Vinte anos em dois: um passeio pela paixão, profissão e história

Ontem 3 de abril fiz 20 anos de Palmas. Era uma manhã chuvosa quando o ônibus da Transbrasiliana que peguei em Goiânia fez sua primeira parada numa avenida larga, ao lado de uma imensa poça de lama. Dei uma olhada para fora e não acreditei que tinha ...

Do lado de fora, a avenida Tocantins era um traço apenas do que se tornaria com o tempo. Bem no entroncamento de saída para Taquaruçu, onde hoje está a praça, a igreja e o posto de gasolina, era a parada. O mais eram casas de adobe e palha e os comerciantes com suas primeiras construções se instalando por ali. Cenário surreal que foi se compondo logo adiante.

A parada na “rodoviária” provisória de Palmas, de frente à Bella Palma não foi mais animadora. Alí funcionava o caixotão, com restaurantes, guichê de bilheteria, e ponto de parada dos ônibus. Depois mudou para as imediações do Osvaldo Cruz, e de lá para o seu local definitivo.

Palmas não tinha casa para alugar. O mato era tão alto que cobria a gente na trilha que separava o hotel de madeira pré-moldada, um dos primeiros de Palmas, da sede da Comunicatins, repetidora da TV Manchete onde fui trabalhar à convite da então diretora de comunicação da emissora, Mônica Calassa. Ela que tinha vindo meses antes ao Tocantins para fazer parte da equipe de TV do programa do candidato a governador vitorioso, Moisés Avelino e terminou nomeada no governo que estava começando nos idos de abril de 91.

Relembrar hoje aqueles dias de lama e depois poeira, é quase viajar no tempo e na história dos motivos que me trouxeram à Palmas e que anos depois - fim do governo do PMDB, e volta de Siqueira Campos ao poder - me fizeram ficar.

Era outra Palmas, embora hoje muitas daquelas pessoas ainda habitem por aqui, circulando pelas mesmas ruas e bares. Outros já partiram, como o Cesamar - que virou nome de parque - a Maria Esther, funcionária do comercial da Jaime Câmara e tantos amigos que fomos enterrando e colocando no álbum de fotografias e nas páginas da memória.

Por que 20 anos em 2?

Na trajetória profissional que fiz desde então – quando tranquei o curso de jornalismo da UFG no terceiro ano em Goiânia – e literalmente passei o carro na frente dos bois, decidindo trabalhar ao invés de concluir a faculdade, ficaram alguns registros. Em Palmas, Gurupi, Araguaína e Miracema, cidades em que morei trabalhando em jornal, TV, revistas, assessorias e campanhas políticas, assisti à história do Tocantins ir se construindo.

De tantas experiências profissionais - brevemente interrompidas com a tentativa de voltar à Goiânia e concluir jornalismo – muitas lições foram aprendidas. Mas Palmas me deu a confiança nos sonhos. Talvez esta tenha sido minha maior conquista aqui, assim como de muitos que vieram. Não enriqueci, é óbvio. Mas como aprendi!

Aqui montei um jornal e o mantive (o Alô Galera) por seis longos anos de circulação ininterrupta. Aqui fiz minhas incursões pela política - como candidata duas vezes - e depois como profissional do marketing político.

Agora, chegando aos 20 anos de moradora desta cidade pela qual me apaixonei logo na chegada - com sua lua cheia subindo a serra, e sua praia da Graciosa original - conquisto o espaço que queria na minha profissão: poder escrever sem patrão e poder me sustentar com isso. O patrão, tal como nos sonhos mais puros dos universitários nas faculdades de jornalismo, é o leitor. A utopia se consagrando na vida real não é coisa pouca.

Por isto, os dois anos de Site Roberta Tum, completados semana passada, pertinho destes 20 anos de Palmas, são tão importantes.

Ainda há coisas que quero fazer. E quantas. Escrever os livros que repousam em fragmentos no papel e na memória. Fazer um tempo para a carreira acadêmica, que me chama. Voltar para o rádio, que adoro.

O mais importante neste dia de tantas lembranças, é poder reler as coisas que escrevi na chegada e perceber que valeu o risco de trocar Goiânia por Palmas. Naquela época, uma frase de Rainer Maria Rilke me marcava profundamente: “Nada de grande se fez sem paixão”.

Talvez este seja o saldo desta minha já pequena longa história: a paixão que moveu cada busca, cada tentativa, cada queda sucedida pela insistente decisão de recomeçar.

Como valeu a pena! É por isto que divido a data tão feliz, com vocês, leitores deste espaço que estamos consolidando juntos. A todos que fizeram parte desta caminhada, minha gratidão. Aos que ainda fazem: bola pra frente. Se pudesse voltar atrás por um instante, só colocaria mais filme e uma boa Nikon na bagagem. É que a vida passa rápido demais e a gente que se ocupa vivendo, acaba deixando de registrar.

Boa semana a todos. Que seja cheia das coisas boas que construindo, a gente leva pelo resto da vida, para lembrar.

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