Aprendendo a ser pai

Não consigo restringir a importância de ser pai ao critério sanguíneo. O teste de DNA não prova a paternidade, prova que há ligação sanguínea

O instante da paternidade é quando os olhos de minha filha miram dentro de mim. A profundidade com que recebo este gesto de carinho me faz aprender a ser pai. Quando pensava na paternidade, sempre me lembrava de meu pai. Meu pai é sempre amoroso, fala calmo e tem muita paciência. A paternidade é um aprendizado que nunca acaba.

 

Por isso, eu defendo que ser pai é um papel que cabe a qualquer pessoa, inclusive às mães. Não consigo restringir a importância de ser pai ao critério sanguíneo. O teste de DNA não prova a paternidade, prova que há ligação sanguínea. Para provar a paternidade tem de haver vínculo, tem de haver afetividade. O pai não feito de traço sanguíneo, é feito de vínculo.

 

Há tantos filhos de sangue que não conseguem desfrutar da afetividade dos pais. Por sua vez, estes pais não foram criados com a afetividade dos seus pais. Correm, por isso, um sério risco de terem filhos/as e não se importarem com os laços de afetividade. A paternidade é, antes de tudo, uma decisão.

 

Neste texto aqui me lembro de uma passagem entre meu avô (pai de minha mãe) e minha filhinha. Meu avô era também meu amigo, sempre escutei histórias que me contava sob uma luz de lamparina. Tanto meu pai quanto meu avô eram pessoas que aceitaram receber a gente como parte de si, assim, mesmo com tanta dificuldade, os olhos deles eram sempre como quem dizia venha, toma um abraço. Sempre fui grudado no papai e no meu avô.

 

Um certo dia minha filha contava ao meu avô uma história de fadas. Ela narrava para ele as várias formas de existir de uma fada, ele a ouvia com certa surpresa, ao final, ele disse, nossa minha bisnetinha eu não imaginava que as fadas eram tão incríveis. A minha filhinha disse, viu pai, o meu biso sabe que as fadas existem. Essa atenção é que faz um pai ser pai.

 

Nesse ano, meu avô faleceu. Em mim sinto uma dor imensa pela ausência dele. Eu gostava dele e gostava de visita-lo. Meu avô não foi o pai mais perfeito, mas foi o pai que gastava o tempo de que dispunha para contar uma história. Ele não pensava nestas teorias que depois eu estudei na vida escolar, ele abraçava e ouvia. O abraço de meu avô sempre era tão agradável.

 

O abraço de meu pai ao fim da tarde quando ele vinha da roça era a melhor parte do dia na minha infância. Ficar bolando com ele, brincando, conversando com meu pai, isso me fez filho e o fez pai. Assim também era com meu avô. Eu sei agora que comecei ser pai quando eu ainda era uma criança.

 

Adriano Castorino é doutor em Ciências Sociais/ Antropologia e professor da UFT

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