Áudio é real, revela a ponta de um iceberg e prefeita deve desculpas ao público LGBT

Fora do contexto ou editado, áudio em que prefeita expressa preconceito contra bar e público LGBT exige imediato pedido de desculpas... e mostra o que vem aí nesta campanha eleitoral

Ex-secretária nega ter recebido e vazado áudio
Descrição: Ex-secretária nega ter recebido e vazado áudio Crédito: Da Web

A crise em torno do embargo do Carnaval do Mujica amplificada ontem, sexta-feira 21, à noite no Twitter e Whatsapp, revela a fotografia de um momento político tenso para a prefeita da Capital, Cinthia Ribeiro. Mas como não há nenhum mal que não traga um bem, acontecendo agora, no começo do ano, a crise deste carnaval traz em si os sinais do que virá pela frente e naturalmente o antídoto para que a gestora, candidata a reeleição, tome medidas para sanar os problemas que ela revela.

 

O primeiro problema é que o áudio é real. Que está fora de contexto não resta dúvida. Foi gravado ano passado, na Crise Mujica, primeira temporada. Aquela que acompanhei e ajudei a mediar no Twitter e nos bastidores, para que fosse contornada, mostrou um problema corrigido este ano: o palmense não engole a exclusividade do Carnaval da Fé. O palmense gosta do carnaval real, cultura popular. Ou profano, se preferirem.

 

A prefeita ouviu o clamor popular, e via emenda de vereadores está realizando este ano um carnaval plural. Tem o Carnaval do Amor, tem o CarnaTaquaruçu, e as festas particulares.

 

Claro que existe um Código de Posturas no município que precisa ser seguido. E o Mujica não é exceção à regra. Não pediu alvará para usar a rua. Fato. Não tinha alvará do espaço interno. Fato. O resto é argumento de advogado que o juiz liminarmente indeferiu.

 

Ataques na rede mostra hostilidade que Cinthia vai enfrentar

 

Por mais que nesta sexta a prefeitura tenha dado a ordem de serviço para obras de infra-estrutura esperadas há anos e antecipado de fato o salário do servidor, a Crise Mujica deu seus gritos.

 

É algo que não chega no Taquari, onde o público é outro.

 

O que assistimos no Twitter desde a tarde de sexta é a exposição de toda carga de ódio nutrida contra a prefeita por desafetos e adversários. Políticos agindo nos bastidores, patrocinando peças criadas e disseminadas rapidamente. Ano eleitoral. Ressentimentos acumulados.

 

Mas o que há de real nisso tudo, além do áudio, que traz forte carga de preconceito?

 

Primeiro que a prefeita está mal assessorada. Ou não está ouvindo a assessoria. Explico: se o Mujica já foi crise ano passado, era de se esperar e escalar uma contenção de crise este ano. Alguém deveria ter acompanhando este processo, orientado e cobrado a documentação, antes da véspera do evento. Não aconteceu.

 

Segundo. Como é que a secretária de uma pasta, Adriana Almeida, da Seden, vai ao local do evento, sabendo que os promotores da festa não tinham a documentação, e dá a entender que estava tudo certo para a liberação do espaço? Enquanto a equipe de uma pasta executava a retirada do tapume, a secretária era gravada à luz do dia dizendo que não via impedimento. Vídeo usado de má fé mais tarde na rede para dar a entender que a festa estava liberada e abrir os portões.

 

Terceiro. A nota, redigida às pressas e disparada para os veículos, tratava homossexualidade como “opção sexual”. E não orientação. Uma diferença enorme. Existem problemas aí no entendimento e no diálogo com um público importante, e detentor de uma parcela significativa de votos na comunidade. A nota foi corrigida rapidamente, mas revelou um lapso.

 

Áudio 1 e outros que virão

 

Desde novembro se ouve falar destes áudios nos bastidores. Dos apelidos que a prefeita teria utilizado para se referir a políticos. Parceiros. Gente como os senadores Eduardo Gomes e a senadora Kátia Abreu envolvidos e recebendo áudios e prints.

 

O mais grave e que deve acender o alerta no Paço Municipal é que este é o primeiro de outros áudios que virão. A ponta de um iceberg. E que vão cair do céu e do nada nos momentos mais críticos desta disputa eleitoral. Não há como ser diferente.

 

Procurei logo cedo ouvir a ex-secretária de comunicação, exonerada por Cínthia ano passado. Nos bastidores o vazamento destes áudios é supostamente atribuído a ela, pois teriam sido trocados em conversas particulares entre a gestora e a então secretária.

 

Deborah Lobo me atendeu prontamente para dizer que este áudio não foi enviado para ela pela prefeita. “A Cinthia já me falou vários absurdos, mas esse aí não”, resumiu. Ou seja, outros absurdos teriam sido ditos.

 

Iniciativa privada deve ser incentivada a fazer seus eventos

 

Outra discussão que toda esta Crise Mujica, segunda temporada traz é sobre o papel do município e o da iniciativa privada em eventos musicais e festas populares.

 

Está passando da hora do município, através de legislação própria, discutida na Câmara e com segmentos da sociedade organizada, incentivar que a iniciativa privada faça estas festas.

 

O Carnaval Popular é uma grande fonte de renda e atração turística. Sempre foi. Em Palmas, por lei, está instituído o Carnaval da Fé. De aliado seu, a prefeita teve que ouvir em recente reunião de vereadores, que ela é a evangélica que trouxe o Carnaval profano de volta a Palmas. Isso depois que Carlos Amastha, o suposto ateu, instituiu o Carnaval da Fé.

 

O que fica claro é que a prefeita Cinthia Ribeiro caiu numa grande armadilha. Uma mistura de falta de assessoria e agentes políticos hipócritas (um sabido homófobico tirando fotos no local e faturando popularidade) de um lado, e a utilização da expressão de uma opinião infeliz em áudio de outro.

 

Deixando claro: a fala da prefeita é o retrato do pensamento conservador dela. Reflete preconceito. Requer imediato pedido de desculpas à comunidade LGBT.

 

O resto é história.

 

 

 

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