Os erros e acertos da reforma de Marcelo

Corte de cargos, redução de secretarias, nomeação de novos secretários ainda não parece ser suficiente para ajustar as contas públicas e tirar o Tocantins da inércia. Politicamente, Miranda errou

Marcelo Miranda e Lyvio Carneiro
Descrição: Marcelo Miranda e Lyvio Carneiro Crédito: Bonifácio/T1Notícias

A expectativa em torno da reforma prometida pelo governador Marcelo Miranda em sua estrutura administrativa, terminou na última quarta-feira, 27, com diversas impressões, dependendo do segmento que se escuta.

 

Dentro do governo, alívio dos que, apesar de pífias atuações e acúmulo de problemas em suas pastas, conseguiram escapar da guilhotina. Mais da metade do mediano secretariado do governador permanece em cargos que não estão aptos a ocupar, a não ser pela dificuldade nítida que o governante tem em substituí-los. Seja pelos vínculos pessoais, seja por não conseguir vislumbrar no horizonte outros nomes para ocupar os cargos. Se ouvisse o pequeno grupo que lhe deu sustentação política, certamente Miranda encontraria opções. Foi o que escutei de um dos deputados presentes ao anúncio no Palácio Araguaia.

 

Mas diferente do que afirmou ao T1 Notícias em entrevista no começo de janeiro, Marcelo não ouviu sua base na Assembleia. Se escutou políticos, foram outros. Não encontramos um deputado aliado que afirme ter sido ouvido, para trocar uma ideia, ou dar uma opinião. Todos unânimes em dizer que a decisão é do governador, eleito para tal. E guardam no paletó, para ocasião oportuna, a resposta pela insatisfação. 

 

Fora do governo, os ares são outros. Tanto na classe política, quanto nos segmentos organizados, ficou o gosto de “quero mais”. Sem falar entre cidadãos que habitam as redes e, de forma crítica, qualificaram a reforma como abaixo da crítica. 

 

Se Miranda ouviu os segmentos, como disse que ouviria, para fazer seu enxugamento de pastas e escolha de nomes, com certeza não ouviu os produtores de Cultura do Estado. Aqueles a quem prometeu criar a pasta. Aliás, o governador passa longe de imaginar o desgaste que teve em recuar neste ponto. Assinou um compromisso que cumpriu por exatos sete meses. Um período em que Melck Aquino, Sabrina Fittipaldi e equipe souberam usar muito bem para fazer avançar a organização do setor, como não se via há 10 anos pelo menos no Estado. Ainda que Melck sofra o fogo amigo dos que os consideram marqueteiro de si mesmo.

 

Quem ouviu com todas as letras a indignação de produtores como Eva Pereira e outros numa reunião pra lá de ácida, no Araguaia, e contornou a situação, foi a vice-governadora Cláudia Lelis. Aliás, tem se tornado um hábito, da crise na segurança a todo tipo de incêndio que bate as portas do Palácio, irem parar nas mãos da vice. Que neste ponto tem se mostrado habilidosa, embora pouco atendida nas demandas que leva para o governador. Sorte de Marcelo que Cláudia não é Sandoval (que disse ao governador Siqueira Campos uma vez, que se não pudesse dar uma ordem de compra de remédios enquanto ele estivesse fora, preferia não assumir). Mas também não é João Oliveira… Entendedores entenderão.

 

Ao discursar no evento em que deu posse aos novos secretários, Miranda disse que suas decisões “foram corajosas”. E bradou alterando a voz: “coragem eu tenho!”. O conceito de coragem do governador, ele próprio deixou claro noutro trecho do discurso: é corajoso por ter afastado companheiros que o ajudaram a chegar lá, como Samuel Bonilha. O governador definiu como “dolorosas” estas decisões.

 

Coragem para trazer de Goiânia um secretário que terá que ser apresentado a cada parlamentar e liderança política. Mas mesmo sendo um estranho, comandará a articulação política. Ao justificar sua escolha o governador disse tratar-se de um amigo do Tocantins com propriedade em Talismã. Relevou o fato de que seu novo secretário responde processo por improbidade por sua passagem no comando da Comunicação em Goiânia. Um a mais, um a menos, com problemas com a justiça, não faz diferença.

 

Observe-se que ao afastar Bonilha, Miranda importou do Rio de Janeiro um secretário, que de lá não traz a melhor experiência, nem resultados. O problema da Saúde é imenso, não só por falta de dinheiro, mas por dificuldade grave de gestão, e por absoluta falta de diálogo com a classe médica, entre outros profissionais. Marcos Musafir mais parece o homem talhado para trazer a malfadada terceirização, que não deu certo no Rio, nem aqui, quando tentada no governo Siqueira Campos, e que também critiquei, em artigo à época.

