Programa Balde Cheio retoma atividades no Tocantins pelo Norte do estado

Por meio de técnicos capacitados, programa leva a produtores rurais selecionados informações e conhecimentos tanto relacionados a tecnologias de aumento da produção e da produtividade da atividade.

Produtores são capacitados.
Descrição: Produtores são capacitados. Crédito: Clenio Araujo  - Embrapa

Cerca de 40 técnicos participaram nesta semana de capacitação sobre pecuária leiteira em Araguaína, Norte tocantinense. A maior parte é formada por extensionistas do Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Tocantins (Ruraltins). Além deles, estiveram presentes técnicos ligados ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) / Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins (Faet).

 

As instituições são parceiras da Embrapa na execução do Balde Cheio no estado, projeto de transferência de tecnologias em pecuária de leite. Por meio de técnicos capacitados, a ideia é levar a produtores rurais selecionados informações e conhecimentos tanto relacionados a tecnologias de aumento da produção e da produtividade da atividade, como ligados à gestão da propriedade, proporcionando mais eficiência e maiores ganhos.

 

E muitas vezes são conhecimentos até simples, sem complexidade ou complicação técnica ou científica. Ajustes que, com a orientação adequada, possibilitam uma atividade leiteira mais sustentável sob diferentes aspectos: econômico; ambiental; e social. O Balde Cheio, ao compartilhar conhecimentos de instituições como a Embrapa e parceiros e também experiências vividas pelos produtores, colabora para uma pecuária de leite que vem sendo aprimorada pelo Brasil. Chegou a vez do Tocantins.

 

O projeto está sendo retomado no estado, agora de maneira oficial. Com a união de diferentes instituições – e cada uma dentro de sua área de atuação –, está sendo formatada e colocada em funcionamento uma rede que, com a fundamental participação de produtores rurais, pode melhorar a atividade no Tocantins. O envolvimento de técnicos e dos próprios produtores é essencial para o sucesso do Balde Cheio no estado, assim como em outros locais em que está em funcionamento.

 

Joaquim Quinta Neto é gerente regional do Sebrae em Araguaína. Ele fala sobre a expectativa da instituição, enquanto fomentadora de pequenos e médios negócios, com relação ao Balde Cheio. Em sua visão, “projetos como esse são ferramentas de promoção de desenvolvimento econômico e social, principalmente para aquele cara que está lá no campo, perdido, sem assistência técnica, não sabe o que faz da vida. Às vezes, ele está com uma pequena propriedade rural, mas totalmente improdutiva e passando necessidade básica”.

 

O gerente ressalta a formação da rede de instituições em prol do desenvolvimento da cadeia produtiva do leite no estado. “Os desafios são enormes, mas as oportunidades também são enormes. Quando se juntam essas instituições (Sebrae, Senar, Embrapa, Ruraltins, Faet), eu acho que a possibilidade de sair uma coisa boa e concreta é muito grande”, afirma, realista e ao mesmo tempo esperançoso.

 

O diretor de assistência técnica e extensão rural do Ruraltins, Kin Carlos Gomides, foi um dos participantes da capacitação. Para ele, “esse projeto é muito interessante porque traz, além da questão técnica, a questão de gerenciamento da propriedade, análise de mercado, análise de custos de produção, busca de estratégias efetivas de redução de custo. Isso torna a atividade muito interessante e a remuneração extremamente atrativa pro agricultor”.

 

José Daniel Tavares é o coordenador de agronegócios do Sebrae Tocantins e destaca a importância do leite: “o Sebrae entende que a cadeia do leite é uma das principais cadeias que promovem o desenvolvimento do pequeno produtor. Aqui no estado, como a gente tem um grande número de pequenos produtores e assentamentos rurais, a gente visualiza o leite como uma grande alternativa de geração de renda e melhoria da qualidade de vida desses produtores”.

 

Ele se mostra empolgado com a nova etapa do projeto no Tocantins: “estamos muito motivados agora, com essa nova reestruturação do projeto aqui no estado, em que a gente vai conseguir disseminar novamente tecnologias, levando para o homem do campo não só a parte tecnológica (pra que ele busque aumento de produtividade), mas também a parte de gestão, que o Balde Cheio foca muito: da importância que ela tem pra mostrar pro produtor os resultados que ele vem atingindo na sua propriedade”.

