Investir em educação?

Em artigo de opinião, o professor comenta as faces do investimento na educação

A interrogação é de propósito, pois o tema, além de possuir diversos modos de ser interpretado, também pertence àqueles assuntos apaixonados sobre os quais é mais difícil uma avaliação crítica. Pois comecemos nessa tarefa.

 

Em primeiro lugar, se entendemos por investir em Educação o financiamento do Estado a políticas públicas voltadas à educação formal, na valorização de educadores, melhoria de infraestrutura, implantação de novos e significativos projetos pedagógicos, praticamente teremos um consenso. Sempre vale a pena investir em educação. Inclusive, muito de nossas vulnerabilidades como nação decorrem do pouco investimento em educação de que fomos e somos vítimas seculares.

 

Ainda assim, é preciso lançar corajosa luz nesse consenso. Sendo realista, é preciso admitir que algo em nossa organização educacional está fracassando. Os investimentos aumentaram significativamente nos últimos dez anos e nossos índices seguem os mesmos, ou pouco melhores. Recursos destinados desde a compra de merenda até os que são destinados à melhoria da carreira docente são diuturnamente desviados, por esquemas e pessoas nada honestos. Temos que admitir que investir mais recursos em um sistema claudicante como o nosso, talvez seja jogar fora um precioso dinheiro. Além de investimentos, precisamos buscar coragem de rever todo nosso sistema educacional, desde o currículo até a organização da carreira docente.

 

Contudo, caso se entenda investir em Educação como o esforço das famílias em proporcionar a melhor educação possível para seus filhos, os consensos diminuem.

 

Educação é mais que Escola. Não é raro pessoas advindas de escolas de baixo rendimento possuírem uma educação esmerada, capaz de valores importantes, como a generosidade, a liderança, a consciência crítica. Da mesma forma que não é incomum encontrarmos pessoas muito bem qualificadas, através de escolas de alto rendimento, mas com posturas questionáveis, pouco colaborativas, egocêntricas. Isso não é regra, mas é um alerta para uma compreensão fundamental: Vale a pena investir em Educação sempre, inclusive, quando isso for possível, numa educação formal de qualidade. Mas investir em educação não é a aquisição de um produto qualquer. O investimento em educação não se concretiza se a família não se envolver integralmente.

 

No caso das políticas públicas, os recursos financeiros são decisivos para mudarmos a situação. No caso da educação como oportunidade da família de transformar a vida das gerações mais jovens, o dinheiro pode não ser tão decisivo assim. E não adianta colocar toda responsabilidade nas mãos da Escola. O decisivo, nesse caso, não se compra, mas se constrói.

 

Prof. Flávio Luís Rodrigues Sousa é doutor em Filosofia e Teologia, diretor do Colégio Marista Palmas, membro do Conselho Estadual de Educação do Estado do Tocantins.

 

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