Insegurança potencializa o medo: governo precisa negociar com a Polícia

Policiais de um lado e governo de outro, esticam a corda para ver quem suporta mais a situação de greve na Civil. O cidadão no meio, paga a conta do medo de sair de casa e enfrentar os bandidos...

Civil em greve: consequências estão nas ruas
Descrição: Civil em greve: consequências estão nas ruas Crédito: Divulgação

O final de semana foi tocado ao clima de terror em Palmas. Em parte, por conta dos dois ônibus incendiados desde sexta-feira e um terceiro alvejado pela ação de bandidos. Em parte por que o aplicativo WhatsApp – usado por alguns a título de alerta, com a disseminação de áudios, fotos e vídeo - terminou gerando uma onda de medo sem igual.

 

Pouca gente se arriscou a sair de casa no final de semana, acreditando nos “salves” de dentro dos presídios, mandando ver na violência do lado de fora como forma de forçar o fim das restrições de visitas, banhos de sol e outros direitos comuns aos presos. Estes, suspensos em razão da greve da Polícia Civil.

 

Com franqueza: sou contra greve de polícias. Seja Civil ou Militar, trata-se de serviço essencial, que não pode ser interrompido e a sociedade penalizada por que há uma discussão em torno de direitos de aumento ou outras concessões.

 

É grave viver a realidade de uma cidade à mercê de bandidos. E olha que mesmo sem greve, vivemos no Tocantins, uma situação de baixo efetivo nas duas polícias, claramente danoso no caso da Polícia Militar, que tem número insuficiente de soldados para a prevenção.

 

A Civil por sua vez, sofre com falta de estrutura para trabalhar. Sem armamento suficiente. Sem balas para as armas dos policiais que utilizam as suas. E é a polícia da inteligência. A que investiga, faz escuta, dá flagrante, prende.

 

Governo demora se posicionar e reagir

 

A pressão que faz o Sinpol ao deflagrar a greve, como forma de pressionar o governo a pagar o realinhamento aprovado em 2007 e regulamentado ano passado, estica a corda em duas pontas contrárias. Policiais puxam de um lado e o governo com seus interlocutores de outro. O cidadão, cada vez mais indefeso, fica no meio.

 

Se de um lado está evidente o direito dos policiais receberem o que foi dado - por mais que aumentos na casa de 30% a 100% sejam incompatíveis com a realidade vivida pelo Estado – de outro o governo há de entender que uma longa briga jurídica, discutindo o acréscimo de despesa sem receita compatível vai penalizar a sociedade.

 

Pano rápido.

 

Fui comprar pão ontem numa mercearia perto de casa e a chuva desabou torrencialmente, impedindo a saída de quem não quisesse se molhar.

 

A esposa do dono do estabelecimento, começou a me contar no caixa, o assalto de que foi vítima na sexta-feira. Dois motoqueiros, os mesmos que haviam assaltado o mesmo estabelecimento, uma semana atrás. “ Batizaram numa sexta e viraram fregueses na outra”, resumiu ela.

 

Desta vez, a mais recente, o mais violento dos dois é que a abordou no caixa. Empurrando-a contra o balcão e machucando-a, mostrou o rosto e nervoso arrastou o que tinha por lá enquanto ela tentava acalmá-lo. Na saída virou-se para ela e disparou. A arma, velha, negou fogo. E só por isso a mulher, com os olhos marejados de água e contendo o choro, fruto do trauma, estava na minha frente, contando a história.

 

Assaltos no comércio são frequentes na capital, mas o confronto com bandidos armados, sem nada a perder, se tornando assim, tão corriqueiro, assusta demais.

 

Fecha parêntese.

 

É esta onda do medo, a sensação de insegurança, que cabe ao governo do estado, dentro de suas atribuições, combater e evitar.

Ao seu modo, o prefeito de Palmas chamou para si o enfrentamento no caso dos ônibus queimados na Capital. Por mais que seja questionável estabelecer recompensa em dinheiro - à moda do faroeste americano -  para quem apontar os culpados pelos incêndios criminosos, Amastha fez o que a população espera do poder público: reagiu.

 

O governo por sua vez demorou quase 72 horas para emitir uma nota. O governador Marcelo Miranda deu uma declaração em Araguaína simplificando a leitura do fato, prontamente respondida pelo Sinpol, que atribui a ele a responsabilidade pela greve.

 

Se há agentes da oposição se favorecendo da situação, inflando ou patrocinando a greve como se insinua nas redes sociais, não se sabe. Mas não é difícil. Faz parte do jogo.

 

Negociar é preciso

 

Lógico que a greve acontece por que não há dinheiro para pagar o realinhamento. E já não havia quando a gestão anterior encaminhou a lei para a Assembléia. É uma questão de responsabilidade, ou irresponsabilidade.

 

Mas o fato, inegável, é que o governo precisa escolher entre esticar cada vez mais a corda, declarar a ilegalidade da greve, partir para o corte de pontos e esperar a categoria cansar e desistir, ou negociar com a polícia. Estamos num regime que permite greves a policiais. Parados, eles deixam de responder pela segurança da sociedade. E o que se vê é a escalada do crime, da violência, da resposta do mais forte contra o mais fraco e desarmado cidadão.

 

Isto precisa parar, e logo. Ainda que o realinhamento seja discutível, sob o ponto de vista da falta de recursos, de Orçamento e de comprometimento da LRF, negociar é urgente.

 

Antes ceder para a polícia, do que ceder para os bandidos. A Polícia Civil, ainda que com sua estrutura precária, é essencial para garantir a segurança. Não há como ignorar isto.

 

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