A injusta execração pública de Vanda Paiva

Presa nesta terça-feira pela Polícia Federal, a ex-secretária Vanda Paiva vai responder a um processo por ter homologado licitação considerada fraudulenta. Antes porém, já é condenada de forma cruel..

Vanda Paiva, saindo da PF: execração pública
Descrição: Vanda Paiva, saindo da PF: execração pública Crédito: Da Web

Amigos, interrompo numa terça, o propósito de escrever apenas às segundas, pela urgência dos fatos.

 

Era véspera de Natal, como a que viveremos daqui há alguns dias, quando chegou uma mensagem no celular da então secretária de Saúde do Estado, Vanda Paiva.

 

Um médico, da equipe do HGP, estava informando que um medicamento fundamental para pacientes submetidos a cirurgias cardiovasculares iria faltar nas próximas 24 horas. Ele estava usando um dos últimos disponíveis.

 

Aborrecida com a notícia, já que tinha mandado fazer uma lista do que seria preciso no final do ano, Vandinha -  como é conhecida entre os amigos – pegou o telefone e ligou para um amigo, em um hospital da rede particular, em Goiânia. Perguntou se tinha a medicação e se ele poderia emprestar para a Sesau do Tocantins.

 

Não havia tempo, nem onde comprar com 24 horas. Por sorte, consideração, essas coisas de amizade, ele cedeu -  salvo engano -  60 doses. O problema é que era véspera de Natal. Como fazer chegar? O amigo, médico também, foi ao aeroporto Santa Genoveva despachar. Não conseguiu.

 

A medida extrema foi embarcar um funcionário no avião e mandar trazer a medicação à Palmas. A tempo de não se perder nenhuma vida.

 

Pano rápido.

 

Segundo ato: uma morte por falta de medicação

 

Era uma semana difícil para a ainda secretaria. Seu pai, já de idade, estava em situação grave e teria que ser submetido a uma cirurgia de emergência, para retirada de um tumor.

 

Enquanto isso, tramitava pelas mãos do Ministério Público Estadual mais uma ação para que o Estado adquirisse um medicamento – dos caríssimos -  necessários para quem faz tratamento de câncer. Acabou, tinha que ser licitado, e nos trâmites burocráticos da Sesau, demoraria a ser adquirido.

 

Sem cabeça pra continuar no Tocantins em meio ao problema familiar, ela foi ao governador pedir licença para viajar e acompanhar o tratamento do pai. Neste intervalo, saiu a ordem judicial para compra do remédio. E enquanto a secretaria estava fora transitou nos corredores da secretaria.

 

Quando Vanda Paiva retornou, ainda não havia sido providenciado. Segundo ela mesma contava há uma semana, tomou as providências quando chegou. Mas era tarde demais. Quando o remédio finalmente foi adquirido e chegou, o paciente com câncer em estado terminal havia falecido. O remédio poderia ter salvo sua vida? Não. Mas amenizaria sua dor.

 

Terceiro ato: uma vitória no Ministério da Saúde

 

O Ministério da Saúde divulgou em agosto do ano passado, uma informação positiva, entre tantas negativas da Saúde no Estado. O Tocantins foi um dos quatro estados brasileiros a bater a meta de realização de cirurgias eletivas. Por conta disto, recebeu verba a mais, uma espécie de bonificação.

 

Como se obteve este milagre, com apenas cinco salas cirúrgicas no HGPP, uma a mais do que tínhamos na época daquela horrorosa unidade hospitalar na antiga Arse 51? Plantões extra. E pagamento por cirurgias ortopédicas, negociados diretamente com a secretaria. Que nessa época tinha autonomia sobre os recursos da Saúde. Os cirurgiões, motivados e recebendo, reduziram a lista de espera a menos do que a meta exigia. Um ganho de gestão da secretaria.

 

Quarto ato: amanhecendo com a PF em casa

 

Terça-feira, 9 de dezembro, 6h30 da manhã. Relembrando as cenas da Operação Maet, ocorrida em 16 de dezembro de 2010, a Polícia Federal acordou Vanda Paiva nesta manhã. O motivo, uma ordem de prisão, pedida pelo Ministério Público Federal, para impedir a ex-secretária -  servidora de carreira do Estado -  de viajar para Portugal onde faria um doutorado.

