A brava resistência das mulheres no Senado, pelo direito de lutar contra o retrocesso

Senadoras de oposição assumiram ontem a Mesa Diretora do Senado, assim que o horário regimental foi aberto

Crédito: Divulgação

A Reforma Trabalhista, conforme idealizada pelo governo de Michel Temer, passou ontem, terça-feira, 11, no Senado, sob os protestos da classe trabalhadora, entidades sindicais e classistas, e de um grupo de senadoras que assumiram ontem a Mesa Diretora do Senado, assim que o horário regimental foi aberto.

 

Em conflito com a presidência da Casa, que barrou a participação popular, na ocupação das galerias, deixando literalmente de fora as representações de entidades de trabalhadores e dirigentes de entidades sindicais, Gleisi Hoffman, Lídice da Mata, Vanessa Grazziotin, Fátima Bezerra e Regina Souza, senadoras de oposição ao governo Temer, que consideram flagrantemente ilegítimo, ocuparam a Mesa.

 

Pelo regimento da Casa, qualquer senador presente no horário de abertura da Sessão pode assumir a presidência e abrir os trabalhos. O confronto começou com a chegada do senador Eunício Oliveira, que queria ocupar a presidência e dar início aos trabalhos. As mulheres resistiram, transformando o momento num protesto político contra a Reforma, contra a condução dos trabalhos e protagonizaram um ato de resistência, utilizando-se dos seus mandatos, e de uma estratégia de viabilizar cobertura jornalística para o momento político e a resistência a uma alteração na legislação trabalhista que cassa, literalmente, direitos conquistados ao longo de décadas pelos trabalhadores no Brasil.

 

Às cinco, juntou-se a senadora Kátia Abreu, do Tocantins, que embora peemedebista não apoia o presidente Temer e votou contra a Reforma Trabalhista ontem no Senado. Foi a única a tomar esta posição, entre os oito representantes do Tocantins na Casa.

 

Por esse motivo, amanheceu atacada, mais uma vez, pela ala mais reacionária do jornalismo tocantinense, especialmente na Web: a que se alimenta de ressentimentos para fazer a pior leitura que pode, sempre que pode. Incomodando menos do que de costume, Kátia apenas sentou-se à Mesa, num sinal de apoio às companheiras que resistiram por mais de quatro horas, obstaculando a votação.

 

Elas comiam marmitas no escuro, uma vez que Eunício Oliveira tomou o microfone, mandou cortar o som e as luzes do plenário. Até por isso foram ridicularizadas. O Brasil que come marmita com certeza não estranhou o comportamento delas. Nem os estudantes acostumados a atos de protesto. Ou o movimento social, ou o movimento negro, ou o movimento feminista. Ou em síntese qualquer movimento que saiba o que é ter que lutar por alguma coisa.

 

Dizer que o ato das senadoras é uma afronta à lei e à democracia é dar uma interpretação bem particular à lei e à democracia. A interpretação de quem, ocupando o comando da Casa, e estando afinado com um governo impopular, que chegou ao comando do País via golpe político. Numa casa política, não há que se estranhar atos políticos de ocupação de espaço.

 

A lei evolui para reconhecer direitos. Pelo menos deveria ser assim. No caso da Reforma Trabalhista, a lei regride para tirar direitos. Onde está o ataque à democracia no ato de resistência das senadoras? Prevaleceu, ao final, o voto da maioria.

 

Eunício Oliveira, eleito com 61 votos para presidir o Senado da República, já tem inquérito aberto contra si, por prática de corrupção. Antes disto já tinha uma citação importante na Lavajato. Não é, portanto, o arauto da verdade, da ética, da justiça e da legalidade.

 

O Brasil vive uma crise institucional sem precedentes. Onde toda a Ordem está pelo avesso. Onde a exceção parece ter se tornado a regra.

 

O ato de resistência das mulheres no Senado ontem, só orgulha as mulheres trabalhadoras que sabem o que é trabalhar de carteira assinada, acumulando jornada de trabalho, com todas as tarefas domésticas. Elas têm direito a uma representação corajosa como a que foi feita ontem pelas cinco senadoras da oposição e por Kátia Abreu.

 

O Senado é uma Casa eminentemente elitista, onde a visão do empresariado sobre as coisas, principalmente sobre as relações de trabalho, tende a prevalecer. Por isso, o vento de liberdade que soprou por lá ontem é muito bem vindo.

 

Nas palavras da senadora Gleisi, muito bem descrito no ato delas:  “Esta sessão presidida pelas mulheres aqui é em homenagem às mulheres que estão resistindo à reforma trabalhista ou às mulheres que, se essa reforma for aprovada, perderão seus direitos duramente conquistados na história (...) Destino às faxineiras, às enfermeiras, às professoras, às agricultoras, às mulheres terceirizadas, às muitas mulheres que trabalham aqui no Senado da República. É a elas que a gente oferece esta sessão aberta pelas mulheres e essa resistência”.

 

Eu, mulher trabalhadora, empreendedora, que assina carteiras e não tem mais carteira assinada, me sinto representada. Se houve desrespeito a alguma lei, em nome do direito, que bom! É assim que se muda o mundo. Ou se resiste a retrocessos.

 

Que venha a briga na Câmara, onde o governo Temer suspira ainda, na busca por sobrevivência diante do seu pífio desempenho.

 

(Atualizada às 15h10 do dia 12 de julho, com alterações)

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