Minha cota de indignação

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Lendo aqui no Blog da Tum o que Fernanda Bruni escreveu, sobre desacato, me lembrei deste desabafo escrito há bastante tempo, entretanto, bem atual tendo em vista o outro outubro que se aproxima.

INDIGNAÇÃO (Outubro de 2006)

E então, após um dia cansativo de trabalho, um acidente de moto. Trabalho duro, pedreiro, diarista, com a família comendo cada um dos centavos ganhos. Dia... a dia...

Até que foi atendido rapidamente... As 17:52h pelos registros de um (H)ospital (G)rande de (P)almas”. (Pedreiro pára as 17:00h) Atendido? Não sei.

Sei que passou a noite recebendo soro... “sob” observação...  nos corredores. Sua esposa, ao lado sentada em uma cadeira. Os filhos? ... Aos cuidados de um parente prestativo.

Mandado para casa no dia seguinte não suportou as dores e retornou em busca do diagnóstico correto.

_ “Cirurgia... é preciso colocar um pino. Coisa rápida, logo estará tudo bem”.

Era dia 11 de outubro e até hoje, 18, nada aconteceu... Seria no domingo, na segunda, na terça... E a esposa na cadeira ... E as crianças... 

Há alguns dias, conversando com minha mãe, uma senhora de 79 anos, lúcida, bem disposta e em plena capacidade física, ouvi-a dizer que não vota mais. Fiquei encasquetada com aquele comentário. Meio decepcionada até...

Hoje me questiono... Para que? Em quem votar?

Ouvi o alarde em torno da inauguração do grande hospital. Como boa contribuinte e cidadã participativa, até conheço o hospital. Fiz questão de conhecer. O primeiro piso e os superiores. Nos superiores, bastante tecnologia, muito moderno. Bastante espaço nas U.T. Is. Impressionante... Coisa de primeiro mundo... Espaço até demais.  Arrisco-me a dizer que o espaço poderia ser melhor aproveitado para atender a mais pessoas. 

PESSOAS. É isso que parece faltar naquele lugar. Falta capacidade para atender PESSOAS.

Quem vai cuidar dessa família, alimentá-la enquanto se decide se o centro cirúrgico está desocupado, se há quantitativo de médicos necessário, se o “dia”  é de cirurgia de joelho ou de braço... Se... , se... , se...

Estou INDIGNADA. Segundo o Aurélio significa “sentimento de cólera provocado por ação indigna”. E continuando... AÇÃO INDIGNA “cujo autor é cínico, indigno dos homens que confiaram nele“.

Sinto-me assim, usurpada na minha dignidade.  Eu, que estou aqui de fora. E ele? O “paciente”?...

Lembrando Mário de Andrade a vontade é dizer...  “Vou-me embora pra Passárgada...” meio como a minha experiente mãezinha fez.

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