Em entrevista, Kátia comenta situação no PMDB: "que ética tem esse partido?"

Conforme matéria do Jornal O Globo, divulgada ontem, 18, fidelidade à Dilma pode fazer senadora ser despejada do PMDB. Kátia diz que não fará “nenhuma força nem para ficar, nem para sair”

A senadora Kátia Abreu em seu gabinete
Descrição: A senadora Kátia Abreu em seu gabinete Crédito: Foto: Jorge William

A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) foi tema de reportagem divulgada pelo jornal O Globo neste domingo, 18. Na matéria, a senadora é apontada como “a direitinha mais querida da esquerda”, comenta sua situação no PMDB, diz que não fará “nenhuma força nem para ficar, nem para sair” e fala sobre a reconstrução de sua base eleitoral, já que tem mandato até 2023.

 

A reportagem ressalta que Kátia, católica, de direita, representante dos grandes proprietários rurais, se tornara uma das principais defensoras do governo esquerdista, e ressalta que no dia do julgamento final do impeachment de Dilma Rousseff, a senadora se movimentou no plenário, interpelando cada um dos pares para pedir que votassem contra a cassação dos direitos políticos da ex-presidente. “Vinha gestando o plano do fatiamento havia pelo menos um mês e, semanas antes da sessão final, conquistara o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros, para a ideia”, aponta O Globo.

 

Ainda segundo a matéria, sem a colaboração de Kátia, a equipe de defesa de Dilma admite que a tese teria poucas chances de prosperar. Usando como argumento um livro escrito pelo então jurista Michel Temer, ela foi fundamental para produzir o resultado em que Dilma perdeu a cadeira, mas não a possibilidade de se candidatar outra vez. E, contra si, consolidou a má vontade do agora presidente e de seus aliados, que tentam expulsá-la do partido.

 

“Em meio a maior polarização política desde a redemocratização do país, a senadora ousou cruzar a linha entre direita e esquerda e vive agora uma situação política delicada. Despertou a ira de petistas quando foi indicada ao Ministério da Agricultura, em 2014”, afirma O Globo. No ministério, atribui-se a Kátia não só a conquista de mercados externos para os produtos agrícolas brasileiros como a taxa zero de reforma agrária da gestão Dilma, que enfureceu o MST, segue exemplificando a reportagem.

 

Conforme a matéria, o jogo virou quando, diante da debilidade política da presidente Dilma, os ruralistas decidiram pedir o impeachment da mandatária. Tanto a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), da qual Kátia é presidente afastada, quanto a Frente Parlamentar da Agricultura (FPA), para a qual ela era uma grande líder, embarcaram na tese do afastamento na primeira hora. E exigiram que Kátia deixasse o cargo. “Não dava. Quer dizer que quando servia aos interesses deles, era bom eu ser ministra. Quando mudaram de lado, eu tinha que abandonar a presidente? Popularidade vai e volta, mas dignidade não se recupera”, defende-se a senadora.

 

A reportagem também relembra que a senadora foi qualificada pelo ex-ministro da Casa Civil Jaques Wagner como “a direitinha mais querida da esquerda”, e revela que Kátia está às vésperas de um despejo político, quando será julgada pela Comissão de Ética do PMDB e pode perder a filiação. “Que ética tem esse partido para julgar a minha?”, dispara a senadora, que afirma que não fará “nenhuma força nem para ficar, nem para sair”.

 

O Globo também traz fala do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, autor da ação contra a senadora. “Minha motivação (em fazer o pedido de expulsão) é que ela não tem compromisso com o partido e a posição dela em defesa da Dilma só solidificou essa percepção”, afirmou.

 

À reportagem Kátia rebate os argumentos de Geddel dizendo que ele, o senador Romero Jucá e o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, homens fortes de Temer hoje, não sofreram punição quando apoiaram o presidenciável Aécio Neves em detrimento da chapa Dilma-Temer. “Não dá para não pensar em machismo em relação a mim. Na política ainda existem muitos coronéis que adoram mandar em mulher”, afirma Kátia.

 

Gabinete da senadora

“Bem-humorada e despachada, a ministra mantém em seu gabinete no Senado um Sansão, coelhinho de pelúcia usado pela personagem dos quadrinhos Mônica para bater nos inimigos. E fez questão de não tirar da parede o retrato da ex-presidente Dilma com a faixa presidencial. Retira a dramaticidade de suas circunstâncias, rechaçando que tenha cometido suicídio político. Nem de longe ela considera que vive o pior momento de sua vida. Goiana, Kátia nasceu em uma família de classe média baixa. Aos 20 anos já estava casada com um rapaz de origem humilde que, por meio de empréstimos bancários, comprou uma fazenda em um local que mais tarde comporia o estado do Tocantins. O marido comprava as primeiras cabeças de gado quando morreu em um acidente de avião. Deixou a viúva Kátia aos 25 anos, grávida de dois meses do terceiro filho do casal”, conta a matéria.

 

“Eu era dona de casa, fazia sabão de banha, enchia linguiça, mas não sabia a diferença entre um boi e uma vaca. Todo mundo me recomendou vender a fazenda e abrir um ‘negócio de mulher’. Neguei, mudei com as crianças para a fazenda e fui aprender o trabalho com os peões. E me recusei a contratar um gerente. Se eu contratasse alguém, ele ia acabar mandando em mim”, conta a senadora à reportagem.

 

Reconstrução da base eleitoral

Kátia mergulhou na campanha eleitoral municipal no Tocantins e na última semana, percorreu 20 cidades em quatro dias. Ela negou à reportagem que tenha sido hostilizada em algum desses eventos, apesar do ambiente pouco simpático a ela.

 

A reportagem finaliza apontando que a senadora tem mandato até 2023. Até lá, terá um certo tempo para reconstruir sua base eleitoral e para encontrar uma nova legenda que a abrigue, caso a expulsão do PMDB se confirme. Lideranças do PT reconhecem reservadamente que seria constrangedor filiá-la. Tampouco o PSDB se mostrou simpático à ideia. Mais provável é que Kátia migre para o PR ou o PSD. Ela, no entanto, nega sentir aflição sobre o futuro. Quem a conhece garante que a tranquilidade é genuína. A ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, com quem a senadora criou relação de confiança a ponto de fazê-la posar para foto ao lado de uma vaca em feira agropecuária, resume: “Kátia Abreu não tem medo de ser Kátia Abreu. Sacode a poeira e dá a volta por cima”.

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