A vida de Ana

A depressão que levou Dáleti Jeovana nos faz enfrentar uma verdade dos nossos tempos e de outros: o silenciamento da dor

A vida de Ana

 

No dia 17 de outubro uma poesia potente falava sobre o âmago da vida quando a dor não é mais suportável. 

 

Era exposta assim, em uma rede social, o anúncio de uma experiência depressiva, que foi mascarada pelo incrível talento de poetizar o sofrimento.

 

No dia 21 de outubro, a notícia que ninguém jamais podia esperar. Uma jovem decide pôr fim ao que tanto lhe fazia doer, sem que pudéssemos nos antever e tomar atitudes contra o que ela previu em seu poema.

 

A depressão que levou Dáleti Jeovana nos faz enfrentar uma verdade dos nossos tempos e de outros: o silenciamento da dor. 

 

A sensibilidade é uma característica dos que a tem e daqueles que, de forma ou outra, estão atentos às vidas alheias; e as redes sociais e o mundo virtual parecem nos distanciar disso. 

 

Não que eu queira dizer que a mídia social seja um espaço de indiferença, já que é muitas vezes ela que nos une em redes e nos conecta em movimentos e sentimentos. 

 

Mas o ímpeto de descer a “timeline” em busca de mais e mais informação, às vezes, nos impede de observar com o olhar mais atento uma informação dada, metaforizada, e que denuncie algo do íntimo humano. 

 

Mas a história de Dáleti nos evoca a um lugar muito além. 

 

Toda a publicização de seu caminho nos pode revelar a existência de uma juventude negra forte e resistente, que luta e dialoga em Palmas sobre as opressões, atuando através do talento e da resistência em diversos campos. 

 

Que jovem linda! A conheci pois tivemos o privilégio de tê-la como Jovem do Resolve Palmas. 

 

Uma ativista que com tão pouca idade era capaz de dizer através do jornalismo, da escrita e da música, sobre as experiências massacradas pelo racismo e outros preconceitos, dos quais ainda somos tão insensíveis. 

 

O movimento negro perde. 

 

A juventude perde.  

 

E mais do que nunca, todos nós perdemos quando uma vida se esvai. 

 

O fato dela ter desistido não é o mesmo que dizer que lhe tenha faltado coragem. 

 

Somos nós quem continuamos desatentos e negligentes. 

 

E que sejamos melhores. 

 

Meus sentimentos à família, aos tantos amigos e aos movimentos sociais da cidade de Palmas. 

 

Que a visibilidade da luta de todos e todas, reluza todas as fronteiras de nossa cidade. 

 

Que esteja em paz, guerreira. Porque é de seu merecimento estar!

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