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Uma semana de trama para derrubar Cinthia: Carlesse interfere, mas acordo não veio

Grupo de vereadores chegou a consultar jurista para montar peça e assessorar um impeachment. Prefeita passou a semana trabalhando nos bastidores para desarticular e ajuda veio de... Carlesse

Prefeita Cinthia Ribeiro e governador Mauro Carlesse.
Descrição: Prefeita Cinthia Ribeiro e governador Mauro Carlesse. Crédito: Antônio Gonçalves/Governo do Tocantins

A semana que começou com uma reunião de um grupo de vereadores no gabinete do pai do vereador Pedro Cardoso, da base da prefeita, termina nesta sexta-feira, 9, sem tratativas finais que impeçam que ações políticas e jurídicas de afastamento da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) sigam seu curso na próxima semana. Se não houver acordo.

 

Muito se caminhou para isso, mas até o final da tarde de ontem, quando a prefeita deixou o Palácio Araguaia, após uma conversa longa com o governador Mauro Carlesse sobre as exigências que o grupo faz (fala-se em 10, mas parece que fechados mesmo são 8), o martelo ainda não tinha sido batido. Os dois que fecham a conta são os vereadores do PSB, que Amastha veio a público dizer que não participarão de golpe.

 

O fato é que esta semana entra para a história política da capital, como crucial pelo quanto avançou a trama pelo afastamento da prefeita. Ganhando força e perdendo força.

 

Ganhou porque o grupo, articulado, chegou “com a faca no pescoço”. Querem um pacotão de cargos. Para falar bonito: espaço na gestão. Nota-se que a maioria estava em outros palanques na eleição do ano passado, quando a prefeita venceu 11 adversários desunidos. A oposição, somada teve mais votos, mas dividida, não superou os votos da prefeita.

 

Perdeu força porque a interferência/influência do governador no quadro foi fundamental.

 

Há muita coisa em jogo nesta história toda.

 

Antes de falar em afastamento, precisa haver um motivo e não existe improbidade administrativa da prefeita em nada do que foi denunciado até agora pela presidente da Câmara, Janad Valcari (Podemos), que disse ao Blog ontem, quinta-feira, 8, que não quer cargos, “nem dinheiro”, mas ser respeitada e trabalhar pela cidade.

 

Existem suspeitas, áudios que não foram compartilhados, mas entregues à Polícia Federal, onde Janad foi ouvida nesta quinta. E a acusação de superfaturamento em testes para Covid-19 e compra de Ivermectina.

 

Processos que tramitaram pela Semus e pelo Fundo Municipal de Saúde (desvinculado da tesouraria e da Finanças desde a gestão Luiz Teixeira/Carlos Amastha) e que tem ordenadores de despesa próprios. Os processos do ano passado foram todos assinados pela então secretária Valéria Paranaguá, que já não está mais entre nós. O deste ano, da lavra de Durval Júnior, já desligado da Semus.

 

 A prefeita tem participação em desvios? Ao Blog, ela negou com veemência. "Nunca me apropriei de recurso público e ninguém pode dizer que fez isso com a minha autorizaçã ou ordem". Ela tem o benefício da dúvida, e a verdade do que ocorreu nesses processos, só uma investigação completa mostrará.

 

Nem a perda de R$ 50 milhões de reais em fundos podres no PrevPalmas foi motivo para a Câmara de Palmas afastar Carlos Amastha, que negou participação no esquema e não foi provado nada contra ele, mesmo depois da CPI. Em vídeo nesta semana, ele deixou claro que mesmo adversário, não embarca em “projeto golpista”.

 

Na intermediação pela crise feita pelo governador, a presidente da Casa nega que esteve no Palácio Araguaia para conversar sobre este tema e baixar o tom, dando governabilidade à prefeita Cinthia Ribeiro. No entanto, duas fontes diferentes deram notícia da vereadora e de outros seus colegas, transitando pelo Palácio na quarta-feira, 7. Entraram pela porta da frente. Ninguém usou elevador privativo. Então, fica difícil negar.

 

Da presidente, uma foto e um áudio chegaram o Blog, confirmando sua passagem por lá.

 

Janad argumenta não ter interesse por cargos e que tem seu próprio dinheiro. Pode ser, mas o restante do seu grupo – os 10 seriam ela e os nove que a garantiram, num primeiro momento, para a presidência – pediu sim. E muito.

 

Não se trata apenas de cobrar participação na gestão, mas cargos de primeiro e segundo escalão, conforme apurou o blog. O que Cinthia está disposta a ceder pela governabilidade é uma incógnita. O fato é que a “goela larga” de alguns provocou a reação na manhã desta sexta-feira,do líder da base governista, vereador Rogério Freitas.

 

 

“Eu respondo politicamente pelo que eu digo. Eu nunca vi um nível tão baixo de uma Câmara como nessa legislatura. Ninguém discute um projeto para o bem da cidade. Temos as obras da CAF, 1/3 dos recursos para decidir onde colocar, como fazer, mas toda sessão é denúncia e denúncia”, disse o vereador ao T1 Notícias, conforme matéria que vai no portal.

 

Uma nova interpretação regimental facilitaria o afastamento da prefeita. Até o ano passado, era ponto pacífico que apenas a maioria qualificada afasta por três meses a gestora, enquanto corre o processo de Impeachment. Agora, um parecer foi encomendado a um advogado do eleitoral, onde se aponta que a maioria simples bastaria. Guerra jurídica pronta que se avizinha se o caminho adotado for este.

 

O fato é que, entre idas e vindas, uma coisa mudou no cenário regional: a aproximação do governador Mauro Carlesse da prefeita. Consultado, o governador negou apoio ao golpe. A dúvida que ficou no ar é porque dois vereadores da base e ligados ao Palácio: Pedro e Marilon estão no meio disto.

 

O gesto do governador, que chamou a prefeita para conversar, teve como resultado prático disso um Mauro Carlesse pacificador da situação, que acabará sendo visto como um avalista deste acordo pela governabilidade, caso o mesmo chegue a se efetivar nas próximas horas.

 

E por que? Governador e prefeita afinaram o discurso e as ações no combate à pandemia há duas semanas. Para Carlesse, ter a gestora da Capital - que venceu legitimamente sua eleição - ao seu lado, nos projetos políticos futuros, é um ganho.

 

Nesta sexta, o que se observa é que a trama do impeachment de Cinthia esfriou com a entrada de Carlesse na discussão.

 

Dialógo com os vereadores é óbvio que tem que haver. O que articuladores próximos à prefeita dizem é que ela não venceu uma eleição dura para lotear a gestão na base da chantagem. O nível precisa ser outro: de participação, colaboração e divisão de responsabilidades. Nível republicano. Se o patamar for atingido nas conversações, a coisa toda esfria de vez.

 

Se não, semana que vem tem mais. Direto da tribuna da Câmara. Que já se tornou palco de espetáculo.

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