A Polícia que assusta

O Auditor Fiscal da Receita Estadual, Gilsomar Alves Gomes aborda em seu artigo sobre os últimos episódios envolvendo a polícia. "Hoje, estamos acompanhando barbárie encima de barbárie, orquestrada por policiais despreparados psicologicamente pa...

Depois de acompanhar a barbárie que aconteceu em Manaus em que, policiais militares covardemente atiraram à queima-roupa em um adolescente de 14 anos, as torturas inaceitáveis de um policial militar a um jovem do Setor Santa Fé (manchete na imprensa nacional) e recentemente as agressões a um empresário da capital, demonstra que a seleção de policiais, não somente do Brasil como do Tocantins precisa de uma reforma urgentíssima.

Esses “maus elementos,” se escondem na farda da polícia e muita das vezes no corporativismo dos outros colegas e da própria entidade para realizar seus anseios macabros de sair por ai matando, agredindo, torturarando e se achando intocáveis.

Tempos outrora, quem ingressava na Polícia Militar o fazia por dedicação, pelo amor à instituição e pelo desejo de proteger a sociedade. Hoje, estamos acompanhando barbárie encima de barbárie, orquestrada por policiais despreparados psicologicamente para representar essa instituição sagrada que ao invés de nos assustar, deveria nos proteger.

Os tais Grupos de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil e o Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar parecem ter desencadeado operações sem comando e sem planejamento nos últimos tempos.

Outro dia estava jantando com minha família na Av. Palmas Brasil quando fomos brutalmente suspreendidos por esses policiais atordoandos e amedrontando todo mundo, como se estivéssem em treinamento. Colocando todo mundo contra a parede e revistando a todos, sem pedir qualquer tipo de identificação ou respeito às crianças que acompanhavam toda aquela ação esdrúxula e sem nexo. Possivelmente não encontraram nenhum bandido por lá, haja vista que estes provavelmente estavam assaltando residências, postos de gasolina e esplodindo caixas bancários por ai. Como diz o capitão Nascimento no filme tropa de elite, a polícia sabe onde acontecem os crimes, sabe a quem combater, tem o mapa da criminalidade, então porque sair nas bares e restaurantes revistando todo mundo?

Pela segunda vez, estava eu executando uma ré em num estacionamento na Av JK. e uma viatura do COE estava passando e o “rei” que a conduzia se achou no direito de revistar todo mundo, somente por entender que eu deveria ter feito a manobra mais devagar. Depois dessas abrodagens inúteis, meu filho de seis anos ficou com trauma da polícia. Quando vê um carro da polícia aponta o dedo dizendo: “Papai cuidado, Olha a polícia!” Para ele, aqueles policiais representam o mal e não o bem. Quem nunca se assustou com um desses carros dos tais GOE e COE que passam ao seu lado com armas pesadas do lado de fora da viatura, desobedecendo as leis de trânsito, como se estivem perseguindo bandidos no Morro do Alemão? A Polícia que deveria nos proteger é a Polícia que nos assusta!

Os tipos de abordagem acontecem exatamente como os fatos narrados pelo empresário Alexandre Dornelas no portal Patrulha Web. Debalde serão os argumentos ou pedidos de explicação. Havendo pergunta controvertida à ação policial, começam os tapas, gravatas, rasteiras e todo tipo de agressão física e moral. Utilizam o poder de uma arma de fogo e do exercício regular de um direito, que deveria ser direcionado para combater o crime em detrimento da proteção social.

Quem vai por fim nisso e prepará-los para o embate com a bandidagem ao invés de assustarem a população com suas truculências e ações sem sentido. Pensei que um dia, quando meu filho visse uma viatura da polícia pudesse se sentir seguro e não com medo. Cadê o Secretário de Segurança Pública? Homem “operador do direito” que conhece como ninguém os princípios constitucionais basilares: a dignidade da pessoa humana, o contraditório, a ampla defesa dentre tantos outros.

Espero que o nosso governador coloque as nossas polícias nos trilhos da justiça, principalmente esses maus elementos envoltos na farda da PM, que precisam urgentemente se decidir de qual lado estão.

Devo salientar que a carapuça serve apenas para certos policiais covardes que, decidiram trocar as ações de combater a criminalidade por ações de passar revistas em pessoas de bens, principalmente quando estão em lugares pacíficos e sem promiscuidade. Tenho muitos colegas e parentes na corporação e sei muito bem que os mesmos são, por vezes, prejudicados por essas atitudes de colegas que não servem em hipótese alguma para representar essa “força do bem” contra o mal, que sempre deve prevalecer na polícia de todo Brasil.

É necessário que a polícia exerça seu papel institucional que é a prevenção e a repressão dos delitos e que a vejamos como um órgão repressor da criminalidade, mas jamais, como órgão que nos atemorize. Como disse a Ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário, abusos de autoridade cometidos por policiais maléficos, como ordinariamente acontece, devem ser rechaçados de pronto e uma vez comprovados, seus autores devem ser expurgados, para que o órgão de segurança estatal não venha a cada dia ser degenerado aos olhos da sociedade e consequentemente resultará na assepsia da corporação, trazendo ao lume somente o relevante trabalho que os “agentes de bem” dessas corporações desenvolvem.

Gilsomar Alves Gomes é Auditor Fiscal da Receita Estadual, formado em administração de empresas, pós-graduado pela UFU-MG, estudante do 7º período do curso de direito.

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