 

Visita a propriedade 

 

Na terça-feira, os participantes da capacitação estiveram na Chácara Ouro Verde, que fica no município de Filadélfia, Norte tocantinense. O casal Altemir Lima e Gilda de Oliveira trabalham com a atividade leiteira na propriedade de 37 hectares, que pode ser considerada uma área pequena frente ao que normalmente se vê no estado. Atualmente, eles enfrentam dificuldade com relação à comercialização do queijo que produzem. Esse é um ponto fundamental que precisa ser equacionado e até extrapola o que é trabalhado no Balde Cheio, que foca em questões tecnológicas e de gestão da propriedade rural.

 

Junior Colombo atua no projeto como instrutor. Cabe a ele capacitar os técnicos interessados em participar do Balde Cheio e a esses técnicos compete acompanhar alguma propriedade rural em que o produtor esteja disposto a seguir as recomendações. No caso da Ouro Verde, quem vai fazer o acompanhamento é Joelma Maia, extensionista do Ruraltins que trabalha em Filadélfia. Ela deve visitar periodicamente a chácara de seu Altemir e de dona Gilda. E a cada quatro meses, Joelma irá com Junior à propriedade para acompanhar o andamento dos trabalhos. Portanto, para novembro já está marcada uma volta lá; e a expectativa é de que a comercialização da produção já não seja empecilho para o casal de produtores. A partir desse ponto, a Ouro Verde passará a receber melhorias sugeridas pelo Balde Cheio.

 

Seu Altemir e dona Gilda estão animados com o projeto. Hoje, a produção média das vacas da propriedade fica entre dois e quatro litros de leite por dia. Apesar da pequena produção, ele considera que é uma atividade mais rentável que se o trabalho fosse com gado de corte. Consciente da importância de seguir à risca as orientações que lhe forem repassadas, o produtor se mostra empolgado: “hoje, pra eu tirar 20 litros, preciso de sete vacas; e do jeito que ele (o instrutor Junior) está dizendo nós vamos tirar 20 litros de uma vaca só”. Dona Gilda também se mostra consciente: “o mais importante é fazer a coisa certa, né?”.

 

Percepção

 

Junior é hoje o instrutor com mais tempo de experiência no Balde Cheio, estando há cerca de 20 anos no projeto. Muita bagagem, muitas e muitas visitas, a percepção de vidas de famílias sendo modificadas para melhor – com mais qualidade de vida para os envolvidos, que é o principal foco. Ele é o instrutor responsável pela capacitação de técnicos do Tocantins e também da região Sul do Pará, onde inclusive já há propriedade participante do Balde Cheio. De quatro em quatro meses, deverá visitar as propriedades participantes do projeto, que no Tocantins inicialmente deverão estar nas regiões do Médio Araguaia, do Norte e do Bico do Papagaio.

 

Para o sucesso do Balde Cheio, Junior destaca que tanto o produtor precisa querer crescer por meio dele, como o técnico precisa querer atender esse produtor. “99% das ações do projeto vão envolver muito o engajamento do produtor nas tarefas que serão executadas na propriedade”, afirma. Portanto, o projeto depende muito da vontade do produtor e de sua família de querer ir pra frente. E, na visão do instrutor, como foi a visita à chácara de Filadélfia? “O que a gente observou aqui foi uma família, um casal, os dois muito bem entrosados, muito bem envolvidos na propriedade, querendo alguns caminhos pra crescer, pra melhorar a sua condição de vida; esse é o grande objetivo do projeto Balde Cheio: melhorar a qualidade de vida do produtor”, responde.

 

No Tocantins e no Sul do Pará, quem está à frente do Balde Cheio pela Embrapa é Cláudio Barbosa, que é zootecnista e trabalha com transferência de tecnologia em sistemas agrícolas. A capacitação superou a sua expectativa; ele destaca a presença de técnicos de diferentes instituições parceiras. E também lembra a importância da participação no projeto de laticínios, que hoje no estado estão com capacidade de processamento ociosa e podem ganhar bastante com o aumento da oferta de leite. Seria a situação ideal, com mais produção de leite levando a um movimento maior nos laticínios; um ciclo virtuoso para o qual o Balde Cheio poderá contribuir, ao reunir diferentes atores visando ao aprimoramento da cadeia produtiva do leite no Tocantins.

 

A capacitação em Araguaína, com visita à propriedade em Filadélfia, foi o quarto módulo de treinamento e fez parte de convênio entre o Plano ABC do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com o Ruraltins cujo número é 817962/2015. O Balde Cheio entrou na programação técnica da capacitação.


 

 

 

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