A democracia exige comprometimento

As críticas são necessárias e fazem parte do debate democrático, mas é necessário ter comprometimento

Palmas - TO.
Descrição: Palmas - TO. Crédito: Regiane Rocha

Depois de um ano desta persistente pandemia de Covid-19 no mundo todo, aqui em Palmas se presencia algo que é um dos resíduos deste estado de adoecimento: a disputa política acerca do direito à vida. A gestão da atual prefeita, que era prefeita também quando a pandemia nos alcançou, sempre foi passível de críticas. As críticas, no entanto, não tiram dela os votos na corrida eleitoral.

 

Em todo caso, as críticas são necessárias e fazem parte do debate democrático. Todavia, o que se viu neste mês de março, como se tem notícia, é que o agravamento da pandemia em Palmas levou um grupo de pessoas a cruzar a linha do saudável debate democrático.

 

A defesa, feita por este grupo de pessoas, do direito ao trabalho, à renda, é em princípio uma coisa contra a qual não pode haver oposição, claro. O detalhe é que a gestão da pandemia não nos coloca, como sociedade, uma alternativa. Ou se fazem as medidas para conter a propagação vírus, ou não teremos nem mesmo a vida para o debate político. Para haver discordância no debate político é preciso estar vivo.

 

Mas o grupo, munido de uma leitura enviesada, fez um piquete na porta da casa da Prefeita. Parte desse grupo esteve representado na última eleição municipal e não teve êxito em convencer o eleitorado. Assim, é possível identificar dentro deste grupo, um pouco de ressentimento, um pouco de falta de sensibilidade, e uma total falta de empatia.

 

Como a gestão municipal, repito, pode e deve ser continuamente alvo de crítica, esse grupo, via as entidades representativas do setor, como Acipa, sindicatos patronais, entre outros, poderia se fazer presente na Câmara de Vereadores, tomar parte nos debates, propondo e debatendo.

 

Mas na realidade de Palmas não é isso que se tem visto. Basta ver como a Câmara de Vereadores tem agido em relação ao estado de saúde do Município. A presidente da Câmara tem agido como uma garota de recados, falando como uma pessoa que desconhece o diálogo, premissa fundamental em política. Não há democracia com violência, deveria saber a Presidenta da Câmara.

 

Aliás, a Presidenta da Câmara não deveria ser nem amiga nem aliada da prefeita, não é disso que se trata. Ela tem o dever de abrir a Câmara para que seja o espaço da classe empresarial, de comerciantes, de ambulantes, de toda a comunidade municipal para que tivessem ali um espaço de conversa, de debates e de propositura de ações. A essência do poder legislativo é ser um espaço de debate, do contraditório. A Câmara poderia estar aberta 24 horas por dia, sobretudo agora que pode estar “aberta” de modo on-line.

 

Não deveríamos ter uma Câmara que boicotasse a gestão municipal, porque quanto mais tempo a Pandemia persistir tanto mais todos/todas nós vamos perder. Não dá para acreditar como uma Presidenta do Poder Legislativo pode ser tão néscia, inábil e tão distante da premissa do legislativo. Assim, quando os representantes dos poderes constituídos não são, eles mesmos, os mediadores dos conflitos, insuflamos à sociedade ao barbarismo. O Barbarismo é o fim do sentido de sociedade.

 

Não há democracia sem a crítica, também não haverá democracia se o direito de criticar partir para a ameaça, para a violência. As decisões do Comitê de especialistas que assessoram a Prefeita podem ser criticadas, mas não podemos partir para sedição. Por isso, desde o início da Pandemia, a Câmara Municipal deveria ser o espaço de diálogo. Quando os dados da Pandemia caíram no ano passado, todos/as se esbaldaram na corrida eleitoral, aglomeraram. Mas em nenhum momento houve por parte da Câmara Municipal de Palmas nenhuma preocupação do que poderia/deveria ser feito caso a Pandemia recrudescesse.

 

Também não custa lembrar que a Prefeita, além de ser de um partido de centro direito que em muitas pautas apoia o atual governo federal, se auto identifica também como conservadora, tem como vice o irmão do Senador Eduardo Gomes, que é nada mais nada menos que líder do governo de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional. Isto é, parte dos problemas pelos quais passamos devido ao agravamento da pandemia são também resultados da omissão do atual presidente. O mais incrível nisto tudo é que parte do grupo de pessoas contrárias às medidas restritivas das atividades comercias, são apoiadoras ferrenhas do Presidente da República, conservadoras e moralistas.

 

O alcance dos prejuízos no comércio devido às portas fechadas, os empregos ameaçados, o empobrecimento galopante, tudo isso é tão desolador, claro. Mas é tanto mais angustiante ver a pandemia descontrolada, com tantas mortes. Ser pobre nunca é bom, a pobreza humilha, desumaniza. Mas entre estar vivo, mesmo pobre, é melhor estar vivo que morto. A morte, ainda mais em decorrência de uma pandemia tão letal como esta, é o fim de tudo, dos sonhos, das lutas, é o fim, inclusive da chance de deixarmos de ser pobres.

 

Por fim, quero lembrar que para além do teor beligerante da Presidenta da Câmara, não vejo, por exemplo, nenhum comitê de lideranças femininas da política vir a público defender a vida da prefeita. Aqui não falo de amizade, reitero, mas em defesa da presença das mulheres na vida pública. Temos deputadas, como a Cláudia Lélis, a Luana Ribeiro que é da família da Prefeita, por assim dizer, temos Desembargadoras, Procuradoras de Justiça, Defensoras Públicas, Empresárias, as demais vereadoras, lideranças femininas de outros seguimentos. Nada. Não vejo nenhum movimento de defesa da presença das mulheres na vida pública.

 

A prefeita não é perfeita, nem é isso que se espera dela, mas não é nem justo nem humano atacar a vida dela porque se é contra as decisões políticas por ela tomadas. A democracia exige comprometimento. Criticar sim, avacalhar jamais.

Comentários (0)