Operação Ápia manda prender ex-governador, empreiteiros conhecidos e assusta!

Lista de nomes conhecidos no convívio social, político e empresarial em Palmas assusta nesta quinta-feira em que 19 empresários, políticos e um ex-governador vão dormir sob a guarda da PF no Tocantins

PF cumpre 19 mandados de prisão em Palmas
Descrição: PF cumpre 19 mandados de prisão em Palmas Crédito: Foto: Andrea Nobre

O pós-feriado de Aparecida, padroeira do Brasil, amanheceu com operação da PF prendendo gente - são 19 mandados de prisão temporária ainda em curso - no Tocantins e em outros estados da Federação. O objeto da investigação: complô para direcionar licitação de obras de estradas, financiadas com recursos do BNDES, tendo como intermediário o Banco do Brasil. Recursos da ordem de R$ 1 bilhão e 200 mil reais, dos quais a PF suspeita que 25% foram superfaturados.

 

Os mandados de prisão temporária, pelo prazo de cinco dias, foram expedidos contra: Sandoval Lobo Cardoso, Círio Caetano da Silva, Ramilson Ferreira de Oliveira, Renilda Martins Rezende, Alvicto Ozores Nogueira (O Kaká, ex-secretário de Infra), Pedro Olímpio Pereira Furtado Neto, Donizeth de Oliveira Veloso, Luciano Nogueira Bertazzi Sobrinho, Valdemiro Teixeira Aguiar, Bruno Marques Roche, Estemir de Souza Pereira, Murilo Coury Cardoso, Francisco Antélius Servulo Vaz, Rossine Aires Guimarães, Jairo Arantes, Luciene da Silva Oliveira, Marcos Vinícius Lima Ribeiro, Wilmar Oliveira Bastos, Humberto Siqueira Nogueira, Renato Hollunder e Geraldo Magela Batista de Araújo.

 

Impressiona o ex-governador Sandoval Cardoso receber ordem de prisão e, com ele, seu ex-secretário Kaká Nogueira, além de empreiteiros conhecidos, como Rossine Aires Guimarães e Wilmar de Oliveira Bastos. Embora prisão temporária não seja condenação, a operação cai como uma bomba estrondosa no meio empresarial no Tocantins e em Goiás e terá efeito destruidor na reputação de todos os envolvidos. Lembrando que a lista, com 19 nomes que tiveram mandado de prisão expedido, inclui servidores públicos na ativa. Entre eles, dois engenheiros, servidores de carreira, efetivos do Estado, e um comissionado, na gerência de Licitações, Contratos e Convênios da Infra.

 

Também com mandado de prisão, empresário conhecido em Colinas e que foi presidente da Comissão de Licitação de Obras e Serviços Públicos de Transportes, no governo de Sandoval.

 

Algumas empresas, se bem observado, também figuram em outros processos que questionam superfaturamento de obras, como pontes, por exemplo. Os empresários são os mesmos que faturam licitações (ou dispensa delas, como aconteceu naquele programa de recuperação de asfalto no começo do governo Siqueira) entra governo e sai governo, há mais de uma década no Tocantins.

 

O fato do Ministério Público Federal e a CGU estarem cruzando dados e apontando informações importantes, como a conta do aditivo pedido para pagar caminhões de brita que, enfileirados, cobririam mais do que o trecho em que a brita supostamente seria utilizada, dá uma noção do tamanho do problema. Numa conta simples, 25% de um bilhão e duzentos mil podem ter sido desviados. E parado em campanha, fazendas e bois. 

 

Era de se esperar que - lidando com recursos públicos federais - houvesse mais prudência, mais cuidado, mais lisura. Até por que a fiscalização, ao pé da letra fria da lei, é bem mais rigorosa.

 

A operação toda me fez lembrar uma entrevista que fiz com o então super -secretário de Sandoval, Kaká Nogueira, em ano eleitoral, antes que ele assumisse a coordenação de campanha do cunhado e primo, governador em mandato tampão, naquela articulação política que envolveu a renúncia de Siqueira.

 

Ao questioná-lo se haveria tempo para executar as obras - dois programas haviam sido deflagrados, um de recuperação de estradas e outro de tapa-buraco com aplicação de lama asfáltica nos municípios - e se haveria dinheiro liberado para pagá-las dentro do cronograma rápido traçado pelo então governo Sandoval, ouvi uma resposta curiosa. 

 

- “O dinheiro tá amontoado lá no Banco do Brasil. Tá todo aí. Pode encostar lá na porta, que chega tá fedendo”, me respondeu Kaká, com aquele sotaque goiano carregado e os ares de superioridade de homem rico, bem nascido e acostumado a movimentar grandes valores em sua empresa, revendedora de máquinas e implementos que tinha locado equipamentos para o Tocantins antes mesmo que ele fosse convidado para se tornar secretário.

 

A ligação entre governo e campanha, com captação de recursos na eleição, patrocinados pelas empresas e empresários que estavam diretamente beneficiados com as obras, fez o link incendiário que o Ministério Público explora para chegar a quem foi beneficiado nas doações oficiais de campanha. Os desdobramentos de tudo isso são imprevisíveis.

 

Todo pré-julgamento é prematuro, mas muitas explicações precisarão ser dadas para convencimento público da inocência dos envolvidos. 

 

O ex-governador Siqueira Campos, que não foi detido, mas conduzido para prestar depoimento, tem novamente sua biografia manchada por algo que efetivamente pode ter sido realizado de fato, no governo do seu sucessor. Algo lamentável a esta altura, no fim de uma vida inteira dedicada ao Estado. Paga um preço alto, talvez, por confiar decisões. Sua responsabilidade será apurada, assim como a de todos os envolvidos. Aí saberemos quanto disso deve ser creditado a cada um.

 

O que o Tocantins assiste estupefato nessa quinta-feira é o rol de poderosos cortejados nos últimos anos, em muitas rodas, irem dormir esta noite sob a guarda da Polícia Federal. 

 

Fora de período eleitoral, é golpe duro. 

 

Para os envolvidos e para a imagem do Estado, novamente manchete nacional. E mostra como as coisas andaram erradas com o dinheiro público derramado em chão tocantinense nos últimos anos. Literalmente.

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