Movimentos se mobilizam contra requerimento de Eli e preparam beijaço na AL

Após a aprovação do requerimento do deputado Eli Borges em repúdio ao beijo entre mulheres transmitido na Rede Globo, movimento LGBT vai realizar um ato na Casa de Leis contra a atitude dos deputados.

O Movimento Universitário pela Diversidade Sexual (Mudas) e Coletivo de Lésbicas e Bissexuais do Tocantins (Lesbitoca) vão realizar um “beijaço” na Assembleia Legislativa (AL), nesta terça-feira, 31, a partir das 9h. O ato é uma manifestação contra o requerimento do deputado Eli Borges (Pros), aprovado na última quinta-feira, 26, contra o beijo entre as atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Thimberg, exibido no primeiro capítulo da novela global Babilônia.

 

A professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e militante do coletivo Lesbitoca, Bruna Irineu, falou ao T1 Notícias que o deputado Eli Borges já é uma pessoa não grata do movimento LGBT há muito tempo. “Ele já tem um histórico de declarações homofóbicas e não nos surpreende a nota dele. O que nos surpreende é a aprovação da Casa”, disse.

 

Segundo Bruna, a invisibilidade lésbica é um dos principais motivos que levam a sociedade e os deputados a pensarem que a novela está mostrando algo que não acontece na realidade. “Mas isso acontece na vida real! É uma forma de expressão comum a diversas pessoas”, ressaltou a professora ao informar que diversos casais de lésbicas vivem com medo do preconceito e por isso se escondem.

 

Liberdade

Um dos principais questionamentos do deputado Eli Borges é o fato do beijo ter sido exibido em rede nacional e, para ele, que diz não ter preconceito e respeitar a orientação sexual de todos, o afeto entre homoafetivos deve acontecer apenas na individualidade para não ferir os princípios da família tradicional: homem, mulher e filhos.

 

A professora Bruna discorda do deputado. “Constitucionalmente temos a mesma liberdade de expressão da sexualidade como uma pessoa hétero e uma casa legislativa, que devia fazer a defesa, se coloca endossando uma propositura homofóbica e desrespeitosa”, disparou.

 

Bruna lembrou que o Ministério da Justiça é quem regula a classificação etária da televisão. “O Ministério coloca a cena de beijo LGBT (Lésbico, Gay, Bissexual e Transexual) no mesmo rol da cena de beijo hétero, ou seja, não faz distinção”, ressaltou a professora ao destacar que “os nossos legisladores deviam ter conhecimento para informar a população e deviam fazer isso de forma laica”, ou seja, não estando sujeito nem sendo influenciado por religião.

 

Quanto ao fato do deputado falar sobre os princípios da família tradicional, a professora Bruna rebateu ao lembrar que as famílias, já há muito tempo, não existem dentro de um padrão pré-definido. “Ele [Eli Borges] não tem conhecimento do que é a família tradicional brasileira. Não existe família papai, mamãe e filhos há muito tempo. O que existem são diversas formas de família, como somente uma mãe ou um pai, filhos que são criados por avós, temos a adoção homoparental e diversas outras”, informou.

 

Bruna Irineu falou, ainda, que o beijo lésbico na televisão não é uma novidade. “Já vimos, inclusive em outras novelas, relacionamentos lésbicos e gays, mas nunca da forma que está sendo retratado. Duas mulheres idosas que têm filhos, bem sucedidas e uma vida em família. O preconceito vem, ainda, com a questão geracional, o machismo e o sexismo chegam ao ponto de não aceitar a visibilidade de duas mulheres lésbicas e felizes. Podem ser lésbicas, desde que não seja minha mãe ou minha irmã e que eu não veja”, criticou.

 

Nota de repúdio

O Mudas e o Lesbitoca produziram, em conjunto, uma nota de repúdio à matéria aprovada na AL, na qual ressaltam que a mesma vai contra o direito de livre expressão artística e, principalmente, ao direito das pessoas se relacionarem independente de sua orientação sexual e identidade de gênero.

 

Confira a nota na íntegra

O MUDAS  (Movimento Universitário da Diversidade Sexual) juntamente ao LESBITOCA (Coletivo de Lésbicas e Bissexuais do Tocantins) repudiam a moção aprovada essa quinta-feira, 26/03/2015, na Assembleia Legislativa do Tocantins, condenando o beijo lésbico na novela Babilônia.

 

A moção foi votada na quinta-feira (26/05) e aprovada por 12 deputados estaduais. Diante deste cenário importa pontuar que apesar da garantia constitucional a livre expressão assegurada a todos os parlamentares, a referida moção atenta contra o direito da livre expressão artística e mais ainda ao direito à liberdade das pessoas de se relacionarem independentemente de sua orientação sexual e identidade de gênero.

 

Além disso, chama atenção o demasiado zelo dos parlamentares da Assembleia Tocantinense na regulação de algo que foge de sua competência, qual seja a concessão de serviços de telecomunicações, a livre expressão artística e a livre orientação sexual.

 

No entendimento dos movimentos de defesa dos direitos LGBT a Casa de Leis deveria ser o espaço de garantia de direitos do cidadão e não de restrição à direitos humanos fundamentais.

 

Mas do que isso a moção configura uma forma de discriminação e violência contra a população LGBT, fazendo com que seu discurso fuja dos limites da liberdade de expressão e adentre na vala do discurso de ódio contra minorias.

 

Nesse contexto, chama a atenção a equivoco da elaboração e propositura da moção pelo deputado Eli Borges, em algo de natureza artística e cultural que diz respeito a expressão da sexualidade das cidadãs e cidadãos brasileiros.

 

Assim, repudiamos a moção aprovada pelos deputados e nos colocamos a disposição para dialogar com a casa de leis na elaboração de normas que contemplem o respeito a diversidade sexual e identidade de gênero.

 

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