Brasília: o clima de fim e a descrença no recomeço

Brasília já vive o clima do fim de governo Dilma, com o esvaziamento das decisões e o fluxo do poder para o núcleo do vice-presidente Michel Temer. Mas falta limite, escrúpulos, verniz de legitimidade

Dilma: resistência até o fim
Descrição: Dilma: resistência até o fim

“Olha o caminhão da mudança!… Pode juntar tudo que a gente carrega rapidinho. Está passando o caminhão da mudança… Acabou. O Brasil já começou a mudança...”

 

Essas e outras palavras de ordem ecoaram na tarde do trânsito agitado de Brasília na Esplanada dos Ministérios, numa quarta-feira que começou com ameaça de bomba no Ministério da Agricultura, seguiu com o lançamento do Plano Safra de tarde, e foi até o final de mais um dia em meio ao regozijo de uns e à decepção de outros, entre os partidos que saltaram do barco do governo Dilma nas últimas duas semanas. Esses, já dividem suas novas cotas de poder. O carro de som na Esplanada apenas repete o discurso dos que que comemoram o fim do governo que será deposto pelo Impeachment em uma semana.

 

O vale tudo da negociação dos partidos no entanto já é visível. Presidência de comissões, expectativa de indicação de cargos. Disputa por ministérios.

 

Corre nos bastidores que Gilberto Kassab está emburradinho, ele, que era Ministro das Cidades de Dilma até outro dia, quer o mesmo ministério no próximo, futuro, virtual governo Michel Temer. Já recebeu a notícia de que não terá, e junto com ela outra oferta: o Ministério das Comunicações. Fez beicinho. 

 

O PP, que até pouco tempo estava fechado contra o impeachment da Presidenta, começa a ocupar seus espaços de poder, e ficará com o Ministério da Agricultura, que era cobiçado pelo PRB de César Hallum. Que terá a Ciência e Tecnologia, para a qual já foi ventilado o nome de um pastor da Universal, que entende muito de… curas milagrosas sem nenhum amparo cientifico.

 

Assim caminha Brasília esta semana: mergulhada num clima de fim de governo, em que pouca gente atende ligação, retorna ou resolve problemas. Ministérios funcionando a toque de caixa com interinos. Comissionados procurando outra alternativa de para onde ir.

 

De outro lado, há uma contradição entre a expectativa criada por um governo Temer que já começou negociando mais do que pode entregar. O grau das trapalhadas, do baixo compromisso com a lógica e critérios outros que não seja pagar a fatura dos votos em favor do impeachment, já afasta apoiadores circunstanciais. É o caso do PSDB, dividido entre entrar na partilha dos cargos, ou ficar de longe esperando para a próxima eleição.

 

O caso é que a expectativa de poder para quem vislumbra pela frente um mar de possibilidades em dois anos de governo Dilma que Temer herdará, tem o condão de animar a classe política, mas desanima profundamente quem tem pelo menos um senso crítico mediano. A pauta anunciada é de assustar, pelo que representa de ameaça à direitos adquiridos, à empresas e segmentos na lista de possíveis privatizações, entre outros aspectos de um governo que não recebeu o voto popular para governar. Temer foi eleito para ser vice. Substituir Dilma eventualmente durante viagens. Nada além.

 

O que se vê é o esvaziamento do poder de Dilma -  que mesmo repetindo como um mantra que lutará até o fim na defesa do mandato - já se mostra abatida, derrotada por uma seqüência de acontecimentos que parece não ter fim.

 

Triste clima de fim de governo antecipado o que vive Brasília.

 

Perigoso sentimento de que o que vem por aí pode não estar descrito nem nos piores pesadelos.

 

É clima de feira. Fim de feira para uns, começo de feira para outros. Mas feira, com todo direito à gritaria própria da pechincha e da barganha.

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