Sobre Dilma, Marieta, Zeca e o difícil exercício da tolerância com o outro

Emitir opiniões sobre temas polêmicos nas redes sociais tem provocado um verdadeiro linchamento moral por parte de grupos que professam fé ou opinião contrárias. Tempos difíceis revelam extremos...

A presidente Dilma tem vivido dias difíceis para qualquer ser humano manter o equilíbrio. Enfrenta uma onda de impopularidade movida pelo momento difícil que vivemos na economia. Está fragilizada diante de um Congresso cujo comando foi tomado pelos oportunistas de plantão. O noticiário está intoxicado pelas notícias de delações em operações que pretendem apurar corrupção na máquina do Estado e chegar aos criminosos. Como se o Brasil fosse só isso. Raramente se fala, ouve ou lê sobre alguma coisa boa que tem acontecido no Brasil.

 

Em meio a tudo isto, a presidente reagiu com tranquilidade às críticas de seu maior “criador”: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A resposta da presidente sobre aquele que tenta se desvencilhar da impopularidade dela e do processo de ruína moral que vive o PT após todas as concessões que fez para conquistar e manter o poder nos últimos anos: “faz parte da democracia”.


Pano rápido.

A atriz Marieta Severo, participando de um quadro naquele abominável programa do Faustão aos domingos, na Globo, reagiu rápido ao mais do mesmo que o apresentador está acostumado a destilar na sua participação rasa quando quer comentar qualquer coisa da política nacional. “É o País da desesperança”, disse ele. Opa, peraí, não é não. É o País de muitas conquistas nos últimos anos, reagiu Marieta. Por esta, ele não esperava.



É fato. Tivemos muitas conquistas sociais nos últimos anos. A pobreza diminuiu, mais crianças foram à escola. A classe média cresceu. Muita coisa boa aconteceu. O que não justifica nem autoriza a corrupção. Não sei o Faustão, mas eu não perdi nem perco as esperanças no Brasil.



De volta ao mais recente debate que tomou conta do “mundo” globalizado: os ecos da morte e da repercussão da morte de Cristiano Araújo.


Na fogueira da vaidade dos comentários  - muitos bem estúpidos, atestado na ignorância humana nas redes sociais - o apresentador Zeca Camargo, fez uma crônica para falar de como a catarse coletiva toma conta quando se explora ao limite do bom senso a morte trágica de uma celebridade. Pelo menos, entendi, foi isso que ele quis discutir. Na forma que se colocou, evidentemente, foi infeliz. O que falou, soou como crítica ao Sertanejo Universitário, desrespeito aos fãs, e provocou uma onda em reação contrária. Hoje tudo o que se diz repercute instantaneamente na rede. E lá veio Zeca pedir desculpas, passando mais um atestado do quanto está distante das mesmas ruas onde as músicas de Cristiano Araújo ecoaram no último ano: trocou o nome do cantor pelo do jogador, Cristiano Ronaldo. Às vezes, atos falhos dizem tudo.


O problema maior, a meu ver, não é o que Zeca disse ou deixou de dizer, mas o fato de que qualquer opinião contrária à nossa, tem sido alvo de uma patrulha violenta, que beira o achincalhe público.


Olha, só quem tem o “couro grosso”, para suportar críticas pesadas, que desclassificam o autor, ao invés de combater o pensamento. Não tá nada fácil.

 

Sem entrar nos turbilhões provocados nas redes sociais pelos mercadores da fé, os quais me recuso promover citando os nomes, o que temos visto por aí, é um contraponto muito violento de opiniões e posições. Até onde isso vai?


Nos acostumamos a exercitar nos últimos anos, com o advento da Constituição Federal do fim da década de 80,  a liberdade de pensamento e de expressão. Mas para dizer é preciso ouvir. Saber falar e escutar sem ir às vias de fato tem sido o desafio.


Voltando ao início, admiro a firmeza emocional com que a presidente Dilma vem enfrentando seu turbilhão pessoal e partidário. É certo que seu governo e o PT colhem o que plantaram, mas nunca me esqueço que o governo dela, é o governo do meu País, e que como sua representante maior, dona da maioria dos votos na última eleição a ela é devido o respeito institucional. Ela responde pelo que todos nós somos e enquanto estiver sentada naquela cadeira, nos representa.


Não tenho dúvidas de que Dilma sofre sim, preconceito de gênero à frente do seu governo. Basta dar uma vota pelo Facebook e Twitter e ler os adjetivos com os quais até mulheres tidas como inteligentes a desclassificam. São coisas pessoais, de baixíssimo nível, que visam desmerecer a mulher, não a chefe de Estado. Que miram no emocional para fragiliza-la. Um caso público de ultraje nacional consentido por muitos que se calam.


Tempos extremos.

 

O mundo não anda um lugar fácil ultimamente. São estes ânimos alterados em debates sobre temas da política, religião e comportamento que têm contaminando de um extremismo perigoso as redes sociais, a ponto do Facebook - uma vitrine de pensamentos, emoções e exposição da vida privada - ter se tornado quase insuportável na última semana.


O acirramento de posições extremadas demonstra uma coisa só: a incapacidade de exercitar o equilíbrio quando alguém tem uma posição divergente da nossa. E a dificuldade em respeitar a posição do outro, sem esculhambar, desrespeitar, agredir. E olha que estamos fora de período eleitoral, que é quando as paixões tomam contornos extremados.

 

“O que está, acontecendo?”, já perguntava Cássia Eller num rock anos 90. O mundo está ao contrário e ninguém reparou…

 

Nesta tquarta-feira, 1o, no final da tarde, um grupo de Palmas, composto por pessoas de vários credos, posições políticas diferentes, e de todas as orientações sexuais, vão se reunir para rezar, orar, vibrar positivamente. Gente vestida do branco da paz têm um encontro na Praça dos Girassóis, para pedir pela Paz.

 

Não é um movimento contra nada -  até por que ser contra hoje, qualquer coisa, até contra as coisas erradas, desperta mais ódio que amor - mas um movimento a favor.

 

A favor da tolerância, da convivência pacífica entre os diferentes, do respeito às diferenças. Vale a pena, para quem é da paz e do bem, dar uma paradinha e tentar participar.

 

O mundo nunca mais voltará a ser preto e branco. Dividido entre o que há milênios se considerava certo e errado. A liberdade já raiou faz tempo. As pessoas são diferentes, o planeta tem muitas cores.
 

Que os valores do amor e da fraternidade possam estar acima de qualquer caixinha e rótulo religioso ou não. E que os humanos se suportem mais nas diferenças. Não existe outro caminho para a Paz.

 

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