Tocantinense é assassinado por engano por policial no MA; corpo é velado em Porto

Ademar, que tinha um carro idêntico ao do policial, foi alvejado nas costas, após ser confundido com ladrão; familiares relataram ao T1 que assistiram vídeo de Ademar agonizando sem ser socorrido

Ademar era formado em direito, funcionário público e sem passagem na polícia
Descrição: Ademar era formado em direito, funcionário público e sem passagem na polícia Crédito: Arquivo Pessoal/Facebook

O tocantinense Ademar Moreira Gonçalves, de 36 anos, foi morto com um tiro nas costas enquanto dirigia na Avenida Litorânea, em São Luís, no Maranhão, na noite do último sábado, 14. Um policial civil (que não teve o nome divulgado), se entregou nesta segunda-feira, 16, na Delegacia de Homicídios de São Luís, dois dias após a morte de Ademar, que era funcionário do IBAMA. Familiares da vítima, que moram no Tocantins, relataram que souberam de três versões duvidosas do ocorrido antes de saberem a verdade e contaram que ainda que viram um vídeo de Ademar se debatendo sem ser socorrido, que foi divulgado nas redes sociais.

 

Em entrevista ao T1 Notícias na manhã desta terça-feira, 17, Giovana Araújo da Silva, amiga da família, relatou como os parentes de Ademar receberam a notícia. “Ficamos sabendo no sábado à meia note. A primeira versão foi que ele estava no meio de um tiroteio e havia sido baleado na perna. A segunda versão foi que ele brigou em bar e acabou morto, mas logo achamos estranho também porque o Ademar corria de briga; e a terceira versão foi que ele era um bandido e estava roubando um carro. Ficamos transtornados. Duas irmãs dele foram para São Luís descobrir a verdade e foi então que ficaram sabendo que ele havia sido executado por um policial civil. Esse policial foi informado que o carro dele estava sendo roubado e iria atirar no pneu do carro, mas acabou atingindo Ademar nas costas”, conta.

 

Giovana ainda relatou que um vídeo foi registrado por testemunhas que estavam no local e que a família ainda teve que assistir Ademar agonizando, sem socorro, porque as pessoas achavam que se tratava de um assaltante de carro, conforme o policial havia anunciado. “Após ser alvejado, o Ademar acabou colidindo num carro e numa moto. Testemunhas contaram que o policial tirou Ademar do carro e pediu para as pessoas se afastarem pois se tratava de um assaltante de carro. O policial entrou no carro, pegou o documento e viu que aquele carro não era o dele. Foi então que ele se deu conta do erro que cometeu e fugiu do local. Nesta semana o policial se entregou e assumiu o erro”, detalhou.

 

Versão do policial

Segundo relato do policial na delegacia, ele informou que estava em um bar quando soube que o seu carro estava sendo roubado. Ao encontrar um homem no volante, saindo de uma vaga próximo de onde ele havia estacionado, o policial sacou a arma para atirar nos pneus, segundo ele. O motorista (Ademar) arrancou com o carro depois que viu o homem armado, mas foi atingido com o tiro nas costas, que o matou. O policial acrescentou ainda que o carro de Ademar era idêntico ao dele.

 

A Superintendência de Homicídios e Proteção a Pessoa (SHPP) trabalhava com as hipóteses de briga de bar, reação a assalto e execução até a confissão do assassinato pelo policial civil. Testemunhas informaram que o policial retirou Ademar de dentro do carro e impediu as pessoas de se aproximarem até a chegada do SAMU, mas fugiu do local depois que viu que havia se enganado.

 

"Pela declaração dele (o policial), ele interpretou erroneamente porque o carro dele estava estacionado praticamente ao lado. E quando o indivíduo saía do carro, o policial que estava de pronto aviso para uma missão no interior lembrou que tinha equipamentos da polícia civil nesse veículo. Então ele temendo além do roubo do veículo, o roubo desses equipamentos, tentou evitar a saída do indivíduo", informou o superintendente da Delegacia de Homicídios, Lúcio Rogério Reis.

 

O policial que efetuou o tiro, segundo a polícia, trabalhava no núcleo de combate ao crime organizado e tinha 15 anos de corporação, com ótima conduta profissional. Como não houve o flagrante, o policial civil vai responder ao processo em liberdade.

 

Familiares inconformados

A família de Ademar está inconformada com o caso. "Despreparo total, né? Uma pessoa ouvir de outra pessoa que seu carro foi roubado e a pessoa já sair com uma arma em punho? Ele não deu nem a oportunidade do meu irmão falar nada", declarou Vera Lúcia, irmã de Ademar. Ademar era formado em direito, funcionário público do Ibama e nunca teve passagem pela polícia.

 

A família criticou ainda a conduta do policial na abordagem. “Que procedimento é esse de abordar alguém? Ficamos sabendo também que ele tinha uma diligência para cumprir depois, então ele foi inconsequente duas vezes porque como ele estava num bar antes de realizar a diligência. Ele foi muito irresponsável”, criticou ainda a irmã.

 

Velório e sepultamento

O corpo de Ademar chegou ao Tocantins na manhã de terça e está sendo velado em Porto Nacional, no salão da funerária Santo Antônio. O sepultamento ocorrerá às 17h, em Porto Nacional.

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