Greve e fome no HGP no meio de uma eleição: tem alguém preocupado com isso?

Pelo que apuramos nos bastidores, o governo vem aí com medidas para retirar a empresa - que está com o contrato chegando ao fim - e contratar imediatamente a alimentação, de forma direta

Hospital Geral de Palmas
Descrição: Hospital Geral de Palmas Crédito: Foto: Divulgação

Eu já vi criança morrer no Tocantins por falta de que o governo do Estado providenciasse UTI a tempo para salvá-la. Foi em Colinas, no meio de uma campanha estadual.

 

Já vi lixo hospitalar amontoado por dias, sem coleta, no HGP.

 

Também assisti a outros momentos de impasse entre sindicatos e governo. Os mesmos sindicatos, outros governos.

 

Mas em mais de 25 anos de Tocantins, nunca tinha visto faltar comida para pacientes no HGP.

 

Acompanhantes, sim. Médicos e enfermeiros, sim. Mas pacientes, nunca.

 

Acompanho há dias o “jogo de empurra” em que se transformou essa história. Cada um, governo e empresa fornecedora, explicando suas razões e contrarrazões para os fatos que assistimos.

 

O primeiro diz que paga o que pode pagar, apenas.

 

A segunda diz que sem receber, não tem como honrar minimamente compromissos com fornecedores e acabou faltando comida para quem está doente.

 

De um lado o subsecretário de Saúde, Marcos Sena, classifica como “covarde”, a atitude da direção da Litucera. Esta, através de seu diretor, praticamente explica que não tem como fazer o milagre de continuar comprando, se perdeu o crédito.

 

O que assistimos desde então é uma rede de solidariedade entre cidadãos, recolhendo doações e entregando no HGP, para não ver as pessoas passando fome.

 

E lá dentro, os funcionários da combalida Litucera, cozinhando o que chega.

 

Pelo que apuramos nos bastidores, o governo vem aí com medidas para retirar a empresa - que está com o contrato chegando ao fim - e contratar imediatamente a alimentação, de forma direta, de outras empresas fornecedoras de alimentação hospitalar. A empresa reage como pode e notifica que vai paralisar os serviços, pela segunda vez este ano.

 

Isso, enquanto o Estado corre com uma licitação em que pretende parcelar os serviços dividindo para várias e não só uma empresa fornecedora.

 

Vai, ao que tudo indica, oficializar o cano de mais de R$ 70 milhões e brigar na justiça por anos, com argumentos do tipo: quem deve, quem tem a receber, cobrança de impostos que estavam livres para reduzir o preço, anos depois…

 

Ouvi outro dia que o comando da Sesau vem trocando os fornecedores da pasta, deliberadamente. E que a Litucera seria a mais difícil de cair, por conta de todas as amarras do contrato e da complexidade dos serviços que oferece, em TODO o Estado.

 

Um bom jeito de tirar seria justamente não pagando e aí fica o jogo de responsabilização. Com quem nunca deveria estar no meio de uma briga dessas: o doente. O paciente. O cidadão em extremo estado de fragilidade, que não pode fazer nada além de esperar ser alimentado na hora certa e da forma correta num leito de hospital.

 

Voltando ao começo: o que o governo do Estado está deixando transparecer é que a crise na Saúde do Tocantins piorou. E por falta de gestão eficiente.

 

Esta é uma pecha difícil de tirar quando se chega a extremos. É preciso reagir rápido. Saúde não é palco para jogos de interesses.

 

Tudo isso no começo de uma eleição municipal é duplamente incendiário, mas assim como no caso da greve geral, parece que ninguém está se importando muito com isso.

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