Por que votamos sempre nos mesmos?

Em artigo de opinião, o professor e fotógrafo Beto Monteiro comenta a perpetuação de políticos no poder...

Depois de uma breve pesquisas na internet, no site do TSE, site Transparência Brasil e alguns dos principais jornais do país pude perceber algo que já suspeitava: de fato não queremos ou ainda não estamos preparado para mudanças.

 

Em praticamente todos os Estados brasileiros os candidatos a governadores e senadores praticamente são os mesmos, ressaltando que esses candidatos lideram também as pesquisas eleitorais e são em sua maioria os que receberam as maiores doações para suas campanhas.

 

Vejamos o caso de Goiás, Distrito Federal e Tocantins. No Estado de Goiás, há décadas existe uma polarização entre o PMDB de Íris Resende e o PSDB de Marconi Perillo. No Distrito Federal Agnelo Queirós e José Roberto Arruda lideram as pesquisas eleitorais, mesmo com as candidaturas questionadas pelo Justiça Eleitoral. No Tocantins, o ex-governador Marcelo Miranda lidera todas as pesquisas eleitorais, seguido do candidato governista Sandoval Cardoso, polarizando assim há anos dentro dos grupos denominados “Siqueiristas x Marcelistas”.

 

Em comum dentre esses candidatos desses Estados mencionados segue o fato da imprensa local ter demasiadamente noticiado centenas de denúncias de improbidade administrativa e o fato de serem líderes também em arrecadação de recursos para suas campanhas.

 

Como esse fenômeno se explica? Já que até pouco tempo atrás nosso país foi sacudido por protestos em todo o país, demonstrando que a população quase em geral pedia mudanças radicais e mais moralidade na política brasileira?  

 

Simples, enquanto não for feito uma reforma política, o candidato que tem um poder aquisitivo maior e possui maiores recursos financeiros para gastar em sua campanha sempre vai prevalecer sobre o candidato que praticamente não gasta nada. Quando se tem maiores recursos, naturalmente o tal candidato possui um programa televisivo mais bem elaborado, consegue contratar maior números de cabos eleitorais, consegue visitar mais cidades e consegue “influenciar” de forma mais veemente os lideres locais.

 

De fato, concorrer e vencer algum cargo eletivo para governador, senador ou deputado requer em tese e em prática um “investimento” grande na eleição, já que as disparidades entre os candidatos que conseguem vencer em comparação com os derrotados é quase surreal.

 

É ai que chegamos a um ponto curioso: como um determinado candidato declara gastar milhões sendo que, quando ele chegar ao poder, o salário que o mesmo vai receber durante quatro anos (no caso de governador e deputado) ou oito anos no caso de senador não vai nem chegar perto do que ele declarou ter gasto para chegar no poder?

 

Ai entram as doações de campanhas, pois ao injetarem vultosas quantias financeiras, de certa forma as mesmas empresas esperam uma contrapartida do gestor quando ele assumir o poder, pois na hora dos processos licitatórios ou na hora que o governo precisar da mão de obra de determinadas empresas, certamente eles vão lembrar de como eles conseguiram vencer.

 

Se partirmos desse pressuposto, então nós podemos afirmar que, ao votarmos, de certa forma estamos votando nos patrocinadores (seja empreiteiras, bancos, empresas de ônibus, etc).

 

Pasmem que o mais incrível é que nossa Justiça Eleitoral entende que essa relação de promiscuidade não contribui para prejudicar a equidade entre os candidatos e muito menos a relação de imparcialidade na hora de contratar determinadas empresas para prestarem serviços diversos para o Estado/Município.

 

Essa questão é abrangente... Não é que nós não queremos mudanças, o problema é que essa mudança só ocorrerá quando chegar o dia em que nosso país fará uma reforma política séria que priorize a igualdade de todos que pleiteiam um cargo eletivo...

 

Beto Monteiro é professor, fotógrafo e ambientalista.

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