Professora que testemunhou aluno ser vítima de cyberbullying lança livro sobre o tema

A obra mostra uma pesquisa realizada com depoimentos, na íntegra, dos entrevistados que já foram vítimas de cyberbullying

Professora lança livro
Descrição: Professora lança livro Crédito: Divulgação

Após ser testemunha do sofrimento de um aluno que foi vítima de cyberbullying em um colégio de Palmas, a mestre em Educação, Sônia Maria dos Santos despertou para a necessidade de conscientização e discussão do tema junto à sociedade e aos adolescentes, e resolveu escrever um livro abordando os conceitos, o papel dos participantes (autor, vítima e espectador), as características e as principais consequências dessa prática.

 

“Tinha em mente a necessidade de fazer algo no sentido de conscientizar os adolescentes do perigo e nocividade do cyberbullying, alertando-os que, muitas vezes, se comete tal crime sem ter ideia do mal que ele irá causar à outra pessoa”, disse Sônia em entrevista ao T1 Notícias.

 

A autora relatou o episódio ocorrido que chamou a atenção. “Certo dia um adolescente, bolsista do meu setor de trabalho, chegou com os olhos avermelhados. Percebia-se que havia chorado, mas observei em silêncio, afinal conforme a cultura brasileira “homem não chora”. Já no final do expediente, perguntei se estava tudo bem e então ele me contou rapidamente a respeito da recente separação dos seus pais e que os colegas haviam ampliado uma foto sua mostrando seu rosto cheio de espinhas. Percebi que a separação dos pais o deixava triste, mas o que mais o incomodava era a atitude dos colegas. O que me motivou a escrever foi ver o sofrimento desse aluno e não ter com quem desabafar. Foi quando vi que a imagem possui um valor muito grande na vida do adolescente”, detalhou.

 

A obra

O livro lançado este ano e disponível nas livrarias Leitura e ABC foi tese do mestrado de Sônia. A obra aborda a família, a escola e a sociedade. “A família é a principal referência social do indivíduo, portanto o primeiro meio de socialização, civismo e cidadania e com isso um elemento-chave na formação comportamental da criança; aborda a escola, responsável pelo aprimoramento e continuidade da educação recebida na família, mas que nos últimos tempos tornou-se um palco de violências cotidianas e um grande desafio para a educação contemporânea; aborda ainda a sociedade que não vê no cyberbullying um problema social, julga se tratar de uma brincadeira e com isso fecha os olhos, isentando-se do problema”, avaliou a autora.

 

Para Sônia “outro ponto abordado é a necessidade de pertencimento: o adolescente não se contenta com a rede protetora da família e busca fora de casa outras referências para se formar como sujeito. Aí os amigos se tornam mais importantes do que os pais e passam a exercer os papéis sociais, identificam-se em comportamentos, valores e buscam segurança nessa complicada transição adolescência – vida adulta”, argumentou.

 

Vítimas e testemunhas

De acordo com um levantamento realizado no segundo semestre de 2009, pela ONG Plan Brasil, com dados de 5.168 estudantes, das cinco regiões brasileiras, foi constatado que, dos alunos ouvidos, 70% afirmam ter presenciado cenas de violência entre estudantes e 30% dizem ter sofrido agressões. Desse percentual, o bullying foi sofrido ou praticado por 17% dos consultados. A pesquisa ainda aponta que cerca de 12,5% das vítimas são meninos, e cerca de 7% são meninas, e que a maior incidência acontece na passagem do período de infância para adolescência, entre 11 e 15 anos.

 

Legislação

Devido à pertinência do tema e conforme Lei n. 13.185, que Instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), para a autora o ideal é que as escolas passem a adotar o referido livro. “O livro aborda a família, a escola e a internet e muitas vezes o cyberbullyng começa nesses redutos. Por isso acho interessante também que os pais e educadores conheçam a obra”, defendeu a autora.  

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