Isolamento social leva artistas de Palmas a buscarem alternativas de sobrevivência

Diante das dificuldades por que passam, produtora cultural sugere à Fundação Cultural do Município que reverta os recursos do fundo de cultura em benefícios dos artistas que estão em dificuldade

Músicos que sobrevivem exclusivamente da música passam maior perrengue
Descrição: Músicos que sobrevivem exclusivamente da música passam maior perrengue Crédito: Yane Freitas

Com a instalação da pandemia pelo Covid-19, doença provocada pelo novo Coronavírus, o setor que primeiro se impactou foi o cultural, dado que o isolamento social tirou do mercado, imediatamente, uma boa leva de produtores culturais, cantores e músicos que ganhavam a vida pelos bares e bailes da vida da Capital. Como a quarentena impediu aglomerações, o cantor ficou impedido e ir onde o povo está.

 

Quem vive da música, especialmente em Palmas, sofre todos os efeitos dessa pandemia, porque muitos tiveram seus rendimentos financeiros reduzidos à zero no momento em que se decretou a proibição de aglomerações. Foram atingidos aqueles profissionais que estão no front da batalha diária para sobreviverem da arte: produtores culturais, músicos, cantores e artistas de rua.

 

A pauta do momento tirou do tom muitos músicos, que ficam fora do diapasão e hoje estão sendo ajudados por amigos, com cestas básicas. Júnior Sete Cordas, por exemplo, está numa campanha para dar esse socorro emergencial.

 

O coordenador do projeto Aldeia Taboka Grande, Mestre Wertemberg Nunes, preceitua que existe uma política de criminalização da cultura como se arte e a política social fossem a mesma coisa e que já vinha colocando em risco a sobrevivência da classe artística e, em especial, músicos da noite, pontos de cultura, artistas de circo de rua, artesãos e tantos outros que dependem do retorno financeiro à vista.

 

O homem dos bonecos gigante acredita que esse momento exige que o artista crie alternativas, como “negócios e infoprodutos” (um produto digital distribuído de forma gratuita ou paga na internet), que segundo ele, vai ser a saída para os artistas, nesse momento de crise.

 

Wertemberg disse que estava preparando um encontro de bonecos para o mês de julho, com a realização do festival Capoeboicongo, mas agora já começa a planejar possibilidades para essa atividade acontecer virtualmente.

 

Heitor Oliveira é compositor, professor do Curso de Licenciatura em Teatro da UFT e Doutor em Composição Musical pela UFRGS. Ele reconhece que a situação não está fácil para ninguém, mas é mais aguda para quem sobrevive exclusivamente de atividades culturais, principalmente músicos e cantores. “É preciso muita calma e contar com ajuda de familiares e amigos”, aconselha Heitor.

 

Heitor Oliveira

 

“No meu caso, a situação de crise é menos desfavorável, porque tenho uma fonte de renda fixa, na minha atuação pedagógica, no campo acadêmico, trabalhando em home office, numa condição adaptada atualmente”, explica.

 

O maestro estava com um projeto para ser realizado no final deste mês, no teatro do Sesc, inclusive com as passagens dos músicos já adquiridas . O espetáculo foi suspenso e Heitor está numa situação de incerteza, porque não tem garantia ainda do ressarcimento do dinheiro pago por essas passagens.

 

Quem está comendo o pão que o inimigo invisível amassou é o cantor e compositor Mário Xará. Embora reconheça a necessidade do isolamento social, ele avalia que nesse novo palco da vida, os artistas, músicos, produtores culturais e professores “ficaram imediatamente desassistidas e passam por sérios problemas financeiros e emocionais”.

 

Além dos danos materiais e físicos, ele leva em conta o que classifica de agravante psicológico, que é o fato de lidar com a não apresentação, a não possibilidade de se manifestar artisticamente em público, “que é um desafio tão abrupto para as pessoas que se dedicam integralmente às atividades da música, do teatro, da dança etc”. “Os artistas são serventes de pedreiro na obra das grandes emoções”, poetiza.

 

O produtor cultural e músico Diego Brito raciocina que, de uns dois anos para cá, houve um desmonte muito grande dos órgãos de proteção dos músicos, que são os sindicatos e a ordem dos músicos. “Temos que nos reinventar no sentido de nos fortalecermos  por meio dessas instituições; não adianta só reclamar, isoladamente”, defende.

 

Uma das alternativas apontadas por Diego Brito é recorrer mais aos trabalhos online, que é uma fonte de renda que vai dando para minimizar esse perrengue financeiro, nesse momento. E acha que a questão tem que ser discutida coletivamente, mesmo que de forma virtual. “Deixar um pouco o ego e o narcisismo de lado e partirmos para alternativas que nos unifiquem”, cogita.

Diogo Brito

 

Fundo de cultura

 

A produtora cultural e diretora de teatro Ândrea Bangoin  especula que, mesmo com o fim do isolamento rigoroso, a nova situação vai obrigar o pessoal do mercado das artes e da cultura a repensar, inclusive, como será o comportamento social depois da quarentena.

 

Para ela, a produção cultural não vai parar, porque faz parte do processo criativo. “Agora, saber como sobreviver dessa produção é que é o grande impasse”, conjectura a produtora.

 

Diante das dificuldades que muitos artistas estão passando em Palmas, Ândrea sugere à Fundação Cultural do Município que reverta os recursos do fundo para financiamento de projetos culturais em benefício desses profissionais tocantinenses, principalmente os que sobrevivem exclusivamente da sua arte. “Vamos fazer uma campanha e uma corrente nesse sentido”, conclama .

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