Professor do IFTO de Palmas se torna o primeiro mestre em Educação cego do Tocantins

O professor defendeu sua dissertação de mestrado na última terça-feira, 11, no Campus de Palmas da Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Professor defendeu sua tese na última terça-feira, na UFT
Descrição: Professor defendeu sua tese na última terça-feira, na UFT Crédito: Divulgação

No Dia Nacional do Cego, comemorado em 13 de dezembro, o Campus Palmas, do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), conta a história e destaca a conquista do professor de História da unidade, Euler Rui Barbosa, que se tornou nesta semana o primeiro mestre em Educação cego do Estado do Tocantins. O professor defendeu sua dissertação de mestrado na última terça-feira, 11, no Campus de Palmas da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

 

Realizada durante dois anos a pesquisa do professor teve como tema a pessoa com deficiência visual e o processo de aprendizagem. “Busquei mostrar os caminhos e descaminhos que ocorrem na aprendizagem da pessoa com deficiência visual, pois sabemos que é uma realidade muito triste. É uma trajetória muito solitária, pois muitas vezes a própria pessoa com deficiência ou a sua família é que busca adaptar o material. Muitas vezes é preciso que alguém da família ajude lendo o material, porque a escola, o sistema educacional, não oferece as tecnologias disponíveis para a inclusão”, explica o professor. 

 

Segundo Barbosa o objetivo de seu trabalho foi apontar caminhos para a inclusão no Ensino Médio e para isso seu trabalho abordou como se dá a aprendizagem da matemática em sala de aula. “A escolha pela matemática deve-se ao fato de se utilizar muito o visual durante as aulas. Tem muitas fórmulas e as aulas não são descritivas. É preciso utilizar recursos tecnológicos que incluam os estudantes cegos e nossa pesquisa apontou diversas tecnologias que podem tornar o ensino da matemática mais acessível”, ressaltou.

 

Acostumado à rotina de superação, o professor diz que chegar ao título de mestre não foi fácil. “Foi muito difícil. Foi um trabalho muitas vezes solitário, pois na maior parte do tempo não tinha monitoria. Contei com a ajuda de amigos e minha orientadora. Muitas vezes tive que vencer preconceitos e barreiras, como a falta de acessibilidade por exemplo”, lembra o professor, que conta que teve que digitalizar os livros e depois passa-los para o Braillepara poder prosseguir com sua pesquisa.

 

Coragem para vencer

 

De acordo com o professor tornar-se mestre não o engradece, mas tem um significado muito especial. “Me sinto realizado, com uma missão cumprida, mas esse mestrado não me engrandece. Me traz uma grande responsabilidade, pois estou desbravando os caminhos para que outros possam acreditar em si mesmo e perceber que as oportunidades existem. Acho que fazer esse mestrado foi um ato de coragem que tive e é essa a mensagem que quero deixar para as pessoas com deficiência, que é preciso ter coragem e perseverança”.

 

Tendo como missão disseminar a inclusão, Euler enfatiza a importância de acreditar em si para superar os desafios. “Limitações e dificuldades todo mundo tem. É preciso acreditar em si mesmo. Se quer fazer um curso e se profissionalizar é preciso correr atrás, pois todos podem conseguir. Costumo sempre repetir esse pensamento “a maior tristeza de não haver vencido, é a vergonha de não ter lutado”. Então é preciso ter coragem de enfrentar os desafios e preconceitos. Eu sou resultado de um processo de inclusão, então esse é o meu proposito de vida”.

 

O recém-intitulado mestre revela que já sonha com um futuro doutorado. “Já estou namorando alguns editais de doutorado. Acredito que se é possível fazer, porque não tentar?”, questiona ele, que destaca que seu maior sonho hoje é oportunizar que outras pessoas com deficiências também possam sonhar. “Enquanto professor e advogado meu objetivo maior é colocar em prática a função social da minha profissão. Meu sonho é que toda pessoa com deficiência consiga galgar seus sonhos. Hoje esse é meu maior sonho, oportunizar que outros também possam sonhar”, finalizou.

 

História que inspira

 

Natural de Paranã, município do interior do Tocantins, o professor Euler Rui Barbosa perdeu a visão aos 20 anos, em 1997, após um acidente doméstico. O professor passou por uma reabilitação em 1998 e após resolveu dedicar-se aos estudos. Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), se especializou em Historia em Educação Especial. Em 2005 resolveu dedicar-se a concursos públicos e passou em quatro no Estado de Goiás.

 

Em 2006 voltou para o Tocantins ao ser aprovado em concurso público municipal de Paranã. Em 2010 passou no concurso do município de Palmas e assumiu função na área de educação especial da Secretaria de Educação do Tocantins. No mesmo ano foi aprovado e iniciou o curso de Direito no CEULP ULBRA.  Em 2012 passou no concurso para professor efetivo do IFTO. Em 2014 concluiu o curso de Direito, sendo aprovado posteriormente pela OAB e atualmente atua em diversas áreas. Em 2016 foi aprovado para o Mestrado em Educação da UFT, que concluiu neste ano de 2018. Atualmente o professor leciona para o Ensino Profissionalizante Integrado ao Ensino Médio do Campus Palmas e está à frente do Núcleo de Atendimento às Pessoa com Necessidades Especificas (NAPNE).

 

Inclusão no Campus Palmas

 

Atualmente seis estudantes com deficiência visual, sendo um cego e cinco com baixa visão, cursam o Ensino Profissionalizante Integrado ao Ensino Médio no Campus Palmas. A unidade conta com a Coordenação de Educação Inclusiva e Diversidade, com o Núcleo de Atendimento às Pessoa com Necessidades Especificas (NAPNE) e com diversos programas de inclusão. Para a coordenadora de Educação Inclusiva e Diversidade do Campus Palmas do IFTO, Alini Albuquerque, a conquista do professor é um marco para a instituição. “Ter um professor cego conquistando um titulo de mestre é importantíssimo para nossa instituição, principalmente porque mostra os nossos estudantes que o limite às vezes está em cada um de nós. As pesquisas apresentadas pelo professor Euler poderão contribuir muito para o processo de inclusão de alunos com deficiência visual em nossa instituição”.

 

(Com informações de Eliane Vieira)

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