Família de vaqueiro vive sob proteção da Justiça após denunciar Nezinho Alencar

Segundo o jornal O Globo, a família está protegida pela Justiça. Incluída em um programa governamental de proteção a testemunhas há menos de dois meses, “a família vive agora refugiada com medo”

Em reportagem especial publicada neste domingo, 16, o jornal de circulação nacional O Globo entrevistou o vaqueiro tocantinense que denunciou o ex-senador Nezinho Alencar, pelo suposto estupro de suas duas filhas, de 6 e 9 anos, ocorrido na zona rural da cidade de Guaraí. O senador foi preso em janeiro deste ano e solto um mês e meio depois, após pagar fiança de R$ 22 mil.

 

Segundo O Globo, a família está protegida pela Justiça. Incluída em um programa governamental de proteção a testemunhas há menos de dois meses, “a família vive agora refugiada com medo”, aponta o jornal. Ao todo, 10 pessoas foram incluídas no programa de apoio a ameaçados: o vaqueiro com a mulher e três filhos, incluindo as duas vítimas do abuso, além do irmão dele, também com a mulher e três filhos. “Os quatro adultos e as seis crianças experimentam, desde fevereiro, quando foram retirados da cidade onde moravam, uma rotina completamente oposta a de quem sempre viveu livre no campo”, afirma a reportagem.

 

Ainda segundo a reportagem, ligações para parentes só em horários determinados. “Todo o sacrifício, porém, só valerá a pena, diz o vaqueiro, se Manoel Alencar Neto, conhecido por Nezinho Alencar, nome que usa na vida política, for preso. Ele conta que, para garantir a punição do fazendeiro de 66 anos, gravou, com um celular escondido numa árvore, as cenas de violência sexual sofrida pelas filhas. O que pode parecer frieza para uns — ou armação, segundo a defesa de Nezinho — é apontada pelo pai das meninas como a única forma de fazer com que acreditassem nele”. “Eu nunca quis dinheiro. Não vou negar que apontei muitas vezes a espingarda para ele, mas sempre pensava em Deus e na vida da minha família, que ia se complicar se eu apertasse o gatilho. Só quero ele preso”, disse o vaqueiro à equipe de O Globo.

 

Depois de mostrar as imagens dos abusos captadas pelo celular ao irmão, que diz ter confrontado Nezinho para cobrar explicações, a dupla procurou a Polícia Federal, em Palmas, que prendeu o fazendeiro numa operação de combate à pedofilia na internet. O proprietário foi preso, mas hoje responde o processo em liberdade. A liberação de Nezinho revoltou o vaqueiro. “A lei de lá é outra. Eu me arrependo de ter denunciado, devia ter feito justiça com as minhas mãos. Hoje eu é que estou preso, e ele está lá, vendendo e comprando gado”, desabafou o vaqueiro.

 

Ainda de acordo com a reportagem de O Globo, “não tardou para recados velados e ameaças mais diretas chegarem, segundo contam. Acuados na casa de um parente, por onde carros luxuosos incomuns num bairro pobre começaram a ser vistos, eles se renderam à indicação de serem colocados sob proteção do Estado. Venderam os bens que tinham de última hora e deixaram Tocantins, de onde os irmãos só haviam saído para temporadas de trabalho no Pará. Querem voltar a mexer com bicho e plantar, mas não alimenta esperanças de voltar ao lugar que sempre viveram. ‘É pedir para morrer’, resume o irmão do vaqueiro”.

 

Ao jornal O Globo, o Ministério Público de Tocantins acusou o ex-senador de estupro de vulnerável e também de dar bebida alcoólica às crianças. A Justiça já aceitou a denúncia e abriu ação penal, mas ainda não julgou um recurso apresentado pelo promotor Guilherme Cintra, de Colmeia (TO), onde o caso tramita, contra o relaxamento da prisão. “Se a própria família da vítima está custodiada pelo Estado, isso indica que o denunciado não deveria estar solto”, argumenta Cintra, à reportagem.

 

Para o advogado de defesa, Ronivan Peixoto, não há motivos para o cliente ser mantido preso nem provas das intimidações alegadas. Ele argumenta que a prisão é ilegal por ter sido determinada por um juiz federal, dentro da Operação Confiar, de combate à pornografia infantil na internet, deflagrada pela Polícia Federal no início deste ano. Quando verificou-se que Nezinho não compartilhava imagens, o caso foi remetido para a Justiça estadual.

 

Sem negar que a violência sexual flagrada no vídeo ocorreu, o advogado Ronivan Peixoto disse que o ex-senador Nezinho teria sido induzido a cometer os atos registrados, e que a gravação, embora autêntica, não passa de uma “armação” da família com a finalidade de exigir dinheiro do fazendeiro, o que os parentes das vítimas negam. O uso frequente de antidepressivos misturados a álcool, ainda segundo Peixoto, também teria contribuído para a alteração do comportamento do cliente. “Houve uma indução para que ele fizesse aquele ato. O que eu lamento é o uso das crianças para esse fim”, afirmou o advogado ao O Globo.

 

O advogado diz que pediu que fosse feita uma “limpeza” no vídeo para que ficasse mais nítido. Ele argumenta que, em pontos muito específicos, que passam despercebidos para quem assiste desatento, é possível perceber que as crianças teriam sido “comandadas naquela ação”. Peixoto não contesta, entretanto, as imagens. Ele conta que Nezinho chegou a chorar vendo a gravação, sem entender por que agiu daquela forma. O advogado diz que o homem vive em depressão por ter perdido uma filha ainda jovem. Por isso, toma remédios controlados.

 

Peixoto nega, porém, que tenha havido outros episódios semelhantes, ao contrário do que relata a denúncia do Ministério Público aceita pela Justiça. Não há prazo para que o julgamento ocorra. O processo está em fase de instrução, quando são produzidas provas e ouvem-se testemunhas, entre outros procedimentos.

 

(Com informações do jornal O Globo)

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