UPA. Lá, com muita dificuldade fomos atendidos e, quando conseguimos, a médica pediu exame de fezes e urina, que não apontaram nada. Ela diagnosticou que era uma virose, ele ficou duas horas internado e fomos embora. Ela [a médica] mandou tomar muita água e ter repouso”, contou.

Os dias em casa foram agonizantes, segundo relatou Sidney Barbosa. “Foi um descanso com preocupação. Desde que veio da UPA ele ficou impaciente. Sentindo febre todos os dias. Com três dias, quase quatro, levamos ele de volta para a UPA”. Segundo o pai, Asafe havia perdido 50% dos movimentos das pernas. “Ele chegou [a UPA] sem os movimentos da perna direita, com febre e dor. Ele chegou 10 horas da manhã e fomos atendidos por volta das 4 horas da tarde”, disse.

O menino, segundo o pai, ficou sentado numa cadeira à espera de atendimento, sendo que em alguns momentos o menino sentava no colo do pai. “Meu filho de 13 anos, que é quase do meu tamanho, ficou sentado no meu colo porque não aguentava tanta dor”, disse o pai que se refre ao filho ainda no presente. Quando foram chamados para a triagem, o pai levou o adolescente no colo e, ao ver o estado do paciente, que não conseguiu ficar em pé na balança, a enfermeira o encaminhou para a sala vermelha da UPA.

“Tentaram tirar o sangue três vezes. Foi muito sofrimento para eu ver aquilo”, contou Sidney sobre os procedimentos na sala. “O médico veio e começou a apalpar a barriga do meu filho. Encaminhou o menino para o Regional porque disse que acreditava ser apendicite. Ele disse: vou encaminhar para um exame mais detalhado e já levar para a cirurgia”.

O adolescente foi levado para o HRA. Lá o pai disse que um amigo da família, que é dentista, viu Asafe e disse que o menino poderia estar com meningite. “Na mesma hora ele [o dentista] chamou os médicos e quando eles olharam o prontuário até riram”, contou o pai.

De acordo com o pai, com três horas e meia veio o diagnóstico de que era realmente meningite. O pai disse que o filho foi isolado em um local mais afastado e depois foi feito o encaminhamento para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT). Com dois dias veio outro diagnóstico, segundo o pai, de que o adolescente não estava com o tipo contagioso da doença. “Ele já foi colocado com outros pacientes”, disse.

O adolescente foi receitado e segundo o pai, já estava melhor. Eles chegaram ao HDT por volta das 19 horas da segunda-feira, dia 2. Por volta das 11 horas do dia seguinte, 3 de junho, Asafe sentiu uma forte dor de cabeça, “mas tão forte que ele chegou a fazer xixi na cama. As 14 horas minha esposa que estava com ele disse que ele começou a agonizar e o médico disse que precisava de uma UTI”.

O pai relatou que não conseguia o leito e que o filho “apagou”. A UTI veio dois dias depois, segundo ele, no HRA. O adolescente morreu na manhã do sábado, dia 14.

Sidney dos Santos disse que, dias depois do enterro, recebeu a ligação de um advogado que se propôs a ajudá-lo a descobrir o que aconteceu com o atendimento ao seu filho. O pai afirmou que não quer dinheiro. “Meu foco não era brigar em justiça, só queria meu filho são. E não está descartada uma exumação. O que eu quero é descobrir o que aconteceu. A história tem muita coisa vaga”. O pai acredita que descobrir o que aconteceu com seu filho pode ser o pontapé para que não aconteça com outras pessoas.

 

UPA

A Pró-Saúde, que é responsável pela UPA do Setor Araguaína Sul, encaminhou uma nota ao Portal T1 Notícias informando que a “diretoria técnica da UPA já está apurando todas as informações referentes ao atendimento prestado ao menor e está à disposição dos familiares para esclarecer todas as dúvidas”. Eles informaram que “após a apuração do ocorrido, todas as medidas cabíveis serão tomadas”. A UPA ainda se solidarizou com a dor da família do paciente.

 

Sesau

A Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) também encaminhou uma nota ao Portal informando que Asafe deu entrada no HRA no dia 2 com suspeita de apendicite, mas após avaliação médica e exames realizados constatou-se o quadro de meningite e o paciente foi encaminhado para Hospital de Doenças Tropicais (HDT), onde recebeu atendimento da equipe multiprofissional.

Segundo a Sesau, no dia 4 de junho, “em virtude do grave estado de saúde do paciente, foi solicitado transferência para UTI, via Central de Regulação, que iniciou a busca de leitos vagos no Estado (rede pública e privada) e fora dele”.

No dia 5, conforme informou a Sesau, “o paciente foi transferido para UTI do Hospital Regional de Araguaína, ficando internado até o dia 14, não resistindo vindo a óbito”.  

Segundo a Sesau, o HRA conta “hoje com 20 leitos de UTI que na ocasião estavam todos lotados, sendo necessário busca fora da cidade. Caso fosse possível o paciente seria transferido”.

 

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