2021: o ano para o qual saltamos sem paraquedas

Recebemos o ano novo com aquela sensação de que fomos empurrados para fora do avião, mas não nos deram um paraquedas...

Imagem ilustrativa.
Descrição: Imagem ilustrativa. Crédito: Bruno Rocha/Estadão Conteúdo

Encerramos 2020 com uma sensação de alívio. Durante os minutos que antecederam 2021 pude ouvir claramente um ufa coletivo, por meio de várias manifestações nas redes sociais. O início de uma década que entrará para os livros de história, um ano difícil, que se resumiu ao carnaval, pandemia e eleições municipais.


Por falar em dificuldades, o bom do ano novo é aquele sentimento de fim de um ciclo, renovação das forças e (re) começo. Chegamos em 2021 cheios de expectativas, muita esperança e sonhando com a vacina. Apesar dos inúmeros projetos, de acreditar que o ano será bom, pois vamos trabalhar com todas as forças para isso, recebo o ano novo com aquela sensação de que fomos empurrados para fora do avião, mas não nos deram um paraquedas.

Iremos sobreviver? Certamente! Mas não podemos fechar os olhos para as sequelas. A desigualdade no Brasil é um fator latente, faz parte do nosso normal, e a ressaca da pandemia vai evidenciar com maior clareza esta discrepância entre as classes. Com o fim de 2020, encerrou também o decreto de estado de calamidade pública, adotado em março pelo Governo Federal. Cabe ressaltar a atuação do Congresso Nacional que aprovou medidas a fim de minimizar os impactos econômicos.


A meu ver, o Auxílio Emergencial e o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), foram os principais. Foi o Congresso que estipulou o valor de R$ 600, uma vez que o Governo Federal sugeriu R$ 200; estendeu o período do benefício e priorizou as mães chefes de família. O Auxílio Emergencial beneficiou 80 milhões de brasileiros, movimentou a economia, mas foi encerrado. Hoje, me pergunto como estas pessoas sobreviverão, sem este valor que lhes garantia o mínimo?


Com carência de seis meses, juros subsidiados pela União e a obrigação de não demitir os colaboradores, o Pronampe deu fôlego às empresas e estabilidade aos prestadores de serviços, ao liberar o crédito. Como sou de humanas e matemática claramente não é meu forte, não sei dizer se o Brasil conseguiria dar continuidade aos benefícios sem causar um rombo na economia do País. E as famílias brasileiras como ficam?  Sem a vacina, muitos precisam escolher sair de casa para trabalhar ou ficar em casa e não ter o mínimo que garanta a subsistência. Aqueles que continuam com seus empregos, no atual cenário, são privilegiados.


Me perdoem o egoísmo, mas vibrei ao ler que o Ministério da Economia suspendeu a exportação de seringas e agulhas. Do que adianta termos a tão esperada vacina, se não tivermos as seringas? É hora de pensar em nós.  Os países ricos estão estocando sem se preocupar, a alta do dólar desperta o interesse na exportação, mas precisamos ter um olhar humanizado, uma visão global dos fatos. Sei que as vendas são importantes, mas o mínimo de estabilidade está diretamente ligado ao início da vacinação.


Começamos o ano com muitos problemas. A pandemia não acabou, a vacinação não começou e os benefícios sociais cessaram. Hoje muita, muita gente vive em situação de miséria e vulnerabilidade. Que o ano novo nos traga, ao menos, consciência social e empatia para que os resquícios de 2020 tenham o mínimo de sequelas e possamos tornar este um ano realmente ímpar.

 

Thaís Souza é jornalista, especialista em Docência do Ensino Superior, pós-graduanda em Análise e Marketing Político e atua em Assessoria Política.

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