Roteiro alternativo faz convite a vivência quilombola no Jalapão

Além de conhecer os atrativos mais famosos dessa região turística do Tocantins, o visitante pode vivenciar a rotina de uma comunidade que saiu do isolamento há apenas 15 anos.

Manoel Francisco de Sousa revela o modo tradicional de fazer uma boa rapadura.
Descrição: Manoel Francisco de Sousa revela o modo tradicional de fazer uma boa rapadura. Crédito: Lars Diederichsen - Divulgação

Enquanto remexe o líquido espeço no enorme tacho sobre uma rústica fornalha a lenha, Manoel Francisco de Sousa revela o modo tradicional de fazer uma boa rapadura.

 

Ainda fervendo, o melado é despejado em um cocho, e novamente remexido para esfriar e somente depois vai para as formas quadradas. Crianças e adultos que nunca viram isso antes – muitos deles nunca provaram a iguaria feita a partir da cana-de-açúcar - ficam boquiabertos.

 

Seu Manoel é um dos cerca de 200 moradores da Comunidade Quilombora do Prata, localizada a 20 km de São Félix do Tocantins, um dos municípios da região do Jalapão, distante 267 km da Capital, Palmas.

 

Ele e sua mulher, Rosirene, integram a Associação de Moradores, que há cerca de um ano aderiu ao de turismo de base comunitária. Graças a esse projeto, produzir e vender rapadura ganhou um significado mais amplo, tornou-se valor cultural agregado, para atrair visitantes à pequena comunidade.

 

Comunidades foram capacitadas através de Fundo Socioambiental

 

O projeto foi desenvolvido pelo Instituto Meio, de São Paulo, com financiamento do Fundo Socioambiental Caixa, que levou capacitações em áreas diversas, como gerenciamento, receptivo, manejo de alimentos, além da aquisição de camas, material de cama e banho, equipamentos para o Restaurante Sabor do Quilombro, que fica na sede da Associação e tem capacidade para atender até 40 pessoas.

 

A comida caseira é servida com carinho e as mesas recebem pratos sobre suplats da principal matéria-prima do artesanato local e tocantinense, o capim dourado, uma espécie de sempre-viva que ocorre em campos úmidos próximos a veredas. 

 

Comida caseira é servida com carinho e pratos sobre suplats de capim dourado. Foto de Lars Diederichsen - Divulgação

 

Simples, mas confortáveis

 

O turista que passar pela localidade também encontrará acomodações simples, mas confortáveis, em seis residências que ganharam os sujestivos nomes de “Cajueiro”, “Canto do Sabiá”, “Buritis”, “Mãe Tico”, “Prata” e “Seu Abílio”, com capacidade para receber 30 hóspedes simultaneamente.

 

LeDarlene recebe hóspedes de todo o país - Foto de Seleucia Fontes - Divulgação

 

“A gente ficou com medo, porque a casa é muito simples”, conta Darlene Francisco de Sousa sobre a adesão ao projeto. Hoje, ela não só participa ativamente como já conseguiu dinheiro para ampliar sua casa com o dinheiro das hospedagens e do restaurante, onde também integra o time de cozinheiras. “Queremos acertar, para todo mundo sair feliz da comunidade”, diz com seu sorriso cativante.

 

Base comunitária

 

O turismo de base comunitária veio para melhorar a vida dos moradores dessa comunidade surgida há cerca de 100 anos, e que somente no início do século 21 teve acesso a energia elétrica e saneamento básico.

 

Lars Diederichsen, um dos diretores do Instituo Meio, lembra que durante seu primeiro trabalho na região, há cerca de 20 anos, deparou-se com uma população isolada. Algumas vantagens da vida moderna já chegaram por lá, inclusive internet, mas o modo de vida continua pautado em um ritmo muito diferente da rotina das grandes cidades.

 

“É um processo de conscientização local, precisamos fazer alguns ajustes, evidenciar o que eles fazem melhor, o artesanato, a comida”, defende Lars, que esteve recentemente no Prata com um grupo de operadores de turismo de Palmas e São Paulo, justamente para apresentar o resultado do projeto e propor a inserção da comunidade no roteiro já conhecido pelos turistas antenados com regiões de grande potencial para o ecoturismo.

 

Agora, além das dunas, cachoeiras e fervedouros, os moradores e suas tradições também são um atrativo. “Queremos manter a rusticidade, mas não a precariedade”, esclarece a superintendente de Turismo da Agência de Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa”, Maria Antônia Valadares de Souza, ressaltando que a sustentabilidade é a base para o desenvolvimento da região.

 

O embrião do turismo de base no Jalapão, nas comunidades de Prata e do Mumbuca, teve início com projeto  realizada pelo Governo do Estado, por meio da antiga Agência de Desenvolvimento do Turismo (Adtur), executora do planejamento inicial e das oficinas participativas, por meio do Programa de Desenvolvimento Regional Integrado e Sustentável (PDRIS), financiado pelo Banco Mundial.

 

Avaliações

 

“Buscar entender o que o turista quer faz toda a diferença”, avalia a turismóloga e empresária Carol Reis, da Calliandra Ecoturismo, enquanto Montserrat Cordeiro, consultora de produtos e serviços da Jalapão Expedições Ecotrip aponta a importância do valor agregado.

 

“A cultura local é o produto que vamos vender para este perfil de turista que quer essa vivência”, lembra. Klaussy Amorim, da Turismo Consciente, agência paulistana que atua com viagens de experiência na Amazônia, elogiou a organização e lembrou que o encantamento está nos detalhes e na simplicidade.

 

 

 

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