Um inexistente Maio Amarelo e a luta pela vida

Destroços de veículos são recolhidos
Descrição: Destroços de veículos são recolhidos Crédito: Reprodução/TV Anhanguera

A distância entre estar alegre, feliz e pensando nos dias que virão, vibrando com as recentes conquistas, celebrando a chegada de um novo dia e sonhar com dias venturosos, e estar em uma UTI, mantido por aparelhos e contando com a perícia e a dedicação dos profissionais da medicina, é mesmo muito pequena.

 

É uma linha muito fina e tênue, que quando é ultrapassada, traz dores, tristezas, angustia e muita incerteza.

 

Era apenas mais uma manhã de inicio de semana. Semana que precisava ser boa e seria bom que começasse com mente e corpo sãos. E para isso, nada como ir ao belo e majestoso Parque Cesamar, na cidade de Palmas, capital do estado do Tocantins e colocar isso em prática.

 

A intenção de começar a semana praticando esportes, e com isso trazer disposição para enfrentar os desafios parou brusca e violentamente em um cruzamento de duas avenidas amplas, teoricamente seguras, monitoradas e bem sinalizadas da capital tocantinense.

 

De imediato, Genilson, farmacêutico e grande amigo, teve sua vida violentamente ceifada. Genilson Rodrigues era um cidadão de bem, pai de família jovem e alegre, responsável, correto e trabalhador e teve ali, naquele momento, a decretação irreversível da perda do direito de continuar a viver.

 

O motorista do carro, José Américo Rolim – meu irmão – ainda teve uma chance. A rápida e eficiente ação dos socorristas foi determinante. Segundo soube, o ambiente da tragédia era de estarrecer. Uma pessoa morta, outra gravemente ferida e três rapazes com evidentes sinais de embriaguez, segundo boletim de ocorrência da Policia Militar, perdidos e sem noção do que acabara de acontecer. Talvez ainda continuassem com o espírito de animação e alegria, conforme segundo se apurou, da festa que acabaram de sair.

 

Um pai de família teve sua vida ceifada. Outro, pelo que o conheço, ainda luta com todas as suas forças, apesar do coma, da respiração mecânica e do trauma neurológico, em uma UTI por permanecer vivo.

 

Para mim, distante do local da tragédia, foi doloroso ver imagens de servidores recolhendo os restos, pedaços do carro amarelo que pertence à meu irmão. Carro que servia para passeio e era também ferramenta de trabalho, instrumento de sobrevivência.

 

Falar em amarelo, estamos – ou não estamos? – na campanha “Maio Amarelo – atenção pela vida”. Bonito slogan, estampado em todos os sites, blogs e em veículos de comunicação oficiais de todo o país.

 

O maio amarelo na cidade de Palmas, para mim terá como símbolo os pedaços do carro que vitimou meu irmão e seu amigo Genilson. Maio Amarelo em Palmas terá como referência pedaços de um carro amarelo. E eu nunca esperava isso.

 

Não se trata de revolta contra quem, em tese, não tem nada a ver com a tragédia do acidente. Mas tem a ver sim, pois os equipamentos de monitoramento do cruzamento, segundo informou em entrevista à Televisão Anhanguera o responsável pelo setor de trânsito da Prefeitura de Palmas, não funcionava. Portanto, notadamente, a campanha Maio Amarelo em Palmas, fica representada por pedaços de um carro, que em um trágico acidente, ceifou a vida de um homem e feriu gravemente outro.

 

Mas, a Prefeitura de Palmas não precisa se orgulhar de ser o único mau exemplo. Quem quiser, tente acessar o site “maioamarelo.com”.  Se conseguir, avise. Como as câmeras de monitoramento do transito de Palmas, o site também não funciona.

 

Restam esperanças. Ainda restam esperanças que meu irmão consiga sair desta situação. Ele que gosta tanto da vida, ama a liberdade é amigo de todos.

 

O Pai Eterno, Deus, Todo-poderoso tem ouvido nossas orações e sido complacente. Confiemos.

 

Afinal, a vida ainda está presente.

 

Paulo Rolim – é jornalista e Produtor Cênico

Twitter: @americorolim

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