Vinte anos depois, um dos últimos "moicanos" deixa o exemplo e volta para casa

Um grupo de amigos fez uma despedida singela numa churrascaria de Palmas nesta terça-feira, 15, em torno do ex-deputado estadual, juiz aposentado, Júlio Resplande. Há exatos 20 anos ele chegava ao Tocantins para assumir a secretaria de Segurança Públ...

Um almoço numa churrascaria no centro de Palmas reuniu pouco mais de vinte amigos, ex-assessores, gente próxima ao ex-secretário Júlio Resplande. O grupo foi se despedir do ex-deputado, que se cansou do PMDB quando o partido decidiu apoiar o senador Renan Calheiros ao invés de cassá-lo no episódio da empresa que pagava pensão, às expensas públicas, à uma ex-amante do senador.

Já se vão exatos 20 anos do dia 15 de março de 1991, quando "no verdor" dos seus 50 anos, o juiz recém aposentado à época, Júlio Resplande, desembarcava numa Palmas poeirenta, acompanhado do professor Ruy Rodrigues da Silva. Um se tornaria secretário de Segurança Pública do Estado e o outro Secretário de Educação do recém iniciado governo de Moisés Avelino. Detalhes à parte, são perfis parecidos. O velho Ruy já vive em Goiânia há alguns anos lutando contra a doença que consome a memória dos anos vividos na labuta da educação.

Ao fechar esta semana o escritório de advocacia que ainda mantinha com as portas abertas na capital e decidir voltar para Goiás e para o convívio com a família, Resplande encerra um ciclo em que homens de outra estatura ética e moral marcaram atuações importantes na política e na gestão pública. É um dos últimos “moicanos” de origens no antigo PSD, depois PMDB, que abandona a cena pública e volta para casa.

Um homem de rara estatura e integridade moral

Resplande na verdade, desembarcou em Palmas dois dias após se aposentar das funções de juiz, perdendo inclusive algumas vantagens. Foi três vezes secretário de Estado, em dois governos diferentes. Quando deputado estadual foi dos que não aderiram. Eleito em 1998, terminou o mandato na cota dos dois de oposição (ele e Josi Nunes) contra os 22 de oposição. Tempos raros.

Nestes 20 anos, muita coisa aconteceu para retirar delegacias funcionando em garagem na casa de delegados no interior tocantinense, para a estrutura que já existe hoje. Júlio Resplande deu contribuição maiúscula na organização de estruturas de governo que atentassem pela primeira vez para os direitos humanos. Foi voz ativa na valorização da polícia civil e mais não fez por que o prometido concurso do governo Marcelo Miranda não saiu em sua gestão.

Relembrando os anos vividos no Tocantins o ex-secretário passeou por memórias da atuação nos três poderes: legislativo (foi deputado), executivo(três vezes secretário) e judiciário (de onde veio ao se aposentar). Saiu do PMDB por decepção com a nacional e com a gestão regional de Osvaldo Reis. Deixou a política partidária depois de uma eleição federal perdida “por falta dos cobres”no final das contas.

Ao voltar para casa com um patrimônio social, ao invés de financeiro, é dos homens que inspiram uma geração inteira pelo exemplo. Resplande sai de cena e fecha a porta nesta terça de comemoração do Código de Defesa do Consumidor como um homem raro, que justifica este parêntese que abro aqui nesta tarde. Daqueles respeitosos, de bons modos, agradável oratória e de palavra.

Ah se a política e gestão pública tivesse mais “moicanos”assim!

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