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O que esperar da ainda conservadora Câmara (renovada) de Palmas

A ideia de que a Câmara piorou é apregoada pelos frustrados em ver seus candidatos perderem a eleição. Sem grandes avanços, a troca de cadeiras e a representação feminina garantem melhores ares

Crédito: Leidiane Silva

Quando o resultado do desempenho de cada candidato a vereador começou a ser computado no site do TSE – antes do travamento – na noite do domingo, 15, muitas expectativas em torno da renovação dos quadros desta legislatura, por uma melhor, começaram a se frustrar.

 

Quando a apuração terminou - além da frustração dos sem voto - outro mal-estar tomou conta de grupos que esperavam mais. Na verdade, esperavam ver em Palmas um pouco do que aconteceu em outros centros: a vitória de mandatos populares, de mandatos coletivos, de mulheres ligadas a movimentos sociais e pautas de esquerda, de negros que assumem a sua negritude como pauta e bandeira.

 

Ainda não foi desta vez.

 

Mas desde domingo à noite insisto em combater o pessimismo com uma constatação fática: Apesar de tudo, a Câmara de Palmas mudou para melhor.

 

Primeiro, por que mudou. A simples renovação acima de 60% - 11 dos 19 vereadores assumirão o primeiro mandato de vereador, 10 o primeiro de suas vidas, já é positiva.

 

Isso, por que a dinâmica do jogo de forças se renova, retirando pessoas em mandatos que estavam se repetindo, conferindo poder de manipulação, perpetuando uma forma viciada de agir, em vários casos.

 

Entre os novos, o que desestimulou especialmente a “bolha” que marca presença na rede mais política de todas, o Twitter, foi a prevalência do voto fisiológico.

 

Embora jovem capital, Palmas repete o modelo que vem do interior: a eleição do político tradicional, a eleição do filho do político, a eleição de quem tem mais dinheiro para negociar apoios e votos.

 

Mas um ar de renovação chega também com os novos eleitos, para além dos que representam o poderio econômico.

 

O que dizer da luta emblemática da Iolanda Castro, que na sua primeira tentativa enfrentou o poder de desarticulação da própria família sobre ela e acabou rompendo com parte dos Castro? 

 

Professora, feminista, lutadora, Iolanda não desistiu. E construiu o mandato alimentando as relações, caminhando com o grupo que construiu ao longo de anos, e dessa vez, escondendo os apoios para não serem novamente bombardeados. Atingiu a marca dos 762 votos, menos do que os demais colegas de legislatura, mas o suficiente para ser a primeira no PROS, partido que ficou em segundo lugar. Certamente fará um mandato diferenciado, pela forma que chega: sem vícios.

 

As mulheres ampliaram sua representação com um mandato pelo PT, da ex-deputada Solange Duailibe, que retorna ao cenário político onde trafega bem. Laudecy Coimbra renovou seu mandato também com luta e dificuldade, superando os votos do principal adversário, Jaime Café, que teve apoios importantes na reta final.

 

A incógnita é Janad Valcari, que teve o apoio do vereador Filipão (do Democratas), decidido a não disputar mais. Ela que vem de uma representação empresarial: os donos de escolas particulares e que iniciou um movimento ainda no momento mais crítico da pandemia pela retomada das aulas.

 

Muitas mulheres ficaram também em suplências, o que no decorrer dos próximos anos, pode trazer para as cadeiras da Câmara, nomes ligados a movimento de bairro, como Valtônia, do Taquari.

 

Entre os homens chegam novos nomes que serão testados na capacidade de representar os interesses coletivos. Júnior Brazão e Lacerda do Gás,do PSB, por exemplo, superaram nos recursos, a votação de Alexandre Peara, que encabeçou a proposta de mandato popular levada às ruas da capital pelo Somos, ao lado de Thamíres e Augusto.

 

Abraçados como algo novo e possível de fazer a diferença, o trio sofreu bombardeio acirrado de militantes de esquerda que sentiram a disputa no nicho de votos que esperavam conquistar: especialmente a juventude de ambiente universitário.

 

A derrota das esquerdas, mesmo construindo resultados interessantes, é tema para outra conversa.

 

Além dos vereadores já conhecidos, como Filipe Martins, a bancada evangélica ganha um novo membro, da base da prefeita, Eudes Assis e um segundo, Pastor Daniel, eleito pelo Republicanos.

 

Marilon Barbosa o mais votado, contou com o suporte de dois gabinetes fortes, o do irmão vice-governador e o do sobrinho, deputado estadual. Jucelino Rodrigues, o mais antigo dos reeleitos, se perfila ao lado de Rogério Freitas(MDB).

 

Também além deles e de Laudecy Coimbra, renovaram os mandatos, José do Lago Folha Filho, Moisemar e retorna a Câmara, Waldson, ex-Agesp, eleito no Avante.

 

Entre os novos, destaque ainda para Márcio Reis, único eleito do PSL, marido da deputada Vanda Monteiro, eleito com um gasto enorme, na chapa majoritária do voto mais caro de Palmas. Também dos estreantes, Pedro Cardoso, filho do deputado Cleiton Cardoso e os dois menos conhecidos: Joatan e Rubens Uchôa do Cidadania.

 

A princípio, um legislativo é o reflexo exato do povo que representa. Não é de se estranhar que a nova Câmara seja conservadora, familiocrata. Falharam os segmentos mais avançados, sobretudo na estratégia. Mas ainta assim essa nova legislatura tem contrapontos interessantes.

 

A partir de fevereiro, vamos observar com o andar da carruagem, como as abóboras se encaixam...

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