 

Se tomar este caminho, Marcelo Miranda enfrentará resistência dura do setor, fiscalização da imprensa e do Ministério Público, e o bombardeio da oposição. Para se justificar que está no caminho certo, o chefe do Executivo se escora na experiência de três mandatos de governador e no sucesso das carretas da Saúde, que seguem pelo interior operando catarata a preço SUS. É o mesmo Marcelo dos óculos mais perto de você, que lhe custaram - junto com os títulos de lotes no Taquari -  a cassação do mandato popular em 2009. Fazer as pessoas voltarem a enxergar talvez seja hoje a única ação que o povo reconhece como eficaz no governo que patina, patina, e patina, sem sair do lugar.

 

Geferson Barros, o mais otimista dos secretários, resumiu o espírito da equipe ao, discursando, afirmar a Marcelo que ele é amado pelo seu secretariado, que nele confia como político e gestor. Um dia depois do senador Ataídes Oliveira ter criticado o fato do Estado ser conduzido nestes tempos difíceis por um governador “que não estudou”.

 

Acertos

Se erra por tomar decisões ouvindo apenas o conselho superior do governo, formado pelo marqueteiro oficial, Marcus Vinicius, pela esposa e deputada federal Dulce Miranda, pelo pai, Brito Miranda e pelos irmãos, o governador também tem seus acertos.

 

É indiscutível que reduzir a estrutura do governo de pouco mais de 60 secretarias, autarquias, fundações e empresas para 37, torna o governo mais leve para operar. Deixar de ocupar os cargos que deixou vagos ano passado, e excluir da estrutura 163, a uma economia prevista de R$ 23 milhões para o primeiro quadrimestre, é muito positivo. Isso somado aos 1200 contratos que deixa de renovar. A pergunta é: o Estado funciona sem eles? Se sim, ótimo. Se não, vai terceirizar a contratação do mesmo número de pessoas, e teremos apenas uma transferência destes gastos da folha (onde pressionam para cima o limite permitido pela LRF) para outra fonte, do mesmo cofre estadual.

 

Enquanto não parar de nomear comissionados, o governo não terá a simpatia de milhares de servidores estaduais, concursados, a quem se atribuiu o maior problema de uma folha acima da lei, atualmente. O deputado Eduardo Siqueira acusa o governo de manter na folha fantasmas, no interior, nomeados por indicação política, sem trabalhar. Seria oportuno um levantamento que os apontasse.

 

O governo, por outro lado,  segue lamentando a queda do FPE - que afirma ter sido já de R$ 50 milhões neste mês de janeiro - comparado a janeiro do ano anterior. Mas nem o novo secretário de Desenvolvimento, nem o novo titular da Fazenda apontaram caminhos de saída para a atração de negócios e aumento da arrecadação. Não com aumento de impostos, que ninguém aguenta mais.

 

Escorado no discurso de que venceu sete das oito eleições que disputou no Estado, Marcelo Miranda segue otimista de que o dinheiro vai chegar, de que as coisas vão melhorar. Talvez enxergando o que só ele vê no horizonte.

 

Sobre isto, interessante destacar novamente a fala do secretário Geferson, da Secad: “Governador, os pessimistas precisam andar mais perto do senhor, para serem contagiados pelo otimismo que o senhor tem e que contagia sua equipe”.

 

Pensei seriamente em escrever uma carta a Geferson, mas posso resumir em um parágrafo o que teria a dizer sobre isto.

 

Otimismo sozinho não adianta. Não ajusta as contas, nem paga dívidas. É preciso fazer o dever de casa, como fizeram os prefeitos de Araguaína, Ronaldo Dimas (que colocou a capital do boi no topo do índice Firjam), o de Palmas, Carlos Amastha (que antecipa pagamento da data-base neste mês de janeiro, pagando ele sim, em dia seu funcionalismo), ou mesmo Laurez Moreira, que reequilibrou as finanças de Gurupi.

 

O sétimo mandato de Marcelo Miranda foi conquistado por que o tocantinense lhe tinha gratidão, e registrava sobre ele forte sentimento de justiçá-lo pela perda do mandato em 2009.

 

Este momento passou. Se o governador, seus conselheiros e staff decisório não compreenderem isto estarão perdendo uma grande oportunidade. 

 

Daí só restará mesmo usufruírem os dias que restarem deste governo, que será julgado duramente pelo TSE ou pelo povo, mais cedo ou mais tarde.

 

Até lá, “um governo fraco, ainda é um governo forte”, como bem me disse um prefeito, ao pé do ouvido nas cadeiras do Araguaia, na quarta-feira.

 

Mais uma vez parece ter sido ilusão sonhar que um governo forte, pudesse ser um governo mais forte ainda. Justo, companheiro, realizador, como prometia nos dias difíceis de uma campanha dura que já ficou para trás.

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