 

Presa, segundo vai nos informes oficiais da PF, Vanda Paiva responderá por formação de quadrilha para fraudar uma licitação cujo objeto era a aquisição de coletores de resíduos líquidos (sangue e outros). Uma empresa venceu com preços menores, a segunda colocada recorreu e teve o recurso indeferido pela pasta.

 

Até aqui, o que se sabe é que Vanda responde por ter homologado uma licitação, considerada fraudulenta porque os coletores deveriam ser de algodão, detalhe que o edital omitiu, o que permitiu que a vencedora fornecesse o material em TNT. Este, considerado inservível.

 

O montante pago dos valores contratados não chega a R$ 1 milhão de reais. A fiança determinada para Vanda Paiva é de 1.500 salários mínimos. Pasmem. Algo em torno de R$ 1 milhão e 80 mil reais. Salvo engano, seu patrimônio também não chega a isto.

 

Cena final: um mínimo de compaixão

 

Desde que a Operação Pronto Socorro chegou ao conhecimento público as redes sociais foram tomadas por justiceiros de plantão. Gente indignada – e com toda razão -  com desvios e superfaturamentos na Saúde do Estado, foram literalmente “para cima”da ex-secretária, nome mais conhecido entre os seis presos na manhã desta terça. A razão só não assiste aos excessos, às piadas de mau gosto, ao desrespeito com o ser humano. Vanda, pela ligação estreita com seu grupo político, está neste episódio dando a outra face: é julgada pelos seus erros e pelos de outros.

 

A maioria dos que comentam nem sabem do que se trata, mas aproveita para falar em corrupção e atribuir à Vanda Paiva tudo que vai mal na Saúde hoje e todas as mortes ocorridas nos últimos meses no HGP. É uma conta enorme. Desumana, é certo, mas que não pode ser creditada a uma única pessoa. A uma gestora, no caso, ex-gestora.

 

Ordem de prisão, como se sabe, não é o fim deste processo. É o começo. Os advogados da ex-secretária devem buscar medidas para a redução da fiança,o relaxamento da prisão. Afinal, trata-se de uma pessoa sem antecedentes criminais -  responde a três ações cíveis por conta de fatos relacionados ao exercício do cargo, um deles a morte daquele senhor – e de endereço fixo.

 

Para evitar que saísse do País bastaria recolher seu passaporte e restringir sua movimentação.

 

Desde cedo lendo as coisas mais absurdas nos post’s do Twitter e do Facebook, me atrevo a erguer a voz para recomendar prudência, aos que a acusam de tudo.

 

Eu conheço Vanda Paiva. E sei que por certo ela cometeu erros na condução da Secretaria da Saúde para sair humilhada, pela porta da frente da Polícia Federal, direto para o IML e de lá para Casa de Prisão Provisória Feminina. Os juízes da Maet saíram em carros de vidro fumê, longe das câmeras.

 

Ouvindo por aí sobre estas e outras acusações que lhe fazem, não posso omitir o bem que sei que ela fez ao Tocantins à frente da Sesau. Ou o quanto se esforçou para melhorar as condições de saúde do Estado. Sei que ela tem uma filha, e que há anos economiza para pagar seus estudos. Sei que ela vendeu um apartamento há algumas semanas para bancar com parte dos recursos, os honorários do advogado constituído para defende-la nos processos que existiam até ontem.

 

Por tudo isso, me resta dizer: não execrem Vanda Paiva. Não a condenem antecipadamente sem o devido processo, a apuração dos fatos, o julgamento e a sentença. Ás vezes é nas manchetes e comentários que se destrói a a vida que alguém leva décadas para construir, em Palmas ou em qualquer lugar.

 

Que cada um pague pelos seus erros e pelos recursos públicos desviados nos mecanismos da corrupção. Mas cada um na sua medida. E no tempo correto: quando não houver mais qualquer dúvida sobre seus atos.

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