Cidade de Monte do Carmo: Cultura e ensinamento

O município de Monte do Carmo localizado a 97 km de Palmas e com cerca de 6.300 habitantes, tem sua origem vinculada ao ciclo do ouro no século XVIII, o que o torna uma das cidades de significativa importância histórica do Tocantins.

 

Um dos aspectos relevantes do município é o encontro marcante da religiosidade com uma cultura secular que se manifesta em um calendário anual de festividades, constituindo um mosaico marcado por referências africanas, ibéricas e indígenas. Entre elas se destaca a Festa do Divino Espírito Santo na versão mirim, realizada anualmente no mês de junho. Embora protagonizada por crianças, essa festividade reproduz a festa tradicional do Divino em sua versão adulta que acontece há mais de um século em Monte do Carmo.

 

Na festa mirim estão presentes os rituais, as folias, o cortejo real, a coroação, a decoração dos ambientes, os figurinos, os bolos e licores e de modo especial a devoção e a alegria. As crianças personificam todos os papéis: participam ativamente da liturgia das missas, entoam os cantos e cumprem os rituais das folias, exibem apurada performance de alferes da bandeira do Divino e aprendem.

 

Nessa escola de cultura e religiosidade vão sendo impressos nos pequenos carmelitanos os sons, os ritmos, as cores, os sabores, os aromas, a essência do sagrado, os saberes que cada um guardará em si e alimentará suas raízes. Por serem carmelitanos, não serão indiferentes a uma bandeira vermelha de fitas, a um canto de folia, a um toque de sino, a um chamado de viola ou de tambor.

 

É imensurável o valor do patrimônio cultural imaterial de Monte do Carmo, na expressão de sua cultura e de sua religiosidade. Quem assiste a uma festa do pequeno Imperador do Divino tem a oportunidade de conferir como uma comunidade entrega às gerações que chegam o legado que receberam de seus antepassados. É visível a percepção do imperador, da imperatriz, dos foliões, dos alferes das bandeiras, das meninas foliãs, quanto à importância do papel que representam. No modo como se portam, essas crianças demonstram compreender que são elas as pessoas mais caras à comunidade naquele momento tão revestido de importância e significado.

 

É admirável a forma como uma comunidade mantém a realização de suas festividades, mesmo sem contar com um orçamento destinado a essa finalidade, e essa é uma realidade a ser modificada. Monte do Carmo faz mais: educa as novas gerações no cultivo de suas referências, de seu patrimônio cultural, da expressão de sua identidade. Embora não seja proclamado em nenhum momento da festa, todo o tempo está implícito o orgulho em protagonizá-la, o ensinamento dos rituais, o respeito pela divindade.

 

A festividade acima descrita é uma entre outras que compõem o calendário cultural-religioso de Monte do Carmo, cidade tocantinense onde a cultura e a religiosidade se entrelaçam e se expressam de forma arrebatadora e bela.

 

Marinalva Rego é historiadora e mestre em Educação. Professora da Fundação Universidade do Tocantins – Unitins. Poeta. Membro da Academia Palmense de Letras. E‐mail: barrosnalva@gmail.com

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