A Bíblia, o Estado Laico e algumas observações

Em artigo, Yanna Barbosa fala sobre as declarações da ex-senadora Marina Silva sobre o presidente da Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados, Marco Feliciano...

Yanna Barbosa
Descrição: Yanna Barbosa Crédito: Arquivo pessoal

 

Há tempos que tenho vontade de escrever sobre esse tema. Agora, tomando conhecimento das declarações da presidenciável Marina Silva, aqui estou novamente.

Em entrevista à Rádio Jornal a ex-senadora afirma que Marco Feliciano é criticado por ser evangélico e não pela sua postura em relação aos homossexuais e negros. Será que ela acha que se um católico ou um espírita, ou um umbandista, ou um budista, ou um ateu à frente de uma Comissão de Direitos Humanos se posicionasse dessa forma teria o apoio da sociedade...O pastor tem o direito de pensar, pregar da forma que bem entender, só não tem o direito de estar à frente de uma Comissão onde se exige uma imparcialidade que ele já declarou não possuir. Simples.

Mas a questão vai ainda um pouco além. Cada vez mais “termos” religiosos vão sendo incluídos em questões institucionais que contrariam a condição do Brasil de país laico. São “bancadas evangélicas”, “bancadas católicas”, impasse sobre a palavra “Deus” na Constituição Federal...tudo junto e misturado, quando o correto seria tudo bem separado.

Nunca vi a Bíblia ser tão citada em questões de políticas sociais. E de uma forma, ao meu vir, extremamente irresponsável. Um livro que até então deveria ser usado para unir, pregar o amor entre os homens, acaba  causando a discórdia.

Para mim, a Bíblia não passa de um livro que conta a história de um povo numa determinada época. Um livro que já passou por mil traduções, já sofreu inúmeras alterações  e, sobretudo, um livro que permite contraditórias interpretações. Um antigo testamento que se inicia com Adão e Eva (que segundo um amigo meu, nada mais é do que a descoberta da consciência humana), cita Caim e Abel e por ai vai sem qualquer referência à reprodução humana ou a outros povos que viviam no mundo nessa época. Um novo testamento que conta a história de um líder, para mim, muito mais político do que religioso, que nasceu de uma virgem... E que não escreveu nada. Outros o fizeram. E numa época em que  o pecado de comer carne de porco se misturava ao apedrejamento de adúlteras  e era tão grave como deitar homem com homem.  Um livro que é seguido por todos que se intitulam cristãos e que selecionam o que seguir e o que não seguir, o que foi fruto de uma época e o que ainda tá valendo.

Não questiono o que Cristo significou e o que significa. Das mudanças que trouxe para o mundo Cristão. Só acho que ele, Jesus Cristo, foi o único que conseguiu misturar política com religião e obter um resultado satisfatório, ou aparentemente satisfatório, tendo em vista o que ocorre atualmente.

Olhem para o resto do mundo, veja o que a religião fez com vários países do Oriente Médio (o que não tem nada a ver com o Cristianismo). Não podemos deixar que uma guerra Santa destrua o que Cristo deixou. O amor ao próximo. Cada coisa no seu devido lugar.

E para você Marina Silva, quando, no final de sua fala aconselha  esquecermos as religiões, foi você mesmo que começou o impasse... Se quer que a questão religiosa não seja levantada, não seja a primeira a levantar a bandeira!

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