Farmácia não é comércio; remédio não é mercadoria

No Dia Nacional pelo Uso Racional de Medicamentos, a presidente do CRF-TO chama a atenção para o aumento da automedicação e os fatores na sociedade que contribuem para esses índices preocupantes

Todos os anos, no dia 05 de maio – Dia do Uso Racional de Medicamentos – várias organizações profissionais e estudantis, em especial as farmacêuticas, convidam a sociedade para fazer uma reflexão coletiva do uso que fazemos do medicamento. Hoje, nossa reflexão vai além do uso indiscriminado dos medicamentos, que a cada ano aumenta mais no Brasil. É preciso salientar que  medicamento  e saúde não são mercadorias.

 

Medicamentos são muito bons para a saúde, se usados com responsabilidade. Seu uso sem o acompanhamento de um profissional é um dos fatores mais prejudiciais da saúde da população. Pesquisa recente da DataFolha aponta que 76,4% da população utiliza medicamentos sem prescrição médica e o pior: 32% aumentam a dosagem por conta própria (ICTQ/DATAFOLHA). Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas da Fundação Oswaldo Cruz  (Sinitox/Fiocruz) apontam que 27% das intoxicações no Brasil decorre da ingestão de medicamentos, desses, 16% culminam em morte.

 

Existem vários fatores que estimulam o uso indiscriminado, entre eles o excesso propaganda que estimula a compra de medicamentos,  a questão cultural que faz com que consideremos normal a automedicação e também o desconhecimento da existência da Lei 13021, aprovada e sancionada no ano passado, que reconhece Farmácia como um estabelecimento de saúde.

 

A transformação do status da farmácia  foi uma das principais lutas do Conselho Federal de Farmácia (CFF), de todos os Conselhos Regionais  e da Federação Nacional dos Farmacêuticos.  Graças a uma grande mobilização realizada ano passado, conseguimos garantir a aprovação da lei. Mas é preciso que haja uma divulgação maior e que as pessoas se  sintam parceiras dos farmacêuticos e denunciem casos onde a farmácia é tratada como comércio.

 

Hoje,  interesses privados dos mais variados querem fazer da farmácia um ponto de venda, como um supermercado, no qual entre as várias mercadorias disponíveis esteja, também, o medicamento , como se fosse uma mercadoria qualquer. Isso é muito grave.

 

Não podemos descansar enquanto houver o risco de venda indiscriminada de remédios em locais inapropriados. O Conselho Regional de Farmácia do Estado do Tocantins tem trabalhado incessantemente, para que a farmácia seja um estabelecimento de saúde e para que o medicamento seja tratado com responsabilidade e utilizado com orientação adequada. Mas sabemos que alguns ainda acham que  o medicamento pode ser tratado como uma mercadoria qualquer, sem preocupação alguma com a saúde e os perigos que eles oferecem.

 

Diante desta realidade, devemos aumentar o debate na sociedade sobre a importância de se fazer o uso adequado do medicamento e ter as entidades Farmacêuticas como parceiras no combate às irregularidades. Saúde é coisa séria e precisa ser tratada pelos profissionais habilitados.

 

Marttha Franco Ramos é presidente do Conselho Regional de Farmácia do Tocantins.

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