Amastha pede para enfrentar PF, MPF e Juiz de uma vez: o que é real na Nosotros?

O que teria levado o juiz federal a suspender a oitiva de Amastha em Palmas? E pedir o posicionamento do MPF sobre ouví-lo em Brasília num depoimento conjunto à três instâncias? Os bastidores...

PF fala da Operação Nosotros em coletiva
Descrição: PF fala da Operação Nosotros em coletiva Crédito: T1 Notícias

O prefeito Carlos Amastha chegou do exterior disposto a enfrentar a Operação Nosotros - nome que mereceu até piadinha no perfil do Twitter da ex-primeira-dama Solange Duailibe, de tão “espirituoso”- e longe de ficar acuado, foi às redes afirmar que não é bandido. Agora, pelo que se viu, busca na Justiça a oportunidade de ser ouvido em Brasília.

 

Na prática, quer levar o circo daqui para outro lugar e embora não admita, evitar o ranço paroquial entre si e a equipe que conduz as investigações contra o que a Procuradoria Federal chama de “quadrilha” instalada na prefeitura de Palmas, sob o comando -  segundo ela -  do próprio prefeito, que foi reeleito.

 

Tem que ter muita coragem, admita-se, para depois de oito meses de grampo autorizado (é o que se diz nos bastidores) chamar para si a responsabilidade de depor na frente da PF, Ministério Público e Juiz Federal. Todos de uma vez. Ou esclarece tudo e se livra das acusações, ou se enrola.

 

E qual a aposta de Amastha? De que não comanda quadrilha, não beneficiou empresa em licitação do BRT, nem forçou donos de áreas a entregarem seus patrimônios a amigos seus. Em síntese, as três acusações que circulam contra ele, que estão nas entrelinhas e às vezes nas linhas nuas e cruas dos documentos que a Polícia Federal preserva dos olhos da imprensa, mas que muito advogado já leu. E o que muitos sabem, muito se comenta.

 

Egon teria usado grampo para gravar Amastha por mais de meia hora

 

Segundo informações às quais o T1 Notícias teve acesso, a Operação Nosotros nasceu de uma denúncia do proprietário de terras Egon Just. É pioneiro, conhecido demais na cidade e dono de glebas de terra que confrontam as praias do Prata e Graciosa. Eu própria o ouvi na Câmara de Palmas, em votações polêmicas, combatendo o que considera exorbitância: o fato do prefeito Amastha ter decidido cobrar as áreas rurais dentro do Plano Diretor, como Urbanas. Isso faz o IPTU de quem pagava uma ninharia em Imposto Rural ir às alturas. 

 

É uma decisão política. Uns gostam, outros choram, por que o impacto é alto no bolso. Egon, por certo, não quer pagar nessa proporção. Afirmava, naquela ocasião, não ter a menor condição de quitar tal dívida, sem se desfazer de seu patrimônio. 

 

Até aí, não há na decisão do prefeito de cobrar, nenhum crime. Nem na do proprietário de tentar defender seus interesses.

 

A denúncia de Egon no entanto é mais grave: de que teria sido pressionado a entregar parte dessas terras a terceiros para ter o IPTU reduzido. Não li a cópia do documento, mas este é o resumo que circula. Servidores públicos teriam feito esse papel de pressão.

 

Parêntese.

 

E qual a participação direta do prefeito nesse suposto esquema, caso ele de fato tenha existido assim?

 

O que se sabe é que num feriado, em que Amastha teria mandado agendar audiências de meia hora com os 15 maiores devedores do IPTU, para tentar negociar e receber, compareceram 5. Trabalhando para a PF na investigação, Egon seria um dos recebidos e teria comparecido grampeado, conversando com o prefeito por cerca de 40 minutos, gravando. No meio dessa conversa, uma parte dela, Amastha teria sugerido a Egon encontrar um parceiro para viabilizar o pagamento da dívida, já que o proprietário das áreas afirmava não ter como quitar a dívida alta com a prefeitura. Nesta parte, estaria o crime do prefeito.

 

Fecha parêntese.

 

E por que a Polícia Federal está investigando cobrança de IPTU em Palmas? É a pergunta que muita gente se faz desde o começo da Operação Nosotros. Qual o link entre as áreas do BRT e essas áreas na margem do Lago? É uma das dúvidas para mim, ainda sem resposta.

 

O crime federal que justifica uma operação desse porte seria, por suposto, que Amastha e seu núcleo forte do governo, teriam agido para beneficiar terceiros na desapropriação de áreas ao longo do trajeto do BRT. Essa é a pergunta que precisa ser respondida: Advogaram outros interesses, que não os públicos? Quem, especificamente o fez?

 

Por hora, o fato é que não há conclusão de licitação para o BRT. A empresa que fez a primeira sondagem, não teria se beneficiado dela, segundo documentos aos quais o T1 teve acesso. Os recursos federais que a prefeitura pleiteava foram bloqueados na CAIXA e nunca chegaram a ser utilizados. Teimoso e disposto a fazer a obra, Amastha já havia dito à imprensa naquela briga memorável com Gaguim, que buscaria recursos internacionais, com contrapartida municipal para fazer o BRT.

 

Pano rápido…

 

Uma das coisas engraçadas é que o prefeito e secretários seus teriam -  segundo vai no bojo da Operação -  agido para que amigos comprassem as áreas no entorno do trajeto do BRT. Quem seriam os amigos? Petrelli, de Santa Catarina, Diego da União do Lago, Pablo do G10 e… Carlos Gaguim, um dos desafetos declarados de Amastha. Ciente dessa parte da acusação, o prefeito foi para as redes ironizar. Gaguim respondeu em entrevista no T1, dizendo que nunca, jamais, despachou com o prefeito para falar de seus negócios. Arrepiou com a conexão.

 

É por estas e outras que causa espécie e curiosidade, o que Amastha tem a dizer em Brasília, caso o juiz federal aceite ouví-lo lá. Segundo gente próxima do prefeito, ele está tranquilo e quer ir direto à fonte, para matar o assunto de vez nos próximos dias. “Se tem algo concreto contra ele, mostrem. Se não tem, tem que respeitar que o cara foi reeleito e precisa de tranquilidade para trabalhar”, ouvi em off, de gente da sua equipe.

 

Uma lembrança: Há quase dois anos, a PF prendeu a pedido do MPF, com todo estardalhaço do mundo a ex-secretária de Saúde Vanda Paiva. Até hoje, não há acusação formalizada contra ela. Vanda passou por uma crise de saúde, teve que enfrentar depressão e síndrome do pânico. Perdeu o pai e passou meses tomando remédios controlados. Agora é que tenta retomar a tranquilidade da vida cotidiana, trabalhando na sua área.

 

Esta semana após fazer uma palestra no Forjur, em Araguaína, Fórum promovido pelo Itpac para estudantes de direito, eu conversava numa roda com professores sobre este e outros casos “espalhafatosos”, que terminam sem muito encaminhamento prático.

 

Sobre a Nosotros, ainda resta muito a saber. A Polícia Federal é uma das instituições de maior credibilidade hoje no País, atua cumprindo mandados judiciais. Esta é uma imagem a ser preservada, acima de um ou outro erro circunstancial.

 

Vamos aguardar para ver até onde há fogo mesmo, ou fumaça. Onde há rojão, ou pó de track.

 

Se Amastha, que se auto denomina o novo na política está implicado em negócios escusos, ou se foi arrastado numa briga de grandes interesses, ainda é cedo para dizer, mas com certeza, o povo de Palmas merece saber. 

 

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