O desenvolvimento cognitivo do adolescente

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Durante o desenvolvimento cognitivo na adolescência, segundo Manning (1993), ocorre uma alteração qualitativa  na atividade cognitiva. A autora afirma que esta alteração foi descrita por Piaget, como a capacidade de raciocinar  sobre o raciocínio, denominada de representação de segunda ordem, pois é o momento em que o adolescente utiliza  as novas capacidades para pensar a respeito de si mesmo e do mundo exterior. Zorzi (1995), conceitua o  desenvolvimento cognitivo como um processo de formação da própria inteligência. Sendo a capacidade de  estabelecer relações entre objetos, eventos ou situações e construir o seu próprio conceito.

O desenvolvimento da inteligência é uma troca entre o sujeito e o meio, processo que garante um resultado de interação entre eles. David Levisky (1993, p.38) ressalta que a criança na fase escolar, entre 7 – 10 anos,  “apresenta inteligência tipo lógico concreto” ela é capaz de resolver problemas estabelecendo relações, classificar,  comparar, desde que possa realizar de forma objetiva. César Coll (1985) diz que o adolescente tem a capacidade  de prever todas as situações causais possíveis, quando lhe é apresentado um problema, não levando em consideração  somente os dados reais presentes, mas levando em consideração todo o contexto do problema apresentado.

O adolescente agora coloca o real subordinado ao possível, diferentemente da fase anterior onde o possível estava subordinado ao real. aul Henry Mussen (2001), afirma que os adolescentes atingem o desenvolvimento  cognitivo com as operações formais, com as quais podem raciocinar sobre os problemas hipotéticos e explorar  possibilidades alternativas em uma busca sistemática por soluções. Com a chegada da adolescência, a inteligência  evolui do “nível concreto para o formal”, pensamento lógico dedutivo. “É o nível em que o jovem é capaz de raciocinar estabelecendo relações combinatórias independentemente de elementos perceptíveis e manipuláveis” César Coll (1995).

         O adolescente consegue ampliar o seu campo de conhecimento através do processo de identificação do pensamento  formal.     Tradicionalmente, considera-se que a adolescência seja o tempo no qual o aluno conquista um pensamento abstrato ou teórico. No entanto, não se deve esquecer que, antes da adolescência, os alunos também são capazes de um certo pensamento abstrato. Porém, na adolescência, essas abstrações ou teorias assumem a forma de hipóteses. Ou seja, utiliza-se uma estratégia que consiste em formular um conjunto de explicações possíveis para, posteriormente submetê-las  à prova, para comprovar sua confirmação empírica.

     Segundo César Coll (1985), baseado em Piaget, “o pensamento formal é um pensamento universal”. É uniforme e homogêneo, pois constitui um conjunto de sistemas no qual o adolescente acende simultaneamente a  todas as operações formais. Segundo o autor, esta é a última fase do desenvolvimento intelectual do adolescente,  possuindo traços semelhantes aos do pensamento do adulto.

     César Coll (1985), porém, faz algumas contestações às posições acima de Jean Piaget: Os dados atualmente disponíveis sugerem, mais uma vez, que o pensamento formal e, portanto não surge espontaneamente, nem tampouco é um pensamento com uma estrutura de conjunto. É constituído, antes, por um conjunto de estratégias ou esquemas que não são adquiridos unitariamente e que, como já analisamos, dependem, decisivamente, do conteúdo da tarefa, no momento de resolver os problemas propostos. Tudo isso faz pensar que também dependem muito do grau de  instrução recebido.

     Mas Coll (1985) faz uma ressalva, já que nas recentes investigações de diversos pesquisadores, há entre alguns adolescentes um déficit das operações formais e que deve ser analisado pela distinção-atuação. Os adolescentes  que apresentam esse déficit não conseguem aplicar suas habilidades intelectuais (competência), quando defrontadoscom um problema ou atividades escolares, em que seu rendimento cognitivo pode situar abaixo do nível de suas possibilidades.

     Para Hellen Bee (1996), nem todos os adolescentes utilizam a lógica formal. Segundo a autora, a maioria de nós temos alguma capacidade de operação formal, mas só podemos aplicá-la quando estamos familiarizados com as  tarefas propostas. A autora cita o seguinte exemplo: “eu uso o raciocínio de operações formais acerca da psicologia, porque esta é uma área que conheço bem. Mas sou muito menos capaz de aplicar o mesmo tipo de raciocínio para consertar um carro”.

     Os estudos mencionados por Coll (1985), revelam que o conhecimento prévio influencia o adolescente nas soluções  de problemas que exigem um raciocínio formal. A experiência e a familiaridade são agentes facilitadores nas soluções, diferentemente daqueles que se defrontam com os problemas pela primeira vez.

     Sendo assim, pode-se perceber que esta fase na vida do sujeito é de uma importância fundamental, pois é nesta etapa que ocorrem as maiores transformações fisiológicas, psicológicas, cognitivas e sociais. Em que os tabus são colocados em voga para permanecer ou serem quebrados. A história da evolução humana comprovou isto, sobretudo na família e suas relações internas e externas, apontando para o século atual e os vindouros, uma constante quebra  de paradigmas no trato destas relações pai/mãe/filhos/sociedade. 

 

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