Viver sob a pena de se ter pena de morte

A pena de morte é processo legal comum em vários países e de acordo com uma pesquisa do Datafolha de 2014, 43% dos brasileiros é a favor da pena de morte, enquanto 52% se posicionam contra

Crédito: Da Web

Nas diversas conversas que temos durante os dias da semana, seja na escola, com uma vizinha, ou nos corredores de um supermercado, várias são as comunicações e expressões sobre a violência repartida no nosso cotidiano.

 

A violência já nos é tão presente que parece que a única resposta possível parece ser a própria violência. E o que acontece é que ela reduz a nossa capacidade de pensar sobre ela. A violência é irracional. O ódio muito mais.  Na década de 70, já cantava Elis Regina: “O sangue jorra pelos furos, pelas veias de um jornal”.

 

A pena de morte é processo legal comum em vários países e de acordo com uma pesquisa do Datafolha de 2014, 43% dos brasileiros é a favor da pena de morte, enquanto 52% se posicionam contra, o que demonstra que vários de nós somos propensos em acreditar nessa saída. Uma observação importante: dos 193 países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU), 170 já aboliram a pena de morte, ou seja, não mais a praticam há pelo menos 10 anos. E se você acha que os Estados Unidos é defensor inigualável da prática, saiba que ela tem sido cada vez menos frequente - dos 50 estados no país, 29 já não empregam mais a pena capital. (Fonte: Site Politize!)

 

Pensar que a única solução possível para o fracassado sistema carcerário brasileiro seria a pena de morte é pensar de maneira simplista os prováveis caminhos a serem percorridos para o começo da dissolução do impasse da violência no Brasil.

 

Dessa forma, preciso colocar novas reflexões aqui, já que ambos os lados (os contra e a favor), nos colocam questões (im)pertinentes. De um lado: e se fosse um indivíduo que tivesse tirado a vida de um filho seu? De outro lado: e se fosse um filho seu que tivesse tirado a vida de um indivíduo? Todos os lados nos colocam em posição de angústia porque é simples perceber que quando a violência afeta nosso espaço privado e familiar ela constantemente nos coloca tendenciosos à vingança ou resignação.

 

Sentimentos e ações políticas não são separáveis. Pelo contrário. A discussão exige um texto maior e com mais dados. Mas observemos as opiniões que tomamos e por onde se embasam - já que a ideia de que gastamos muito com a ressocialização de presos e presas cai por terra quando se tem em mãos, dados que garantem que o custo da pena de morte em alguns países é quase o mesmo dos recursos gastos com a ressocialização.

 

Além do mais, um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado pelo jornal de Lei Criminal e Criminologia da Universidade de Northwestern, em Chicago, mostrou que para 88,2% dos entrevistados, a pena de morte não tem qualquer impacto sobre os níveis de criminalidade.

 

Pensemos, mas não fiquemos com as respostas e pensamentos óbvios do dia a dia. Prisão perpétua? Outro sistema de punição? Não sei. O que sei é que não podemos ficar à mercê da raiva e do medo contagiosos que despedaçam nossa capacidade de pensar sobre nós mesmos. Não podemos evitar a discussão sobre os graves problemas sociais do Brasil, que majoritariamente afeta as camadas mais pobres desse país tão bonito e complexo.

 

Lucas Meira.

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