Um Carnaval fora da pauta em Palmas, Capital da Fé: a diferentona...

Palmas que já foi dos blocos, como os "Filhos da Pauta"e tantos outros, se ressente da falta de continuidade, das invenções esdrúxulas e tudo que não tenha nada a ver com as manifestações populares

Sempre me impressionei com as pessoas que fazem as coisas acontecer com pouco. O pouco que têm ou o pouco de cada um que conseguem juntar.

 

Sentada numa cadeira de plástico no ambiente gramado do Canto das Artes em Taquaruçu nesta segunda-feira de Carnaval, vendo crianças brincando, enquanto as meninas que caminharam as ruas do distrito carregando estandartes desmontavam suas pernas de pau, me admirava com o clima do lugar.

 

Sempre que volto alí, tem uma novidade. Alguma coisa diferente. Desta vez as janelas de madeira com tábuas coloridas de cores diferentes me chamaram a atenção. Não que seja sempre carnaval no Canto. O ambiente é que é vivo o tempo inteiro.

 

Nesta segunda-feira meus filhos acompanharam pela segunda vez, este ano, a saída dos tambores - não aqueles da queima que antecede a saída dos bonecos do Wethemberg - pelas ruas estreitas de Taquaruçu. Crianças que participam das atividades de arte e cultura no próprio Canto, alguns da turma do Márcio Belo e seus Tambores do Tocantins, mais o grupo do Circo Os Kako.

 

A cultura respira em Taquaruçu todos os anos, o ano inteiro, por força da vontade de fazer de artistas, músicos, professores. Indiferentes a ajuda ou falta de ajuda do poder público.

 

E o Carnaval, festa da carne, tem seus traços de cultura popular, vivos em Taquaruçu, como em muitos outros lugares.

 

Entre a sede do Canto das Artes e a praça Maracaípe não dá um quilômetro de distância. Uma caminhada fácil, que fica maior, claro, andando atrás do som dos tambores, dando voltas pela Praça das Crianças, até o redondo da Maracaípe e de lá de volta. Este é o roteiro feito todo o ano, nem sei há quanto tempo, todo carnaval.

 

Este ano, sem programação nenhuma de bandas, sem palco, sem estrutura pública para amparar a festa popular, o Carnaval de Taquaruçu aconteceu do mesmo jeito. Na praça, carros de som, como de costume, tocaram seu próprio repertório. A sorte é que diferente dos finais de semana comuns, não rolou o brega e as músicas de conteúdo erótico. Um carro cheio de auto falantes tocava velhas marchinhas de salão para animar um bando de senhores barbados ou não, vestidos de mulher: “As Guaxinetes”. O grupo animado, de frente ao Bar do Guaxinin, na praça, dividiu a rua com carros, ônibus e até caminhões que continuaram trafegando, sem que nenhuma fileira de cones fechasse o espaço de diversão que a comunidade local ocupou.

 

Quando voltamos para casa mais tarde, as crianças estavam exaustas e felizes. Aqui não teve investimento este ano, diferente de 2013, quando a nova gestão de Carlos Amastha começou a  procurar o seu jeito de fazer carnaval. Aqui também não teve -  graças a Deus - Carnaval da Fé. Mas faltou um mínimo de presença do poder público municipal, pelo menos organizando o trânsito.

 

Abre parêntese.

 

Me pararam na rua hoje para fazer um comentário, pertinente também, sobre como o tradicional carnaval de Porto Nacional se perdeu. Os blocos, misturados com o carnaval de bandas, e trios, saem por volta da meia noite. "Hora difícil para um pai de família estar nas ruas com seus fihos adolescentes", comentou comigo um dos produtores do Tambores do Tocantins.

 

Fecha parêntese.

 

Assim como não concordava antes com o investimento de dinheiro público em eventos que estimulam o consumo exagerado do álcool que termina invariavelmente lotando hospitais, não concordo com esse modelo que a prefeitura adotou.A coisa mais engraçada que já li estes dias, saiu no Twitter e era mais ou menos assim: “Palmas, Capital da Fé. Berço do Cristianismo. A diferentona”… Me acabei de rir.

 

Governo bom - estadual ou municipal -  é aquele que se não ajuda, pelo menos não atrapalha. Talvez o melhor modelo de carnaval da Capital seja aquele que não ignore o que existe e deixe o povo se organizar e fazer sua festa: com blocos, tambores, ou seja o que for.Com um mínimo de presença necessária para garantir a segurança.

 

Bom recomeço de ano a todos os diferentões, depois que o Carnaval terminar.

Atualizado às 7h30

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