O bem que faz a voz suave de Mara, mandando Cunha sair

Num momento de muito descrédito para políticos em geral, as tentativas de Eduardo Cunha em manter o mandato, desta vez manobrando contra o Conselho de Ética fizeram ecoar uma voz suave e firme na Casa

Mara Gabrilli, em desabafo, pede que Cunha saia
Descrição: Mara Gabrilli, em desabafo, pede que Cunha saia Crédito: Sefot/Câmara

Falar de política já foi mais agradável e interessante. O caminho de descrédito que a coisa toda tomou, dentro e fora do Estado desestimula as pessoas a lerem sobre o assunto, e consequentemente, faz com que escrever sobre, se torne na mesma proporção, desinteressante.

 

Tudo parece apenas cenas de um filme repetido, com raras exceções. 

 

Semana passada, uma mulher ao microfone da Câmara dos Deputados, quebrou o rítmo modorrento dos embates que poucos ainda assistem pela TV paga.

 

Era uma ex-aliada, contra Eduardo Cunha. Alguém que a quem a grande imprensa não dava atenção. Até aquele dia. Falo de Mara Gabrilli. A mulher que falou o que muitos queriam dizer.

 

No Tocantins, muitos deputados federais ainda continuam apoiando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Poucos se dispõem a falar abertamente contra aquele que se tornou um expert em administrar os interesses dos colegas (ou seriam comparsas?) e cobrar sua cota de divisão de benesses em demonstrações de fidelidade através do voto.

 

Se a presidente Dilma Roussef ainda vive dias difíceis - na crise que quase lhe custou o mandato - os dias de Cunha estão piores.

 

É o que se viu no final da última semana, quando uma deputada tucana, com cargo na Mesa Diretora presidida por Cunha, abriu a boca para cobrar, com dureza e suavidade, que Eduardo Cunha deixe a presidência da Câmara dos Deputados.

 

Mara Gabrilli, cadeirante, começou a falar da sua dificuldade em estar presente às sessões, e mesmo assim de sua instância em estar e não sair, para dar exemplo. Num depoimento contundente declarou o que já se vê de fora do Congresso Nacional: faz muito tempo que Eduardo Cunha perdeu a credibilidade.

 

“Já chega, levanta desta cadeira, Eduardo Cunha”, sugeriu a deputada do PSDB.

 

Dias atrás, acompanhando o vice-presidente Michel Temer num encontro do PMDB, Cunha foi vaiado pela primeira fez pela militância do seu partido. É duro o golpe.

 

O ano caminha para terminar e provavelmente tanto o presidente da Câmara, quanto a presidente da República farão a virada sem vencer as dificuldades, mas a situação de Cunha é pior.

 

A crise moral que se abate sobre os políticos e a política brasileira parece não ter fim, mas de vez em quando, sopra um vento bom dentro de um espaço de poder como é a Câmara dos Deputados.

 

Desta vez partiu da figura nem tão frágil da deputada que ousou dar a Cunha o recado que muitos brasileiros gostariam de dar, nem só pelo seu envolvimento com contas em paraísos fiscais, mas pela sua postura à frente da Casa. Das articulações de Cunha brota muita política ruim, que tolhe direitos, que segrega.

 

Neste momento em que o brasileiro e o tocantinense se mostram cansados do modelo que vivemos hoje na política, é bom ouvir a voz da deputada Mara, e na sua coragem, perceber que ainda pode haver uma saída.

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