96% das travestis e trans já sofreram ataques e 90% se prostituem para sobreviver

Dados da Associação das Travestis e Transexuais do Tocantins revelam que 90% desta população na Capital escolheu a prostituição por falta de oportunidades de trabalho

Equipes da Defefensoria, Atrato e prefeitura fazem atendimento
Descrição: Equipes da Defefensoria, Atrato e prefeitura fazem atendimento Crédito: Cinthia Abreu/Defensoria

Dados da Associação das Travestis e Transexuais do Tocantins (Atrato), divulgados pela Defensoria Pública do Tocantins nesta segunda-feira, 19, apontam que vivem atualmente em Palmas cerca de 30 travestis e transexuais. Destes, 90% escolheram a prostituição por falta de oportunidades de trabalho. Ainda conforme os dados, apenas 59,4% das trans estudaram até o 3º ano do ensino médio e 96,4% já sofreram ataques físicos. A Associação ainda aponta que 45% deles saíram de casa entre os 13 e os 17 anos, por preconceito da família, e que três casos de transfobia e homofobia foram registrados em Palmas em 2017.

 

A falta de oportunidades no mercado de trabalho foi identificada em atendimento nos pontos de prostituição em Palmas, realizado pela Defensoria, por meio do Núcleo Aplicado de Defesa das Minorias e Ações Coletivas (NUAmac Palmas), em parceria com a Atrato e a Prefeitura de Palmas na noite da última quinta-feira, 15.

 

Relato

 

“Eu sempre fui um ‘menino afeminado’. Por causa disso os meus pais nunca me aceitaram e me expulsaram de casa ainda criança. Segui a minha vida batalhando em busca de um futuro melhor, fui feirante, técnico em parques de diversão, assistente administrativo, vendedor no shopping, mas quanto mais eu me aproximava da minha essência, mais dificuldade eu tinha de arrumar emprego. Hoje, o máximo que eu consigo são algumas faxinas como diarista e bicos em salão de beleza, mas mesmo assim as pessoas não me querem dentro de casa, por isso resolvi me prostituir”, explicou a trans que adotou o nome de Juliana Vendaval.

 


Há três anos, o principal meio de sustento de Juliana é a prostituição nas ruas, a “pista”, como ela chama. “Quando eu luto contra quem eu sou, fico cada vez mais infeliz. Já tentei me matar várias vezes, até que eu percebi que Deus me quer viva, pois se foi ele que me deu a vida é só ele para tirar”, relatou Juliana, emocionada.

 

Prostituição

 

A história de Juliana está refletida em dados da Atrato, que mostram Palmas, atualmente, com cerca de 30 travestis e transexuais, dos quais 90% escolheram a prostituição como forma de sobrevivência por falta de oportunidade no mercado de trabalho.  “O mercado de trabalho tenta nos apagar. Na maioria das vezes, as empresas não querem saber o que você tem a oferecer, por isso, a única saída, então, é a prostituição”, afirma a presidente da Atrato, Byanca Marchiori.

 

A história da presidente da Associação é um caso raro em todo o movimento. Ela conta que também teve que se prostituir para sobreviver, mas conseguiu uma oportunidade de trabalho que mudou sua história. “Hoje eu sou técnica de enfermagem e instrumentadora cirúrgica, concluindo o curso de Enfermagem”, orgulha-se. Ela lembra que há poucas trans que conseguiram vaga no mercado de trabalho. “Que eu tenho conhecimento só tem eu, uma secretária de uma escola no município de Palmas e uma assessora de órgão público”, ressalta.

 

Para a coordenadora do NUAmac, defensora pública Letícia Amorim, no mercado de trabalho a sociedade e as políticas públicas ainda estão longe de promover a inclusão à população trans. Segundo a Defensora, a falta de oportunidade no mercado de trabalho deságua em outros graves problemas, tais como o suicídio. “É necessário ampliar o acesso desta população à prevenção, proteção e assistência à saúde, além de ofertar atenção integral às suas necessidades”, disse.

 

Prefeitura

 

Participaram da visita, representantes da Superintendência de Promoção das Políticas Públicas aos Direitos Humanos de Palmas, do Núcleo Aplicado das Minorias e Ações Coletivas de Palmas (Nuamac) Palmas, da Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO), e da Associação das Travestis e Transexuais do Estado do Tocantins (Atrato).

Para o superintendente de Promoção das Políticas Públicas aos Direitos Humanos de Palmas, João Paulo Procópio Vieira Silva, muitas travestis e transexuais optam pela prostituição como meio de sobrevivência.  “Nós temos vários casos, inclusive de uma travesti que trabalha na pista para pagar a faculdade”, disse.

João Paulo ainda falou sobre a dificuldade das travestis em se inserirem no mercado de trabalho. “A dificuldade para a inserção no mercado de trabalho é um problema sério para elas. Temos, por exemplo, uma travesti que estava indo bem na seleção para emprego, quando notaram que havia inconsistência no nome do documento de identidade, com o nome apresentado no currículo, ela foi eliminada da seleção”, disse.

 

(Com informações da Ascom/Defensoria Pública)

 

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