Lotação da Cadeia Pública de Miracema ultrapassa os 250% de vagas disponíveis

Órgão fiscalizador constatou ambiente insalubre, revistas vexatórias e superlotação na Cadeia Pública de Miracema; relatório será desenvolvido com principais problemas na unidade para ser apresentado

DPE realizou inspeção nesta semana e prepara relatório para Seciju
Descrição: DPE realizou inspeção nesta semana e prepara relatório para Seciju Crédito: Divulgação

Uma vistoria foi realizada na Cadeia Pública de Miracema na última quarta-feira, 19, por um grupo de defensores públicos que constataram “ambiente de alta insalubridade, superlotação, falta de segurança adequada, poucos agentes prisionais e celas sem ventilação”, além de outros problemas. As informações são da Defensoria Pública Estadual (DPE-TO).

 

Com capacidade para 50 presos, a Cadeia Pública de Miracema do Tocantins, que fica no Município localizado a 75 Km de Palmas, conta atualmente com 129 homens, 258% a mais do que o indicado, sendo 64 condenados, 50 presos provisórios e 15 do regime semiaberto.

 

Por conta da superlotação, outras salas da unidade são utilizadas para o encarceramento, como a sala da direção, a Escola e até o pátio da entrada, que abriga presos condenados, que dormem em colchões e redes na entrada da cadeia.

 

 As celas são ambientes de alta insalubridade, com quartos escuros, fétidos, com goteiras, fiações expostas, abafados e sem ventilação (janelas apenas nos banheiros). O local não possui vaso sanitário, que são substituídos por uma estrutura rente ao chão, chamada pelos reeducandos de “boi”, que está frequentemente entupido.

 

“É muita gente usando, vive vazando e alagando a nossa cela inteira”, disse um detento. O único freezer da unidade, que serve água gelada tanto para os reeducando quanto para os agentes prisionais, foi cedido por um detento por não haver nada para refrigeração de água na unidade. Porém, o preso já saiu da cadeia e informou que o freezer será retirado em breve.

 

O problema da superlotação em Miracema, assim como nas demais unidades prisionais do Estado, é o mais grave, acarretando, ainda, outras consequências, como deficiências estruturais e atendimento precário em saúde, por exemplo. “Há dias eu passei muito mal, vomitando sangue, me retiraram da cela, me deixaram fora da cela por quase duas horas aguardando, me deram só soro e me devolveram para a cela porque não tinha agente prisional para me levar para o médico e até hoje”, disse um preso do Pavilhão B.

 

Segurança

 

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária recomenda que haja um agente para cada cinco presos, o que indicaria uma média de 25 agentes em Miracema, tendo em vista a lotação de 129 na unidade. Contudo, a cadeia conta, atualmente, com uma média de apenas três agentes em cada plantão.

 

Os defensores públicos foram informados que, em Miracema, atendem, em média, três agentes por plantão, mas no momento da vistoria da DEPE-TO havia apenas um em exercício.

 

Outros problemas

A Cadeia de Miracema tem o muro alto e cerca elétrica, porém, ao lado está a Delegacia de Polícia, que tem o muro baixo e sem cerca, prejudicando na segurança da unidade.

 

 No local, a Defensoria encontrou uma horta sem plantio, uma caixa d’água cheia de buracos e uma fossa a céu aberto. Há fossas a céu-aberto, inclusive, do lado de fora no portão de entrada, próximo à horta e na área interna dos pavilhões, exalando mau-cheiro por toda a unidade prisional.

 

Os detentos foram unânimes na reclamação sobre a falta de materiais de higiene e limpeza, alimentação precária  e revistas vexatórias. “A minha esposa se sente muita constrangida toda vez que vem me visitar. Da última vez, colocaram ela numa salinha, pediram para que ela retirasse a roupa, ficar agachando e levantando sete vezes”, disse um preso do Pavilhão A.

 

 Revista

 

A defensora pública Napociani Póvoa lembrou que revista vexatória é improcedente e irregular. “Conforme a decisão do Conselho Nacional de Políticas Criminais e Penitenciárias (vinculado ao Ministério da Justiça) a revista que permite o acesso aos estabelecimentos penais não deve ofender a dignidade da pessoa humana, e isso está garantido na Constituição Federal”, orienta.

 

 Inclusive, um projeto do governo do Estado nomeado de “Fim da Revista Vexatória” prega a substituição de tais métodos por equipamentos adequados. Além disso, há portaria na época em que a pasta era 'de Proteção e Defesa Social do Estado', atualmente Seciju, onde determina que qualquer tipo de revista invasiva ou constrangedora, que submete a condições vexatórias – como a nudez ou posições que exponham a intimidade ou privacidade do visitante, é proibida.

 

 O Nadep irá elaborar um relatório com os principais problemas da unidade prisional com ofícios de pedidos de providências à Seciju.

 

Governo do Tocantins

 

Em nota a Secretaria Estadual de Cidadania e Justiça (Seciju) informou que “para reduzir déficit de vagas no sistema prisional está sendo reformado e ampliado o Centro de Reeducação Social Luz do Amanhã (CRSLA) e está em construção a Unidade de Tratamento Penal de Cariri (UTPC), ambas no município de Cariri do Tocantins”.

 

A pasta disse também que “com o intuito de aumentar o número de servidores para atender o Sistema Prisional está sendo realizado o Curso de Formação dos candidatos aprovados em Cadastro Reserva no concurso do Sistema Prisional e Penitenciário”. 

 

Já sobre as denúncias de agressão, a Seciju disse que tomou conhecimento e abrirá Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para averiguar os fatos e também solicitará esclarecimentos do diretor da Cadeia Pública de Miracema sobre como tem se dado o banho de sol. A Seciju reitera que é contra maus tratos tanto de reeducandos quanto de servidores nas unidades prisionais e em quaisquer outros ambientes.

Comentários (0)