Jesus e Charlie

O atentado ao jornal Charlie Hebdo, em Paris, continua rendendo na cobertura internacional da imprensa. O assunto é discutido pelo empresário e pastor evangélico em artigo de opinião.

Crédito: Da Web

Após os atentados contra o Charlie, e mormente quando se percebeu que a revolta dos mulçumanos foi potencializada pelas novas charges de Maomé, a imprensa mundial continua dando intensa cobertura ao assunto. Ocorre que, por desinformação, grande injustiça tem sido cometida com os protestantes. Por serem monoteístas e rejeitarem qualquer adoração a ídolos ou representação gráfica de qualquer uma das pessoas do Deus trino, os protestantes tem sido, neste aspecto,  contados juntamente com os muçulmanos, que precisam lutar, e até matam, por suas convicções. Injustíssima comparação. Quem ler entenderá.

 

O Deus dos protestantes não precisa de quem o defenda

Conjugando na primeira pessoa do plural, pois também sou protestante, posso afirmar que não temos qualquer ordem da parte de Deus para que o defendamos.  Gideão, um juiz de Israel, derrubou o altar do deus pagão chamado baal, erigido por Joás, pai de Gideão, pelo que o povo se reuniu para exigir que este fosse morto. Joás respondeu o seguinte:  “se baal é deus, que por si mesmo contenda, pois derrubaram o seu altar”. Simples assim.

 

Postura semelhante adotamos para com o Deus da Bíblia. Não precisamos agredir ninguém por causa dele. Sendo ele o Deus Todo Poderoso, Justo Juiz, sabe, infinitamente mais do que qualquer comedor de feijão,  tratar com cada pessoa, até a mesmo a mais rebelde. Dessa forma, imagens de Jesus, as mais deploráveis possíveis, são ostentadas por todos os lados,  sem que por isto pratiquemos qualquer violência.

 

Pregamos a vida, não a morte

Jesus e seus discípulos não foram bem recebidos em uma determinada aldeia. Um dos discípulos perguntou se poderiam pedir fogo do céu sobre aquele lugar, ao que Jesus respondeu: “Vós não sabeis de que espírito sois. Não vim destruir, mas salvar” .

 

Os ídolos que quebramos quando convertemos, são aqueles de nossa propriedade, comprados com nosso dinheiro, ou recebidos de alguém. Somos ensinados, inclusive, pelo apóstolo Paulo de que tudo que se oferece a um ídolo, na verdade, se está oferecendo aos demônios. Essa é nossa convicção e ponto. Mas não saímos por ai  quebrando imagens alheias, agredindo e humilhando pessoas, cometendo atentados, não. Se existe alguém por quem lutamos duro, não é por Deus, mas exatamente pelas pessoas que o desprezam, a fim de que o recebam, e tenham suas vidas mudadas radicalmente. Eu mudei: até aos 34 anos de idade praticava idolatria e magia negra, bebia compulsivamente, ficava maluco, dava pancada e soltava tiro para todo lado. Irremediavelmente falido e jurado de morte por agiotas,  encontrei Jesus e ele mudou minha vida. Detalhe: eu não suportava protestantes, mas eles lutaram “por mim”, não contra mim.  E venceram.

 

Que fique bem claro, lutamos incansavelmente, não por Deus, mas pelas pessoas, inclusive por aqueles jovens condenados a morrer como mártires, em busca das 70 virgens do paraíso. No mundo inteiro, incluindo os países onde impera o radicalismo islâmico, lá estamos nós. A imprensa não divulga, mas somos sacrificados aos milhares, queimados ou enterrados vivos (veja o mapa da perseguição). Nosso crime: lutar por aquelas pessoas que buscam nos matar.  Não há nenhuma comoção por nossa causa, a não ser dos parentes e irmãos de fé. Não há problema não: Jesus advertiu que seríamos odiados pelo mundo. Mas ele nos impulsiona a lutar.

 

Cito o exemplo de um casal de amigos meus, ele executivo de uma empresa de Palmas, a esposa, professora universitária, doutora. recentemente eles deixaram tudo e foram fazer missões no oriente médio.  Lutar por Deus?  Não, foram pregar a Verdade para aquelas pobres criaturas, livrá-las da rota da destruição, do canto das “70 sereias”. Se voltarão vivos, não sabem , mas foram.

 

Qualquer pessoa desprovida de má fé, se nos observar, verá que somos monoteístas sim, mas pregamos o Príncipe da Paz. Jesus morreu por nós e, nunca, temos que morrer ou matar por ele. Não damos nossas vidas por Jesus, mas para Jesus, e quando assim fazemos, ele  nos dá grande disposição de lutar por todos os que perecem. Por favor, vejam que não somos voltados para nosso próprio umbigo. O que pregamos serve, não para escravizar, mas para libertar.

 

Nossos alvos não são as 70 virgens: são os drogados, as prostitutas, os traficantes, os estupradores e, até mesmo, os miseráveis das mansões, bem como as pessoas “boas” que, de tão boas, acham que não precisam de Deus. Muitos escarnecem de Jesus, mas ninguém está autorizado a mover uma palha sequer contra esses “rebeldes”. Não temos que matar ou morrer pelo “profeta”. Jesus morreu por todos nós, inclusive pelo próprio “profeta”, e por todos os seus seguidores.  Dá para perceber a diferença?  Então, por favor, abstenham-se de dar ouvidos ao besteirol que se tem assistido no noticiário mundial.  Essa injustiça só traz confusão para os incautos, os maiores prejudicados no caso, enquanto os protestantes convictos nada perdem.

 

Perceberam em favor de quem estou lutando enquanto escrevo? Vejam que não é por mim, nem por Jesus, mas pelos “incautos”, sem conhecimento de Deus, para que não fiquem ainda mais confusos.  E que assim fique combinado entre  Jesus e Charlie.

 

 

Geldes Ronan Passos é empresário e pastor evangélico

 

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