No adeus de Dona Aureny, memórias de um ciclo que se fecha na história de Palmas

Dona Aureny deixou o estado no final do segundo mandato do marido, Siqueira Campos. Discreta e silenciosa, foi viver com as filhas em Brasília. Parte aos 96 anos após anos acamada...

Familia Siqueira, década de 60
Descrição: Familia Siqueira, década de 60 Crédito: Arquivo de família

As novas gerações que habitam Palmas, a capital do Tocantins, não conheceram Dona Aureny Siqueira Campos, que partiu ainda na noite de quinta-feira, 12, após 96 anos de uma vida intensa.

 

Acamada há anos, vivendo em Home Care, em Brasília, na casa de uma das filhas, a ex-primeira dama do Estado vivia um quadro de agravamento da saúde. Com Alzheimer, problemas pulmonares, ela veio pouco a pouco se desligando nos últimos anos do mundo ao seu redor. 

 

Vivia cercada pelo carinho dos filhos, na casa de uma das filhas, naquele estágio que muitos idosos vivem, de presença e ausência. Vida que aos poucos vai partindo e deixando apenas as memórias do que um dia a pessoa foi.

 

Em março deste ano, seu quadro de saúde sofreu um agravamento, posteriormente contornado, que noticiamos aqui.

 

Dona Aureny foi uma grande senhora. Uma dama. Uma matrona à frente de uma família que enfrentou muitas adversidades até chegar onde chegou com a ascensão política de seu marido, primeiro governador do Estado, José Wilson Siqueira Campos.

 

A morte foi comunicada em sóbrias e curtas palavras pelo filho zeloso Eduardo Siqueira Campos, em seu Twitter. Na página do deputado estadual no Facebook, a última postagem sobre a mãe, antes da morte, é de 20 de agosto, quando ela completou 96 anos. Na de ontem à noite, uma foto de Dona Aureny com o neto Gabriel, falecido em acidente aéreo em janeiro de 2011.

 

Foram duros anos, os primeiros da família Siqueira Campos. Anos de dificuldade, em que a família embrenhou pelo Norte do País, movida pelo espírito desbravador de Siqueira. À frente da família, dona Aureny foi uma guerreira, criando os filhos e apoiando o marido em tempos nada fáceis.

 

Daqueles anos, um registro está gravado nas páginas do filho Eduardo, nas redes sociais. Uma foto antiga onde Dona Aureny, lenço amarrado à cabeça, aparece no retrato em preto e branco numa viagem que a família fez nos idos da década de 60 pelo então Norte Goiano. Abaixo dela, a legenda escrita pelo filho:

 

“Depois da longa viagem de caminhão, entre Campinas e Colinas e Nova Bandeirantes) que durou 14 dias em 1964,umo outro momento, possivelmente no início de 1965 já em uma Kombi. Fica evidente minha semelhança física de hoje com ele, quando meu pai tinha seus 36 anos. Já eu o mesmo olhar de encantamento ( abaixo e esquerda), enquanto o Junior (abaixo a direita) de braços cruzados não queria bater a fotografia. Estávamos próximos a Guará, hoje Guaraí. Da esquerda para a direita acima: D. Aureny, meu Pai, a Stela. Na parte de baixo , da esquerda para a direita a Ulemá, eu ( olhando para ele ) a Thelma e o Junior, de braços cruzados. 1965 possivelmente ou final de 1964.”

 

Os dias de dificuldade se sucederam aos anos de transição na carreira política de Siqueira, o vereador, até o mandato de deputado federal, que brilhantemente soube usar para concretizar o sonho de tantas gerações pela criação do Tocantins. E daí para o governo do Estado.

 

Dona Aureny viveu o primeiro mandato, mais curto de Siqueira, ao seu lado. Foi presente, constante, atuante primeira dama.

 

Os mais velhos, que viveram os primeiros anos de implantação de Palmas, guardam dela grandes lembranças, boas memórias. Sua atuação generosa marcou os pioneiros da capital. Seu nome ainda presente nos quatro bairros que deram origem à expansão de Taquaralto: Aureny’s I, II, II e IV.

 

Já o segundo mandato, iniciado em 1995, foi concluído por ele, sem a primeira esposa ao seu lado. Separada do marido, deixou o Tocantins, silenciosa e discreta para a companhia das filhas.

 

Nas redes a comoção é grande, e seus contemporâneos multiplicam depoimentos e homenagens. 

 

Do Twitter da jornalista Adriana Borges, que assessorou por diversos anos o ex-governador, e conviveu com dona Aureny, extraio esse trecho: “voz em tom suave, volume baixo e uma gentileza sem igual. Colar e brinco de pérolas, que a enfeitavam sem distanciá-la das pessoas. Assim era Dona Aureny(...)”

 

Uma grande dama que deixou sua marca na história da implantação de Palmas, nas famílias antigas de Colinas, e por onde passou.

 

Que finalmente descanse, depois de longa e dolorosa caminhada, nos braços do Pai.

 

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