Gaz, uma Epopeia Palmense

“Quando cheguei aqui não tinha nada, tipo um deserto” (José Francisco)

Crédito: Divulgação

“Gaz” é um curta documentário produzido, dirigido, roteirizado e fotografado pelo estupendo diretor Helen Lopes, através da Gabiroba filmes, uma produtora quase caseira, que, sem receber insumos governamentais ou patrocínios empresarias, trouxe ao mundo o belíssimo curta “Romana”,  que pode ser encontrado no YouTube.

 

Em “Gaz”, Helen constrói uma narrativa cinematográfica pautada na perspectiva de “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”, nos revela a historia de seu José Francisco, 58 anos, maranhense de nascimento e tocantinense de coração, que no longínquo ano de 1990 desembarca em Palmas (Tocantins), com a esperança de conseguir emprego e principalmente uma vida justa e digna.

 

Assim como seu José, milhares de outros franciscos de todas as partes do Brasil foram atraídos pela propaganda institucional governamental, inserira em revistas de circulação nacional, quando era vendida a ideia que o Tocantins era uma terra de oportunidade e o “Estado da Livre Iniciativa e da Justiça Social” como os dizerem da marca governamental do Siqueirido. Ocorre que assim como seu José afirma no filme,  “fiquei para traz, pois tinha que ter um padrinho”, sua falta de relação com políticos locais o fez perder as chances na “terra da oportunidade”, o que o levou a ser um morador de rua.

 

O Documentário é um manifesto corajoso sobre a verdadeira história do estado, contada sobre a perspectiva de um dos centenas de milhares de invisíveis que trafegam pelas ruas de nossas cidades. Helen fez duas opções  interessantes na construção do Doc., primeiro foi a não utilização da clássica narrativa OF, hoje é quase um padrão em documentários, veja por exemplo “Democracia em Vertigem”, no lugar a direção optou em dar voz ao seu personagem, seu José e de sua perseverante bicicleta. Outro ponto importante no curta e a utilização de uma fotografia em preto e branco, em escala escuras e densas, como se demonstrasse que a vivencia humana nem sempre e um mar de rosas em cores saturadas.

 

A história se torna surpreendente quando, nos é mostrado que esse morador de rua é um dos pioneiros de Palmas, não um daqueles que recebem o titulo de cidadão palmense pela Camara dos Vereadores, mas um migrante que acreditou em nossa terra e que hoje vive na indiferença moderna.

 

Mas o filme tem outros elementos e camadas da produção que chamam atenção,  a trilha sonora e mixagem de som, bem construída por Iury Grooveman, amarra bem a trama e da um tom caótico para a produção, o que faz lembrar  a própria vida de seu José que na escala social moderna esta no mais baixo patamar, o patamar de morador de rua e catador. Além é claro da direção de fotografia sóbria e sombria, com enquadramentos que lembram muito o expressionismo alemão do século XX e sua ângulos não tradicionais.

 

 

 

Enfim, uma historia cativante, humana demasiadamente humana, sobre a vivencia humana, desigualdade social e escolhas governamentais errôneas.

 

O Documentario, que foi prévia e gentilmente enviado pela Gariroba Filmes para o T1 Notícias, vai ser lançado hoje no SESC da 502 Norte, em Palmas, ás 20 horas, uma opoturinidade única para os palmenses, locais ou migrantes, prestigiar. Por fim, um salve a produção tocantinense de áudio visual.

 

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