Com a caneta na mão, governador candidato gera o caos contratando e exonerando

Ao lançar-se pré-candidato a governador, apresentando-se como um gestor com experiência administrativa, Carlesse mostrou o contrário: desconhecimento completo do funcionamento da máquina

Carlesse reunido com seu secretariado
Descrição: Carlesse reunido com seu secretariado Crédito: Secom Tocantins

O governador interino Mauro Carlesse (PHS) provocou o caos administrativo em hospitais, escolas e repartições públicas ao exonerar, sem conhecimento e sem critério, milhares de servidores públicos nos últimos atos publicados no Diário Oficial.

 

Prevalece até o momento a mentalidade tacanha expressa pelo seu vice, deputado Wanderlei Barbosa, em pronunciamento na Assembleia Legislativa, ao tentar justificar que demitidos são contratados e comissionados que seriam “cabos eleitorais”.

 

Não tenho dúvidas de que existam contratações e nomeações de pessoas que não trabalhem. Ou melhor, que não façam nada além de articulação política para os deputados que os indicaram. Cabia um levantamento detalhado. Coisa que o gestor de cada pasta faria em uma semana. Se não bastou a primeira em que Carlesse foi governador interino, bastaria mais uma. E não se veria tamanho estrago na Capital e no interior do Estado.

 

Ao lançar-se pré-candidato a governador, apresentando-se como um homem da iniciativa privada e com experiência administrativa, Mauro Carlesse mostrou o contrário: desconhecimento completo do funcionamento da máquina administrativa e uma assessoria sofrível.

 

Fora isso, o que justificaria tamanhos absurdos? Não se concebe mandar embora enfermeiros, maqueiros, vigias de escolas, professores em final de quarto mês do ano letivo. E deixar pacientes sem atendimento, unidades escolares desfalcadas, fora toda a paralisia que já se vive com as suspensões de pagamentos feitos a conta gota e com a régua de outros interesses. 

 

Sabidamente o principal é que o grupo do governador interino busca elegê-lo em 3 de junho, o que torna ainda mais controverso o ato de Carlesse, de posse da caneta de governador, usá-la para exonerar e, ao mesmo tempo, contratar num período em que isso deve ou deveria estar vedado em lei.

 

É de uma inconsequência sem limites assumir o comando do Estado e em poucos dias fazer o que se vê no Diário Oficial e na aprovação por parte da Assembleia Legislativa onde o governador/presidente tem ampla base de apoio, um empréstimo que aumenta a dívida do Estado e dá o FPE como garantia.

 

Carlesse não entendeu que, de fato, as finanças do Estado estavam no limite. É tanto que sua primeira declaração foi dizer que não havia caixa para pagar a folha, no dia que assumiu o governo pela primeira vez. Ignorando que este caixa só se faz com os repasses do final do mês e início do outro.

 

É de pasmar também, a qualquer observador mais atento, o fato de que antes de entregar de volta o comando do Araguaia a Marcelo Miranda, o governador interino tenha escolhido quem mandou pagar antes de sair. Não pagou todos os servidores na faixa salarial que anunciou que faria.

 

Em ato discricionário, deixou de fora, por exemplo, todos os comissionados que serviam aos gabinetes do governador e da vice-governadora.

 

Agora, o que se escuta é que além da exoneração sem critério, que jogou na rua gente que está uma vida toda no serviço público, ainda que sem o respaldo do concurso, não há data certa para pagar os que foram dispensados.

 

Limpando a folha, descarregando os contratos - que poderia fazer com tranquilidade desde que tivesse agido com o critério de começar pelos que de fato não trabalham, e seguir pelos que são dispensáveis - o que intenta o governo interino? Abrir a cota de nomeações para os aliados.

 

É o jeito mais antigo de fazer política: puxando pelo beiço. Ou pela necessidade.

 

O Tocantins não merece passar por isso. O cidadão não merece. Nem na ponta de cá, onde estamos nós, os que recebem a prestação de serviços, nem na ponta de lá, onde estavam os que trabalham. Os que realmente trabalham. Tanto que sua falta já se faz notar.

 

Os pacientes deitados no chão do HGP, filmados no dia em que enfermeiros exonerados já não foram mais trabalhar, não me deixam mentir.

 

Parêntese.

 

No domingo, que valeu por dois, a Capital foi palco de diversas convenções. 

 

Numa delas, a do PSDB, que ficou de fora do processo oficialmente, havia uma disputa entre os que queriam levar o partido para o palanque de Carlesse e os que não queriam.

 

Ao que se sabe, o senador Ataídes tinha apenas três prefeitos fechados com sua candidatura. Por outro lado, o deputado Olyntho Neto queria ser indicado o vice, com o apoio da deputada Luana Ribeiro, presidente da Assembleia.

 

No meio de toda a condução, surge a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, defendendo que o partido indicasse a vice de Amastha, repetindo a dobradinha da Capital, na disputa suplementar.

 

Entrou, foi abraçada por um Ataídes emocionado que lhe pediu perdão, e fez o discurso de defesa de que o partido não optasse por integrar um governo de 40 dias - que é o que de fato, Carlesse tem - mas não foi ouvida.

 

De lá saíram Olyntho e Luana ainda na tentativa de costurar o acordo com o governador interino. Coisa que o senador conseguiu barrar fechando a ata sem a indicação.

 

Fecha parênteses.

 

Esta noção, que só tem quem toma um distanciamento mínimo do processo, falta aos que estão muito dentro dele.

 

Carlesse escreve a história da sua passagem pelo governo com atos de extrema repercussão negativa. Por mais que possa alegar boas intenções, o efeito de seus atos não o favorece.

 

A memória dos políticos é falha por que falta um pouco de observação histórica.

 

O palanque de Carlesse, enorme como está e com tantos políticos “de peso”, lembra outras experiências desastrosas.

 

Se tirar Carlesse e colocar Sandoval, me disse um observador, fica igual o Sandoval Cardoso em 2014. Fica igual ao de Carlos Gaguim em 2010 e bem parecido com o de Marcelo Lelis em 2016.

 

Deputados deveriam se lembrar que não basta ter dinheiro e dar “estrutura” aos líderes. É preciso combinar com o povo.

 

Este povo que tem filhos em escolas públicas, que depende do HGP e de outros hospitais. Que tem sua vida ligada de uma forma ou outra ao que acontece no governo do Estado.

 

Está muito nítido que o grupo que ocupou o Araguaia trabalha para si. E aposta na falta de memória das pessoas.

 

Ouso dizer que não é bem assim. E que vale a pena repensar.

 

É isso ou colher bem alí, na curva do dia 3 -  se Gilmar Mendes deixar -  o resultado de um plantio tão desastroso.

 

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